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Capital

Após derrubada de casas em área invadida, moradores passam noite ao relento

Moradores dormiram em cadeiras, redes, colchões ao ar livre e duas estruturas com lonas foram improvisadas

Gabriel de Matos e Idaicy Solano | 07/08/2023 11:29
Colchão no chão onde estavam levantadas as casas de madeira das famílias (Foto: Marcos Maluf)
Colchão no chão onde estavam levantadas as casas de madeira das famílias (Foto: Marcos Maluf)

A noite seguinte ao despejo feito pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) da Prefeitura de Campo Grande foi ao relento para cerca de 55 pessoas que viviam de forma irregular em moradias improvisadas. A ação gerou revolta para as famílias que estavam no terreno localizado na Rua Lagoa Santa, no bairro Lagoa Park.

Esta foi a segunda desocupação em menos de uma semana no local. O terreno em questão pertence à Prefeitura de Campo Grande. Na quarta-feira (2), a primeira ação para desocupação foi realizada.

Na ocasião, os moradores alegaram que não foi apresentado mandado judicial antes da ação e que os guardas agiram de forma truculenta, inclusive derrubando barracos de madeira. A situação se repetiu segundo os moradores no domingo (6).

Fogão a lenha com chaleira e panela ao ar livre (Foto: Marcos Maluf)
Fogão a lenha com chaleira e panela ao ar livre (Foto: Marcos Maluf)

As cerca de 55 pessoas que viviam no local dormiram em redes, cadeiras e colchões ao ar livre. Após a derrubada de todas as moradias de madeira e ferro improvisadas, eles chegaram a montar estrutura com duas lonas. O intuito era que ao menos as crianças e as mulheres grávidas não ficassem ao relento. Já outros dormiram embaixo de árvores.

A reportagem esteve no local por volta das 10h desta segunda-feira e observou cerca de 20 pessoas. A maioria dos moradores estava no trabalho e parte das crianças nas escolas ou Emei (Escola Municipal de Ensino Infantil).

Uma das moradoras, a entregadora Leila Pantaleão Silva, de 35 anos, informou que não há intenção de reerguer moradias improvisadas por enquanto. Ela disse que eles pretendem procurar a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul para requerer o direito de permanecer no local.

Não vão fazer mais barracos por enquanto, porque a Guarda veio aqui mais cedo, fizeram fotos e orientaram a não construir mais barracos", explicou Leila.

Leila Pantaleão Silva, de 35 anos, é entregadora e líder do grupo (Foto: Marcos Maluf)
Leila Pantaleão Silva, de 35 anos, é entregadora e líder do grupo (Foto: Marcos Maluf)

A entregadora destacou que para abrigar as famílias, eles precisam de cerca de 60 moradias ou lotes. A mulher de 35 anos exaltou ainda que os moradores têm cadastro na Emha (Empresa Municipal de Habitação) e Agehab (Agência Estadual de Habitação).

Outra liderança dos moradores, a empregada doméstica Eliane Lima de Oliveira, de 42 anos, afirmou que as famílias presentes no local não querem moradia de graça, mas sim um teto. "A gente não quer nada de graça, é só dividir o terreno que a gente paga o IPTU, os impostos e pronto", alegou.

Não tem bagunça, não tem baderna. A gente só quer um direito de moradia. Porque todo mundo aqui, a maioria são mãe e pai solos", disse Eliane.

Eliane Lima de Oliveira, de 42 anos, também é uma das lideranças dos moradores (Foto: Marcos Maluf)
Eliane Lima de Oliveira, de 42 anos, também é uma das lideranças dos moradores (Foto: Marcos Maluf)

Ameaças - "O policial chegou, tirou a bomba e colocou o dedo no pino. Ele disse que soltaria a bomba com meu filho dentro do barraco", foi assim que a dona de casa Elisangela Magalhães Silva, de 44 anos, definiu a abordagem da Guarda Municipal. Com ela, moravam quatro dos oito filhos (um de dois, um de cinco, um de oito e um de onze anos de idade). A mulher informou que passou a noite embaixo de árvore.

No momento da chegada dos agentes de segurança pública, a auxiliar de produção Nayara Santos, de 23 anos, disse que estava na moradia improvisada da irmã, a autônoma Jainy Santos Rondon, de 29 anos. A mulher de 23 anos está grávida de cinco meses e tem mais dois filhos.

A autônoma Jainy Santos Rondon, de 29 anos, estava com a irmã no momento da abordagem (Foto: Marcos Maluf)
A autônoma Jainy Santos Rondon, de 29 anos, estava com a irmã no momento da abordagem (Foto: Marcos Maluf)

Ela detalha que passou mal durante a abordagem porque os policiais militares ameaçaram prendê-la e levar as crianças para o Conselho Tutelar. "Vocês estão presos e a guarda está vindo aí, diziam", conta. Também havia a promessa de que a Assistência Social viria, mas nunca chegou.

Jainy Santos relatou que havia um funcionário da Emha afirmando que era para sair por "bem ou mal". A autônoma alegou que não tem lugar para ir.

Assistência - A SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) de Campo Grande destacou há uma técnica e uma assistente social no local da invasão atendendo das famílias. A equipe direcionada é do Cras da Vila Gaúcha (Centro de Referência de Assistência Social).

Além disso, foi informado em nota que nenhum morador aceitou acolhimento na Uaifa 1 (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias I), localizada no Jardim Veraneio.

Posicionamento da Prefeitura - A reportagem fez novos questionamento à Prefeitura de Campo Grande nesta segunda-feira (7). Até o momento, não foi encaminhada nota de retorno. O espaço segue aberto.

Nesse domingo, o Campo Grande News pediu posicionamento para o Executivo Municipal. Em nota, a Sesdes (Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social) alegou que acompanhou a operação de desocupação de área de preservação pública a pedido e em apoio a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano).

"A medida é em cumprimento de sentença de desocupação, sendo a invasão de área pública um ato infracional na esfera administrativa, conforme o Código de Polícia Administrativa e que, apesar da resistência dos invasores, não foi registrado o uso da força por parte do efetivo da GCM", afirma Sesdes em nota oficial.

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