Bolo de Santo Antonio mantém tradição de fé no santo casamenteiro
A fila se formou desde cedo, com ampla maioria de mulheres. Os pouco homens à espera de uma fatia de bolo estavam acompanhados da namorada ou mesmo da esposa.
Os aproximadamente 750 quilos de bolo, contendo 360 alianças, renderam cerca de quatro mil fatias e, mantendo a tradição, reuniram na igreja matriz de Campo Grande, desde cedo, pessoas solteiras em busca de um par e casadas em busca de reafirmar os votos e renovar as bênçãos ao matrimônio.
A fila se formou desde cedo, com ampla maioria de mulheres. Os pouco homens à espera de uma fatia de bolo estavam acompanhados da namorada ou mesmo da esposa.
Nayara Torres Flores, 32 anos,é uma das devotas que teve a sorte de encontrar uma aliança em sua fatia de bolo. Ela é relações públicas, trabalha com a organização de eventos, e esta foi a segunda vez que participou da festa.
Ao encontrar a aliança, comemorou muito e correu para dentro da igreja para agradecer ao santo. “Os relacionamentos estão muito difíceis, porque as pessoas, principalmente os homens, não querem laços; querem só relações superficiais”, diz a sortuda. Mas Nayara afirma que ainda acredita no casamento. “Tenho histórias de casamentos excelentes na família”, garante.
Reforço - Mãe e filha, ambas casadas, foram outras duas que deram sorte e encontraram o recheio tão esperado nas suas fatias de bolo. A mãe, Fermina de Oliveira Fernandes tem 62 anos e é casa há 38 anos. Ela encontrou não apenas uma, mas duas alianças no seupedaço de bolo. Ela foi buscar as bênçãos do santo casamenteiro porque “segurar um homem não está fácil”.
A filha, Sílvia Madelini Fernandes, tem 31 anos e casou no ano passado. Ela tinha participado da festa mas não havia encontrado a aliança. Agora, como já está casada, acredita que esse é um sinal de “reforço”, de “mais uma bênção” para sua união.
Na fila - A professora Ana Paula Fenilon tem 34 anos e já é a “quarta ou quinta vez” que vai à festa em busca de uma fatia de bolo com recheio de aliança. Assim como a maioria, Ana Paula também busca um tipo especial de parceiro “Eu quero um homem que tenha responsabilidade e compromisso. Vim pedir ao Santo Antonio, porque hoje em dia a maioria só quer saber de oba-oba”, comenta.
E Ana Paula não estava sozinha na fila. A madrinha dela, Suzana Parente, aos 55 anos, tem bons motivos para contar com o poder do santo casamenteiro. Suzana é costureira e confecciona vestidos de noiva. Ela conta que no ano passado uma sobrinha dela, que nem tinha namorado, achou uma das alianças do bolo de Santo Antonio. “Em novembro estava casando, e fui eu que fiz o vestido”. A expectativa de Suzana agora é fazer também o vestido da afilhada Ana Paula.
Um dos poucos homens na fila era Thiago Luiz Barbosa de Souza, de 24 anos, que estava acompanhado pela esposa, Daniele Mendes, de 21 anos. Eles contam que namoraram por seis meses e estão casados há dois anos. Mas confessam que o motivo de estarem na fila do bolo é um poço diferente: “É aniversário dele”, conta Daniele.
Encomenda - Elisena Silvana Amarante tem 56 anos, todo ano participa da festa, e este ano foi buscar mais que uma fatia: comprou bolo também pra os dois sobrinhos de 25 anos, para a sobrinha de 20, para ela própria e para um vizinho. Elisena tem fé no santo, mas é exigente: “Não quero um homem ‘tranqueira’, comenta.
Paróquia - O padre Paulo Vital lembrou que, com todo o tom festivo, a celebração é uma espécie de homenagem ao matrimônio. “Hoje em dia, o amor, o namoro, as relações afetivas, estão muito banalizadas. Isso resulta em famílias desestruturadas, sem vínculos, o que acaba gerando consequências para toda a sociedade”, considera o padre.
E para quem não teve sorte este ano, o padre deixa um recado: no ano que vem, em comemoração ao centenário da Paróquia, o bolo de Santo Antonio vai ter 500 alianças.