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Capital

Ameaçado por 3 anos, empresário diz ter entregue casa sob mira de arma

José Carlos de Oliveira contou à polícia como se endividou e “perdeu” dois imóveis; ele também entregou vídeo à polícia

Anahi Zurutuza, Marta Ferreira e Kerolyn Araújo | 25/10/2019 13:31
Empresário se emocionou em vários momentos ao dar entrevista depois de depoimento na polícia (Foto: Henrique Kawaminami)
Empresário se emocionou em vários momentos ao dar entrevista depois de depoimento na polícia (Foto: Henrique Kawaminami)

O empresário José Carlos de Oliveira, ex-proprietário de imóvel no bairro Monte Líbano onde foi apreendido arsenal de guerra, fio da meada para a operação Omertà, se considera um sobrevivente. Em depoimento à Garras (Delegacia de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), ele revelou como conheceu Jamil Name Filho, 42 anos, como se endividou e “perdeu” dois imóveis para os Name, apontados pela força-tarefa como líderes de milícia armada.

Também nesta sexta-feira (25), ele entregou à polícia vídeo que diz ter sido gravado em meados de 2017, antes de encontro com Jamilzinho para a assinatura de contrato que, segundo ele, forjou a venda do imóvel (confira abaixo). No material, dividido em dois pedaços, um de pouco mais de 3 menos e outro de 12 minutos, relata uma rotina de ameaças e de cobranças que considera "a maior injustiça" pela qual uma família pode passar.

Detalha as negocições, afirmando diversos valores. Chega a dizer que a dívida somou R$ 2 milhões, de um valor inicial que, segundo ele, não passou de R$ 300 mil.  A veracidade da data de gração e as informações relatadas estão sob investigação, apurou a reportagem. 

O empresário na área de mercado de capitais e construção civil em Campo Grande contou que viveu três anos sob ameaça até ter a casa do Monte Líbano “tomada” pela família alvo da Omertà. No vídeo, diz ter perdido ao todo 9  mil metros quadrados, entre uma área na Avenida Guaicurus, e a casa onde foi apreendido o arsenal. Nas palavras dele, pagou em torno de R$ 3 milhões, para quitar um valor bem menor.

José Carlos alega que nunca denunciou as negociações com os Name por medo. Ele disse que teve muita dificuldade de encontrar um advogado que aceitasse representá-lo e defendê-lo, se for o caso, porque nenhum profissional que procurou ousou assumir a causa. 

Nesta sexta-feira (25), o empresário prestou depoimento acompanhado do advogado Rhiad Abdulahad. Ele havia sido intimado várias vezes pela Garras e não compareceu. Portanto, hoje, foi alvo de condução coercitiva.

O empresário conta que foi abordado pela polícia a caminho do escritório do defensor, mas garante já havia decidido de prestaria depoimento. “Alguém tem que parar isso”, afirmou sobre o trabalho da Garras e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) que resultado na Omertà.

José Carlos de Oliveira disse ainda, em entrevista na porta da delegacia, ter tomado coragem de revelar tudo o que sabe depois dee ter o nome citado pela imprensa, mais especificamente depois do flagrante das armas na casa, chamada pela investigação de paiol, em maio deste ano.

“Queria um pouco de Justiça, não tenho mais vida, já perdi até a saúde. Se for preciso entregar a minha vida para que isso pare, eu vou entregar, para que meus filhos consigam andar em paz nessa cidade”, completou sobre acreditar que com as revelações feitas volta a ser alvo. O empresário diz esperar que outras pessoas tenham a mesma coragem.

Viatura bloqueou rua no meio da tarde para operação policial no dia 19 de maio deste ano (Foto: Direto das Ruas)
Viatura bloqueou rua no meio da tarde para operação policial no dia 19 de maio deste ano (Foto: Direto das Ruas)
Armamento foi encontrado em casa no Monte Líbano, que a Omertà chama de paiol (Foto: Clayton Neves)
Armamento foi encontrado em casa no Monte Líbano, que a Omertà chama de paiol (Foto: Clayton Neves)

Dívidas – Resumidamente, José Carlos revelou que começou a se endividar em 2001, quando começou a frequentar casas da caça-níqueis em Campo Grande. Anotou que pertenciam aos Name. Ele admitiu vício em jogos de azar e relatou ter conhecido Jamilzinho num desses locais.

Para quitar débitos com as casas de jogos, ele chegou a entregar apartamento que fica na Rua Pedro Celestino, afirma.

Em 2014, segundo o depoente, o empresário diz que precisou de dinheiro e pegou emprestado com Name Filho. Naquele ano começaram as ameaças. “Já tive arma apontada para a cabeça”.

A dívida tomou proporção incontrolável, os juros superavam R$ 1,6 milhão, em 2016. “Cada vez que eu tentava pagar, só aumentava”. Foi então, ainda conforme declarou José Carlos, que os Name lhe deram ultimato. Ele teria até 30 de março do ano seguinte para entregar a casa do Monte Líbano ou pagar o que devia.

Além de perder o imóvel, o depoente narra que foi exilado para não ser morto. “Vinha escondido para Campo Grande para ver minha família”. Mesmo em São Paulo, ele afirma que continuou sendo ameaçado.

O contrato – Além de gravar o vídeo onde fala que quer deixar registrado que podia ser assassinado no dia da assinatura do contrato de compra e venda, o empresário diz que ficou sob a mira de um espingarda e que na mesa de Jamilzinho, havia um taco de baseball, sem contar os homens armados dentro do escritório.

Ele diz ter planejado tirar a própria vida dentro no local do encontro para que os “Name” tivessem que explicar aquele corpo, mas que não conseguiu.

José Carlos abraçado com o capitão Xavier na sede da Garras (Foto: Henrique Kawaminami)
José Carlos abraçado com o capitão Xavier na sede da Garras (Foto: Henrique Kawaminami)

Consolo - José Carlos esbarrou na delegacia com o capitão da Polícia Militar Paulo Roberto Teixeira Xavier. PX, como era chamado pelos integrantes da milícia, de acordo com as investigações, se apresentou como o pai de Matheus Coutinho Xabvier, morto aos 20 anos no lugar do pai, segundo a polícia. Os dois se abraçaram e choraram antes de deixar a Garras. 

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