Casas afundam e prefeitura vai transferir famílias para novo local
Laudo da Emha e Etelo condenaram estruturas, que deverão ser demolidas e reconstruídas do zero
Telhado caindo, calçadas afundando, paredes rachadas e muita umidade, esse é o atual cenário no Bairro Vespasiano Martins, em Campo Grande. De todo o investimento milionário pago à Morhar – Organização Social para a construção de casas a quem deixou a favela Cidade de Deus , a única certeza é que as 42 erguidas na região terão de ser demolidas.
O “estrago” é explicado por diversos fatores, um deles de que a região possui o lençol freático aflorante, que mina água, mas o principal, a falta de orientação por parte da ONG, que não indicou uma técnica específica para este tipo de solo. “Eles sumiram, quem conseguiu construir sua casa, construiu. Quem não conseguiu ficou sem. Aqui se furar um metro mina água e vira um poço e o alicerce não foi suficiente”, disse.
O morador João Bento, de 80 anos, lembra que até quem não entendia de construção se virou para erguer a estrutura. “É claro, que vão rachar, afundar. Esses alicerces tinham que ter sido mais fundos. Mas daqui ninguém sai, não. Ninguém vai voltar pra lona”, afirma.
O laudo que condenou os imóveis foi emitido pela Emha (Empresa Municipal de Habitação de Campo Grande) e Etelo (Engenharia de Estruturas Ltda EPP) e entregue à liderança dos moradores nesta semana, durante reunião.
Ao Campo Grande News, o prefeito informou que tem a expectativa de que parte das casas já estejam prontas em dois meses. A assessoria de imprensa da Emha esclareceu que avalia junto ao governo do Estado a definição de um novo local, mas não tem previsão.
Sumiço - Há exatamente um ano, reportagem já havia falado sobre os problemas enfrentados pelos moradores. A ONG (Organização Não Governamental) foi contratada pelo prefeito Alcides Bernal para coordenar o mutirão de construção de 300 casas para ex-moradores da Cidade de Deus. Do convênio de R$ 3,6 milhões, R$ 2,7 milhões foram repassados à entidade, que sequer tem sede, conforme apurou a administração de Marquinhos Trad (PSD).
A entidade justificou gastos no valor de R$ 1,9 milhão. O restante, R$ 800 mil, foi retirado, mas não há comprovação do que foi comprado com o valor na prestação de contas. A prefeitura bloqueou R$ 900 mil destinados ao convênio e prometeu ir à Justiça contra a Morhar, mas ainda não moveu o processo. Alvo de outras ações de cobrança, a ONG não é localizada nem por oficiais de justiça.
Quatro destinos - Em março de 2016, quando a favela foi dissolvida, parte das famílias foi para área nos bairros Bom Retiro, Pedro Teruel II, Jardim Canguru e Vespasiano Martins.
A ideia seria que eles deixassem seus barracos para ocuparem loteamentos onde seriam construídas casas de alvenaria, com telha e acabamento. Porém, o que se viu foram obras inconclusas e famílias descontentes.
Avaliação - A empresa Etelo Engenharia de Estruturas, foi contratada pela prefeitura de Campo Grande por R$ 32 mil para avaliar a construção de 327 casas que atualmente abrigam ex-moradores da favela Cidade de Deus.
Além de elaborar o laudo técnico, com avaliação da fundação, estrutura, alvenaria e patologias da construção causadas por lençol freático elevado, a empresa teria de emitir parecer com o escopo de dar segurança para o término e entrega das 327 unidades habitacionais e avaliar 309 edificações que foram total ou parcialmente construídas no regime de mutirão assistido.
(Colaborou Mayara Bueno)