Com desodorante e projeto "ilegal", vereador faz deboche na Câmara
Vinícius Siqueira apresentou projeto para mudar nome de terminal para Marquinhos/Guaicurus, em "homenagem" ao prefeito e consórcio
O vereador Vinícius Siqueira (DEM) optou pelo deboche para criticar a ação dos guardas municipais no Terminal Morenão, que dispersaram manifestação de passageiros insatisfeitos com atraso de ônibus. Na tribuna, o parlamentar usou desodorante como “spray de pimenta” e apresentou proposta polêmica em “homenagem” ao prefeito e ao consórcio Guaicurus. Conseguiu o que queria: tumultuar a sessão.
Antes do início dos debates, o presidente da Câmara de Vereadores, João Rocha (PSDB), aguardava a chegada de manifestantes para conversar sobre reivindicações, mas, até o início da sessão, ninguém havia chegado.
Por volta das 10h, cerca de dez pessoas foram até a Câmara, munidas de cartazes pedindo a instalação de CPI (Comissão Processante de Inquérito) para investigar o Consórcio Guaicurus.
Vinícius Siqueira ocupou a tribuna para lembrar o episódio ocorrido na sexta-feira (15), quando passageiras interditaram o Terminal Morenão, em protesto ao atraso de ônibus da linha 072 (Nova Bahia/Morenão). Durante a fala, surpreendeu os colegas ao espirrar um desodorante vermelho no ar, dizendo que a reclamação da população era respondida com spray de pimenta.
Reação - A manifestação causou irritação. O vereador Chiquinho Telles (PSD), líder do prefeito na Câmara, pediu aparte, dizendo que achou o ato “desrespeitoso”. Em resposta, ouviu de Siqueira que “se fosse spray de pimenta, você não ia gostar”.
Além do “spray”, o vereador também apresentou projeto que altera o nome do Terminal Guaicurus para terminal Marquinhos Trad/Guaicurus. Segundo ele, a “homenagem” aos prefeito e ao consórcio. “É uma união tão perfeita, de um protegendo outro que eu acho que é melhor colocar o nome correto, por o nome inteiro dos dois juntos”.
Inicialmente, a proposta era nominar o terminal como Trad/Guaicurus, mas a ideia foi rechaçada pelo vereador Otávio Trad (PTB), que considerou desrespeitosa por atingir a família. “Lamenta o comportamento dele, ter apresentado o projeto, está atingido uma história que começou com meu avô que ajudou a construir Campo Grande e o Estado”. Siqueira, então, alterou a proposta.
Siqueira havia pedido que o projeto tramitasse em regime de urgência, chegando a pedir assinatura até de Otávio Trad, porém, deve entrar de forma regular na Câmara.
Trad, aliás, é presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), comissão irá avaliar a constitucionalidade da proposta. Ele disse que, caso seja legal, o projeto irá tramitar regularmente, passando pelas comissões e, depois, votação no plenário. Porém, a chance de passar é quase nula: a legislação não permite que prédios sejam nominados com pessoas vivas.
Sobre este detalhe, Chiquinho Telles fez leitura de que seria uma ironia do colega. “Se ele acha que o marquinhos está morto, está engando, ele está bem vivo”.
Durante a sessão, João Rocha disse que, apesar de inusitado, a manifestação de Siqueira não infringiu o regimento interno. “A forma de agir cômica, criando uma situação”, disse.
O presidente da Câmara criticou o uso da ferramenta parlamentar. "Nós parlamentares temos que ter a dimensão da importância de um mandato, onde no exercício desse mandado, nós dispomos, nde uma serie de ferramentas sérias: requerimento, indicações, moções e projetos de lei. Quando fazemos uma brincadeira com isso, acho que nós estamos deixando de respeitar essas ferramentas", avaliou.
Rocha ainda comparou a atitude do colega. "Do mesmo jeito que você apresenta um projeto como uma brincadeira, a gente apresenta um projeto como o plano diretor. Estão usando as mesmas ferramentas. Eu não posso tratar o plano diretor como brincadeira, eu não posso tratar um plano de cargos e carreiras como brincadeira, eu não posso tratar as lei dos vereadores como brincadeira", disse.
Segundo o presidente da Casa de Leis, o projeto foi protocolado e irá tramitar. "Está montado, já tem capa, já tem número. Foi ao apoio e agora vai ser encaminhado para a procuradoria", explicou.
Matéria atualizada às 13h23 para acréscimo de informação