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Aos 4 anos, Aldeia Paravá sentiu pandemia como quebra de rituais

Cancelada em abril, única comemoração coletiva da comunidade ficou como esperança para 2021

Aletheya Alves | 31/12/2020 16:09
Prática realizada pelos homens da comunidade, dança terena intitulada "Kohixoti Kipaé", em 2019. (Foto: Arquivo Pessoal)
Prática realizada pelos homens da comunidade, dança terena intitulada "Kohixoti Kipaé", em 2019. (Foto: Arquivo Pessoal)

Fotos do último ritual coletivo, que remete às tradições indígenas terena, ficam na memória como ansiedade por um 2021 melhor na Aldeia Paravá, localizada entre o Bosque Santa Mônica e Vila Bordon. Em abril, a única festividade tradicional foi cancelada devido à pandemia do novo coronavírus.

Enquanto o coronavírus segue como realidade, o cacique Silvio Hotencio Fialho Terena, de 43 anos, explica que o dia 19 de abril, em que é celebrado o Dia do Índio, foi frustrado em 2020 e fica como esperança para o próximo ano. Desde 2016, quando a aldeia foi fundada, essa é a única data comemorada de forma tradicional, de acordo com Silvio.

Os rituais de preparação começam a ser iniciados duas semanas antes do dia 19 com treinamentos e estruturação das atividades, que são centradas em danças. Conforme explicado por Silvio, ainda sem matéria-prima disponível por aqui, os elementos que irão compor as roupas são encomendados de aldeias localizadas na região de Aquidauana.

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Se você pedir para eu fazer alguma coisa agora não consigo, precisamos pedir de lá. Pedimos material e fazemos, cortamos, pintamos. Dá diferença na festa porque aqui é cidade, Silvio explica.

Enquanto a expectativa para o próximo ano continua firme, Silvio diz que o resgate e inclusão das práticas tradicionais vêm sendo trazidas de pouco a pouco para a aldeia que nasceu há pouco tempo. “Hoje são mais de 70 famílias aqui, quando começamos era difícil. Mas todo ano a gente faz essa comemoração, não é porque a gente tá na cidade que deixamos de ser índio”.

Para a prática das mulheres é necessário solicitar materiais para roupas e pinturas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Para a prática das mulheres é necessário solicitar materiais para roupas e pinturas. (Foto: Arquivo Pessoal)

Relembrando de anos atrás, quando vivia na Aldeia Bananal em Aquidauana, o cacique destaca que cada um fazia os rituais semanalmente e que essa prática se torna difícil dividindo a região com outros bairros em Campo Grande. “Aqui o pessoal ficou meio acanhado porque é cidade. O ritmo daqui é bem diferente do ritmo da aldeia”.

Por aqui, todas as atividades são celebradas em um campo aberto e reúnem participantes de idades variadas. Preocupado com o cenário que já se aproxima, Silvio explica que a responsabilidade de manter a simbologia ativa enquanto processo coletivo recai sobre suas mãos.

“Para não acabar depende de mim, se eu deixar acabar, todo mundo vai esquecer. É minha responsabilidade não acabar. Para ser cacique é preciso entender o que é indígena”, diz.

Campo de futebol utilizado para cerimônias coletivas. (Foto: Kísie Ainoã)
Campo de futebol utilizado para cerimônias coletivas. (Foto: Kísie Ainoã)


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