Após 20 anos trabalhando para empresa, há 6 meses taxista havia comprado carro
Luciano Barbosa foi assassinado depois de uma corrida e irmão conta que ele trabalhava mais para pagar prestações do veículo
Desde os 24 anos de idade, Luciano Barbosa Franco já rodava Campo Grande como taxista, mesma profissão do pai, mas sempre como empregado. Há 6 meses, já com 44 anos, finalmente conseguiu comprar o carro que sonhava, um Virtus, veículo próprio depois de 20 anos de trabalho. Assim, além de taxista, passou a prestar serviços também por aplicativos. Ontem, o último chamado foi pelo 99 Pop, saiu para uma corrida até o Jardim Carioca, e não retornou.
Experiente, sempre teve muito receio de assaltos, mas para pagar as prestações do carro, passou a trabalhar mais, conta o irmão Lucas Barbosa, o caçula da família de 3 filhos. “Ele era muito cuidadoso com a segurança”, diz, visivelmente consternado ao acompanhar a perícia no corpo do irmão, morto a tiros depois de aceitar a corrida, às 23h30 de ontem.
Apoiado por mais de 30 taxistas que também seguiram até local assim que souberam do crime, Lucas diz que a fé é o único conforto. "Para quem crê em Deus é menos difícil", comenta.
Hoje, os carros dos colegas rodam com a inscrição "luto" no vidro traseiro. Geraldo Jesus é taxista há 25 anos, mas diz que muita coisa mudou por conta da insegurança. "Eu rodo 13, 14 horas por dia, mas não rodo à noite", comenta.
Denise Vargas começou no ofício há 9 anos. Hoje aos 41, segue o mesmo cuidado do colega e reclama dos riscos para quem recorre aos aplicativos para aumentar a renda. "Eu nunca usei aplicativo e nunca vou usar porque não tem segurança nenhuma. Mas eles são forçados para ganhar mais", justifica.
Gil Soares tem 50 anos e já foi assaltado duas vezes, mas sem agressões. Hoje, diz que não é difícil se imaginar no lugar de Luciano. "Se já e complicado enfrentar com pessoas que a gente não conhece, pensa com alguém que convive com gente, da mesma profissão".
Desaparecido - As últimas 12 horas foram desesperadoras para a família de Luciano. Às 23h30, ele foi chamado para uma corrida no Shopping Campo Grande, às 24h05 o aplicativo do carro foi desligado. Logo a família suspeitou e às 3h52 a irmã mais velha registrou Boletim de Ocorrência do desaparecimento.
Segundo ela, na última conversa com Luciano ele chegou a avisar que havia aceitado uma corrida, apesar de achar “suspeita”, com destino ao Jardim Carioca.
Imediatamente, as buscas começaram e por volta das 10h30 carro e corpo foram encontrados em regiões cerca de 15 quilômetros distantes. O Virtus estava sem pneus na Bairro Santa Emília e o corpo de Luciano em matagal na BR-262, na altura do Núcleo Industrial, com marca de tiro na cabeça.
Consternados pela violência que há muito tempo não fazia vítimas entre taxistas de Campo Grande, o grupo rezou Pai Nosso em homenagem ao colega assassinado.
A principal linha de investigação é latrocínio, roubo seguido de morte. Luciano deixa uma filha de 17 anos.