Ato de 'solidariedade' com Cadafalso defende arte e questiona censura
Artista fazem movimento em frente ao Marco, onde está exposta mostra que virou polêmica semana passada
"Nós nos sentimos agredidos com este tipo de imposição". Assim descreve a artista Adelaide Barbosa Martins, 61 anos, sobre a retirada do quadro da exposição Cadafalso, considerada pela Polícia como ato obsceno e de incentivo à pedofilia, enquanto ela questiona se não estamos vivendo a censura dos anos 1960.
A pintura contém cores, imagens de sofrimento e destaque para o corpo masculino. Uma forma que a artista plástica mineira Alessandra Cunha, autora da exposição, encontrou para mostrar as consequências do machismo na sociedade. Cadafalso foi o local onde eram julgadas e queimadas vivas as mulheres acusadas de bruxaria pela Inquisição católica na idade média.
E é justamente esta 'ironia' que Adelaide questiona. O nu masculino choca, enquanto a imagem feminina é tão mostrada e explorada por aí. "Não sei porque. O nu feminino é admitido, a mulher pode ser vista desta forma desde a Renascença, mas o masculino é difícil para a comunidade admitir".
Em um ato, em frente ao Marco (Museu de Arte Contemporânea), Adelaide aparece tendo as mãos amarradas por pessoas encapuzadas e vestidas de preto. No fim, boca e olhos são vendados e a artista cai no chão. Os mesmos homens de preto colocam nela um papel classificando a 'exposição' em 18 anos.
Artistas plásticos fazem o que chamam de 'ato de solidariedade' contra a ação da Polícia Civil, na quinta-feira, motivada por pedido de deputados estaduais que acharam a imagem ofensiva. Isso porque a mostra está exposta há três meses no Marco, mas só agora os parlamentares souberam do conteúdo, julgando-o como um incentivo à pedofilia.
O quadro foi apreendido, mas voltou à exposição neste domingo.
"Nós nos sentimos agredidos com este tipo de imposição. Será que estamos vivendo a censura dos anos 60?", questiona.
Adelaide não protesta sozinha. Com ela, estão outros artistas que fazem pinturas em telas e outras manifestações para mostrar a luta pela cultura, chamar a atenção e mostrar que o trabalho é sério, conforme Pedro Guilherme Garcia Gois, artista visual e presidente da Confraria Sócio Artista.
"É um ato de solidariedade ao museu, à coordenadora dele e à cultura sul-mato-grossense. Muita gente vê a arte como pintura, desenho, uma coisa bonitinha para colocar na parede".
O artista explica que as impressões de mundo e vida estampados em telas vai muito além. "Nós fazemos arte porque levamos muito à sério".