Cirurgia cardíaca do "indiozinho" deve acontecer até a próxima sexta
A cirurgia cardíaca que pode salvar a vida do “indiozinho” Edemar Gonçalves da Silva, 4 anos, foi confirmada e deverá acontecer até o fim desta semana.
A SES (Secretaria de Estado de Saúde) informou que a data do procedimento ainda não foi estabelecida, mas o material para a realização do procedimento pré-operatório estará disponível nos próximos dias.
O prazo só foi estipulado após reportagem do Campo Grande News que mostrou a espera de mais de um ano. Enquanto aguarda o procedimento, Edemar já passou por dois hospitais. No HU (Hospital Universitário) de Dourados, a 230 quilômetros da Capital, ele ficou internado por mais de 10 meses. E atualmente aguarda na Santa Casa de Campo Grande, para onde foi transferido em outubro de 2015.
O custo total do procedimento pré-operatório e da cirurgia é de R$ 20.760,00, valor que inclui o material e os honorários médicos.
Edemar nasceu no dia 23 de dezembro de 2011, no Hospital Regional de Amambai. Entre os dias 10 e 12 de dezembro de 2012 ficou internado no HU (Hospital Universitário) de Dourados. Depois disso, só existe um registro de alta da Santa Casa de Campo Grande, do dia 7 de janeiro de 2013.
Somente no dia 4 de dezembro de 2014 o garotinho retornou para o HU de Dourados, levado pela irmã Jaqueline Lopes, 23 anos – que atualmente o acompanha (a mãe teria sido assassinada pelo pai de Edemar). O hospital informou que o menino foi internado com pneumonia. Na Santa Casa de Campo Grande ele só deu entrada dez meses depois, de acordo com a cardiopediatra que atende o menino, Cláudia Piovesan Farias, por conta do quadro de saúde delicado.
Doença – Edemar tem um grave problema no coração, conhecido como anomalia de Ebstein. Ele nasceu com a doença rara que provoca insuficiência cardíaca por conta de uma má formação.
O problema no coração não impede que a criança viva fora do hospital, ele poderia aguardar a cirurgia em casa. Porém, a “internação social” na Santa Casa é o único meio encontrado para garantir que ele receba o tratamento necessário.
“Ele corre risco de morte. É preciso manter ele no hospital pela questão cultural, pois como é indígena, pode não voltar para o tratamento. Antes de fazer a cirurgia cardíaca ele precisa passar por um procedimento. Ambos são cobertos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas que não fornece todos os materiais. Solicitamos judicialmente e estamos aguardando”, afirmou a cardiopediatra que atende o menino, Cláudia Piovesan Farias.
Ele recebeu o diagnóstico da doença também na Santa Casa de Campo Grande. Na época os pais foram informados sobre a gravidade do caso, mas não permitiram que o filho fosse submetido aos procedimentos.
O pai de Edemar, Roberto Gomes da Silva, registrou em uma carta – provavelmente escrita em 2013 – o desejo de que o menino não fosse submetido à cirurgia cardíaca. O documento está guardado junto com outras documentações do garoto, na Casai (Casa de Apoio àSaúde do Índio), na Capital.
A coordenadora da Casai, Eliete Domingues Rios Maggioni, foi até agora a única pessoa – entre representantes indígenas – que conhece e acompanha o caso de Edemar. O Campo Grande News procurou informações sobre ele junto à Funai (Fundação Nacional do Índio), Funasa (Fundação Nacional deSaúde), Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), na Capital, em Dourados e também na sede dos órgãos (Funai e Sesai) em Brasília (DF), mas nenhum local tinha conhecimento da situação do “indiozinho”, como foi apelidado Edemar por funcionários da Santa Casa – onde esta internado desde outubro do ano passado.
No documento escrito a próprio punho, a dificuldade em relação à língua e de comunicação do pai fica evidente. "Cirurgia muito perigosa operar na coração. Faz favor. Não pode mandar entrar cirurgia. Aquele coração sagrado vida ainda izima da terra. Se perder aquele mia filha, depois vai pagar nós. Ele não é ainda quajo. Tem ainda pai dele” (sic), suplicou.
Nas poucas palavras, ele afirma que não quer a realização da cirurgia, e ameaça a médica responsável por Edemar na época, caso alguma coisa acontecesse.
Eliete relata que Roberto falava pouco e não entedia o português. “Era uma situação muito delicada. E foi o pai que não autorizou a cirurgia. Nós tentamos, explicamos, mas no fim a mãe entregou a carta que deixa clara a vontade do pai, que escreveu do jeito dele”.