Após deixar 400 pessoas na fila, Santa Casa retoma transplante de rim
Após paralisia de um ano e três meses, a Santa Casa de Campo Grande anunciou nesta quinta-feira a retomada dos transplantes de rim. Hojé é Dia Mundial do Rim. O serviço foi suspenso em dezembro de 2013, após registro de sete mortes, deixando 400 pessoas na fila. O Ministério da Saúde autorizou a retomada em julho do ano passado, mas somente agora, conforme a direção, o hospital está apto para o procedimento.
De acordo com o diretor técnico da Santa Casa, Luiz Alberto Kanamura, a demora foi para encontrar médicos especialistas. “Foi a falta de nefrologistas. Primeiro, que tivesse capacitação técnica. Segundo, que tivesse interesse em agregar uma equipe de transplante, tem que ficar disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana. Quem se forma em nefrologia, a minoria quer o transplante. Preferem a terapia renal substitutiva”, afirma.
Apesar da dificuldade, a equipe terá mais médicos do que o exigido pelo Ministério da Saúde. Segundo ele, a exigência é dois nefrologistas, mas o hospital tem quatro, com previsão de acréscimo de mais 3 a partir do ano que vem. Até então, era somente um profissional. O ministério exige dois urologistas, porém, a equipe tem cinco.
Na parte de infraestrutura, há um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para transplantados, dois apartamentos com leitos para recuperação pós-cirurgia e seis leitos de enfermaria para rever pacientes transplantados com complicações.
Sobre os óbitos após transplantes registrados em 2013, o diretor técnico afirma que o ministério já avaliou. “Superamos isso”, diz. Na ocasião, foi informado que as mortes seguidas ocorreram por conta de um doador com uma bactéria não identificada antes da cirurgia.
Vivo ou morto – O presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), Wilson Teslenco, afirma que o hospital aguarda somente a captação de um órgão para retomar, de fato, os transplantes. “Convocamos os renais crônicos candidatos ao transplante, que possuem doador vivo, para que procurem o serviço de nefrologia da Santa Casa para que sejam tomada as providências para a realização desse transplante”, diz.
Conforme o diretor técnico do hospital, a preparação para o transplante intervivos exige uma série de exames e leva de semanas a um mês. Já a doação do órgão após constatada a morte cerebral deve ser feita em, no máximo, 30 horas. “Mas o ideal é que seja entre 12h e 24h”, explica Kanamura.
Fila – Com capacidade para até 15 pessoas, a sala para hemodiálise recebe pacientes que ficam quatro horas por dia atados a uma máquina. Cabe ao aparelho, a filtragem do sangue, função que deveria ser feita pelo rim.
Conforme a nefrologista Patrícia Zanata, em tese, a solução para todos seria um órgão novo. Contudo, muitos não têm condições clínicas de passar por um transplante. Há cinco meses, José Brunho Ribeiro, 54 anos, viaja três vezes por semana de Corguinho até Campo Grande. Ele conta que são quatro horas de hemodiálise e que não pode trabalhar.
De acordo com a coordenadora da Central Estadual de Transplante, Claire Miozzo, o número de pessoas que aguardam por um transplante de rim não está atualizado. A explicação é porque as cirurgias foram suspensas desde dezembro de 2013 e o cadastro é feito pela equipe responsável pelo transplante.
“A medida que vai consultando o paciente, verifica se está apto para fazer transplante e o inscreve na fila. Temos clareza que esse número de 400 pessoas não é real”, salienta.
Em 2013, o hospital realizou 46 transplantes de rins. Daí em diante, foram 26 órgãos captados, mas enviados para outros Estados.
Córnea e coração – Os transplantes de córneas foram suspensos desde outubro do ano passado, após determinação da Vigilância Sanitária estadual. O hospital deve fazer adequação de procedimento e estrutura física. Quanto ao coração, não háprevisão de quando será retomada essa modalidade de transplante.