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Após morte de colega, professores protestam contra negligência em perícia médica

Ato em frente à sede do IMPCG reuniu familiares e profissionais da educação

Mylena Fraiha | 23/03/2023 20:00
O ato aconteceu em frente à sede do IMPCG (Foto: Juliano Almeida)
O ato aconteceu em frente à sede do IMPCG (Foto: Juliano Almeida)

A morte do professor Tiago Bianchi comoveu e indignou professoras e professores da rede municipal, que decidiram se reunir no final de tarde desta quinta-feira (23) para protestar contra o processo de avaliação médica feito pelo IMPCG (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande). O ato aconteceu em frente à sede da instituição, localizado na Travessa Rosa Pires, esquina com a Ernesto Geisel.

De acordo com o relato de docentes que compareceram ao protesto, muitos profissionais da educação estão sendo obrigados a retornar às salas de aula doentes, mesmo após passarem pela banca de avaliação médica do IMPCG e apresentarem laudos médicos que comprovem a impossibilidade de retorno às salas de aula. Tiago foi um deles.

A professora Daniele Cristine, de 45 anos, é amiga de Tiago e trabalhou com ele durante cinco anos. Ela relatou que está indignada com o processo de avaliação médica que foi feito pela junta do IMPCG no caso do professor. “Queremos que a junta de avaliação da perícia médica seja feita com respaldo. Porque se eu tenho um médico que me acompanha há 15 anos e fala que eu estou doente e não tenho condições de trabalhar, como é que um médico em dez minutos diz para mim que aquele primeiro médico está errado? Não faz sentido”.

A professora Daniele Cristine explica que trabalhou durante cinco anos com Tiago (Foto: Juliano Almeida)
A professora Daniele Cristine explica que trabalhou durante cinco anos com Tiago (Foto: Juliano Almeida)

A irmã de Tiago, Maria Bianchi, também é professora e relatou que está indignada com o tratamento negligente que foi dado ao caso do irmão mais novo. “Além da dor, tem a revolta. Ele não merecia passar pelo o que passou. Ele realmente estava doente”.

Segundo ela, Tiago era acompanhado por um psiquiatra e tinha laudos médicos que foram prestados por um psiquiatra, que comprovaram o estado de saúde mental do professor. “Ele estava sendo muito bem cuidado. Mas todos estavam vendo que ele precisava se afastar da sala de aula. O pânico dele era sala de aula”.

A irmã do falecido professor, Maria Bianchi, explica que ele fazia tratamento psiquiátrico (Foto: Juliano Almeida)
A irmã do falecido professor, Maria Bianchi, explica que ele fazia tratamento psiquiátrico (Foto: Juliano Almeida)

Mesmo doente, Maria afirmou que o irmão não queria parar de trabalhar. O intuito era ser enquadrado na Readaptação e ser transferido para um setor administrativo da escola. “Ele queria ser transferido para outro setor que não fosse a sala de aula”, explica.

Após ser informado que perderia 15 dias de salário, o professor caiu em desespero. “Após sua última consulta, na segunda-feira, ele foi informado que perderia 15 dias de salário. Mais um ato de injustiça que reduziria 15 dias do salário de um trabalhador já desesperado. Embora tenhamos dito que nós [familiares] ajudaríamos a pagar suas contas, ele estava desesperado. Como um homem, ele se sente desvalorizado após ter trabalhado por 12 anos em um concurso público. Quando precisou de tratamento, foi negligenciado”.

De acordo com Maria, a família entrará com uma medida judicial contra os envolvidos e busca obter justiça. “Infelizmente, não podemos recuperar o que foi perdido pelo Tiago, mas é importante garantir que essa situação não se repita com outros professores ou funcionários públicos”.

Descaso - A professora Madalena Pereira, de 61 anos, é uma das colegas de profissão que se solidarizou com a morte de Tiago e compareceu ao protesto. Segundo ela, o descaso e desconfiança constantemente estão presentes no processo de avaliação médica feito pelo IMPCG. "Quem sabe do problema do paciente é o psiquiatra que acompanha ele. Só que na junta médica, quem faz parte não é só psiquiatra. Tem ginecologistas e clínicos gerais. Aí ele olha o atestado e fala que não precisa ser readaptado, mesmo com laudo médico de um profissional que te atende há anos", reclama.

Madalena afirma que já ouviu relatos de colegas que tiveram a doença questionada e até mesmo ironizada por médicos do instituto. "Eu já ouvi um caso de uma colega que foi na junta médica e teve que ouvir do médico que ela estava pedindo afastamento porque queria pescar. Isso é coisa que um médico deveria dizer para uma pessoa que está doente?".

Edilaine Aparecida Soares Figueiredo, de 62 anos, é uma das professoras que já passou por um tratamento desumanizado. “Eu tive uma lesão que me impossibilitava de erguer um braço. Fiz cirurgia e precisei ficar readaptada. Agora a lesão piorou e vim passar pela perícia médica. Trouxe laudos e exames que comprovam esse estado, mas o médico simplesmente disse que eu deveria comer peixe e dançar que ia melhorar”.

A professora Edilaine Figueiredo relata que já foi ironizada por médicos durante perícia (Foto: Juliano Almeida)
A professora Edilaine Figueiredo relata que já foi ironizada por médicos durante perícia (Foto: Juliano Almeida)

Lembrança - O professor Tiago Bianchi Silva Araújo, 42 anos, foi encontrado morto na casa onde morava em Campo Grande, nesta segunda-feira (20). Conforme colegas, ele sofria de depressão, por isso havia pedido afastamento das funções. Já tinha passado por perícia mais de uma vez no IMPCG. O motivo da morte teria sido suicídio.

Mesmo com um final triste, Tiago é lembrado por amigos e familiares como um artista sensível, amante da natureza e um professor dedicado. “Ele era singular, perfeccionista. Era amante da música, um pianista maravilhoso, professor dedicado que não teve sua dor ouvida por profissionais que deveriam ter ouvido”, relata sua colega Daniele.

Sua irmã Maria reforçou que Tiago sempre foi uma pessoa que amava a natureza e a arte. “Era um artista, um menino brilhante. Gostava de viajar, gostava dos animais. Se ele achasse uma abelha machucada, levava para cuidar. Esses dias ele mandou foto de um coelho que acharam no condomínio, todo machucado e ele estava cuidando”.

Durante manifestação, Maria Bianchi é consolada por colegas do falecido irmão (Foto: Juliano Almeida)
Durante manifestação, Maria Bianchi é consolada por colegas do falecido irmão (Foto: Juliano Almeida)

Com tristeza expressa nos olhos, ela relata que ainda não digeriu a morte do irmão mais novo, mas que continuará pedindo justiça. “Eu não consigo acreditar ainda que não vou mais vê-lo, sabe? E eu estou tentando me apegar aos meus pais e ao meu filho. Tem um buraco aqui no meu peito e não tô conseguindo pensar em muita coisa. O que eu quero agora nesse momento é justiça”.

Posicionamento - Desde cedo, o Campo Grande News tentou contato com o IMPCG, mas até o momento de publicação não obteve resposta. O espaço continua aberto para manifestação.

Ajuda - O Campo Grande News aproveita para informar que na Capital, o Grupo Amor Vida (GAV) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone 0800 750 5554.

Ligue sempre que precisar! O horário de funcionamento é das 7h às 23h, inclusive, sábados, domingos e feriados.

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