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Capital

Capital tem 120 pacientes esperando vaga em hospital por dia, diz secretário

Só no início da manhã de hoje, oito pacientes intubados em UPA foram transferidos para hospitais

Paula Maciulevicius Brasil | 16/03/2021 17:11
Paciente recebe soro na espera por vaga em hospital (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Paciente recebe soro na espera por vaga em hospital (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

Segundo dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Campo Grande tem historicamente uma média de 120 pessoas por dia aguardando transferência para hospitais. O secretário José Mauro Filho explica que o número é "muito dinâmico" e reflete o momento de pandemia vivido em Mato Grosso do Sul.

"A covid aumentou o fluxo desses pacientes que aguardam, a princípio quando chegam na unidade, muitos têm o quadro clínico semelhante a H1N1, pneumonia e são classificados como SRAG (Síndrome Respiratória Aguda) ou até mesmo já existe o diagnóstico de covid", explica o secretário.

Ontem, 61 pessoas foram transferidas de UPAs para hospitais. Só na manhã de hoje, foram 25 dos quais oito estavam intubadas em postos de saúde. "Em nenhum momento a gente quer passar a impressão de que a coisa está amena, não é por que você não está apavorando a população que não é uma situação grave".

Secretário José Mauro Filho durante entrevista (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Secretário José Mauro Filho durante entrevista (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

José Mauro fala sobre ter calma e tranquilidade para tomar as medidas possíveis. "É grave para todo mundo. Se alguém não tiver calma, se você se desesperar, não vai conseguir fazer nada".

Legalmente, o secretário fala da prerrogativa de manter até 24 horas o paciente internado em UPA aguardando vaga para hospital, mas lembra que diante do desafio da pandemia, é preciso dar o melhor suporte respiratório. "É uma doença grave tanto é que ampliamos o tanque de oxigênio de quatro unidades para que não falte. O Brasil todo está em busca dos mesmos produtos: oxigênio, medicamento de sedação, leitos de UTI".

O secretário também explica que UPAs funcionam como unidades hospitalares e podem sim fazer a intubação de pacientes que necessitem. "A UPA é o local de suporte de atendimento de emergência, uma vez você atendendo esse paciente, tem todo o processo de assistência e estabilização até mesmo para poder retirar esse paciente da unidade".

Na área vermelha, o secretário descreve que a unidade é preparada para fazer reanimação, intubação e conta com respiradores e oxigênio. "É um procedimento usual que é feito nas UPAs. Paciente ser intubado na UPA não é uma situação ilegal e nem demonstra falta de assistência [como muitas famílias pensam]. Essa visão está acontecendo pelo fato de que a gente vê sobrecarga".

Última imagem de dona Glainor Mariana da Silva, de 60 anos, em vida; foto tirada pelo filho dela dentro da UPA Nova Bahia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Última imagem de dona Glainor Mariana da Silva, de 60 anos, em vida; foto tirada pelo filho dela dentro da UPA Nova Bahia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Morte em posto - Depois da reportagem publicada ontem sobre o caso da mulher de 60 anos que morreu na UPA do Nova Bahia à espera de vaga, o secretário explicou que existia antes da pandemia uma média de 15 mortes por dia em UPAs da Capital, mas que hoje, alguns casos têm evoluído a óbito tão rápido sem o paciente sequer entra na fila de espera por leito hospitalar.

"A gente tem percebido nas UPAs tem gente que não chega nem a ser encaminhado para hospital, porque já chega em pré-óbito. Há casos ainda de pacientes que até se evadiram das unidades, depois voltaram e acabam falecendo. São situações que acontecem e a doença, ela mata", enfatiza.

José Mauro fala que o fluxo de pacientes com covid têm aumentado nas últimas três semanas, assim como a mudança no perfil dos doentes e a gravidade. "A taxa de idade diminuiu, inclusive pacientes mais jovens estão internados e indo para o CTI e antes eram pessoas mais idosas, acima de 60 anos, tanto é que o PNI (Plano Nacional de Imunização) foi todo moldado em cima desse perfil", comenta.

O que se está vendo agora, segundo o secretário, é uma infectividade mais alta e o risco de letalidade maior, resultado da agressividade do vírus. Em contrapartida, a Prefeitura diz que tem trabalhado para aumentar o número de leitos em hospitais. Só na última semana, foram 44 novos leitos abertos em hospitais da Capital.

Pronto-socorro da Santa Casa de Campo Grande estava tão lotado na quinta passada que pacientes eram atendidos sentados e acompanhantes ficaram em pé (Foto: Direto das Ruas)
Pronto-socorro da Santa Casa de Campo Grande estava tão lotado na quinta passada que pacientes eram atendidos sentados e acompanhantes ficaram em pé (Foto: Direto das Ruas)

Vagas - Sem hospital municipal, José Mauro fala que Campo Grande tem contratualizado serviços em outras unidades hospitalares. Em alguns, leitos específicos para covid e em outros, a chamada retaguarda para desafogar os hospitais referência para a covid, como o Regional.

"Estamos ampliando os leitos clínicos principalmente para tirar o paciente que já passou do período crítico, por exemplo, tem um paciente internado em hospital de referência, mas ele não está mais transmitindo o vírus, está na enfermaria, então acaba sendo eleito para ocupar o leito clínico de um hospital de retaguarda e assim abrir mais vagas no de referência", pontua.

Ainda segundo a secretária de saúde, todo esse exercício dinâmico de remanejar pacientes vem sendo feito duas vezes ao dia há um ano. "Passamos por períodos críticos, estamos num momento assim e o que está acontecendo hoje é que a gente tinha estados críticos em períodos diferentes, agora é essa piora ao mesmo tempo em todo País".

O secretário diz que por conta disso vem as medidas restritivas tomadas pelo Governo do Estado e seguidas pela Prefeitura Municipal. Questionado se são suficientes, José Mauro diz que é preciso analisar a efetividade dos decretos em um período maior.

"Vamos analisar provavelmente no final desta semana para ver o resultado disso e se vai ampliar ou diminuir. Foi este o exercício que fizemos durante o ano inteiro, a gente entende que é uma angústia da sociedade, mas acabamos de trocar o ministro da saúde, na instabilidade gerencial que estamos vivendo no País, é o quarto ministro. Você não enxerga o posicionamento federal institucional em direção a essas medidas restritivas. Essa talvez tenha sido a maior dificuldade da pandemia e estamos observado isso na questão da vacina, por exemplo".

Sobre o plano de guerra da Prefeitura, de fechar 23 postos de saúde para concentrar atendimento, o secretário diz que esta não é uma medida para agora. "Isso talvez seja um plano B ou C".

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