Com espaço democrático, 14 de Julho comemora centenário com comerciantes para todas as classes sociais
Pela movimentação, 14 é trilha sonora do comércio da Capital
Nos cinco quilômetros de cumprimento, um espaço aberto, democrático, composto por todas as classes sociais. Característica que faz da rua 14 de Julho, única. "Aqui todas as classes se igualam", confirma a doutora em história Alisolete dos Santos Weingartner.
Cenário de artigos finos aos armazéns de atacado, o centro comercial da cidade sempre foi dinâmico e acompanhou o crescimento econômico. O resultado foi que serviu de modelo para outras regiões comerciais.
Ponto estratégico, o trecho central da 14 de Julho é de brilhar os olhos dos comerciantes. Muitos mudaram a fachada, o design interior, mas mantém o mesmo tipo de comércio, acompanhando o desenvolvimento.
O comerciante Mohamad Ali Akra, 43 anos, libanês, mas naturalizado brasileiro, tem a loja de roupas infantis há 23 anos. É a metade da vida dedicada ao comércio da 14. "Já vendi para mãe e agora vendo para a filha. É a mãe que comprou para ela que agora compra a filha", explica sobre a venda que já alcança duas gerações.
Questionado sobre como seria se tivesse que sair da 14, ele prefere nem pensar. "Seria como peixe fora d'água, não tem como".
As ruas de comércio agradam pelo estilo eclético. Não há o que não achar para comprar na 14, pelo contrário, a ida às compras pode até sair mais pesada no bolso.
A cabeleireira Janaína da Silva, 20 anos, saiu para procurar um sapato. Nas mãos as sacolas de compras mostram que ela adquiriu bem mais que um par. "Vim na 14 porque a maioria das coisas tem aqui. Acabei comprando outras, vai passando, você vai vendo, se tem dinheiro, gasta mesmo", afirma.
Dos artigos finos às peças no atacado, a rua demonstra ter acompanhado e muito bem, o ritmo de crescimento econômico da cidade. Com oportunidades que agregam todas as classes, não há quem não saia de casa e não encontre o que procura.
A loja de presentes Casa José Abrão tem 72 anos completos e uma história em três gerações. Neto do dono, José Alberto Abrão, 52 anos, relembra que todo o centro da cidade estava concentrado naquele pedaço. "Não tinha o que tem hoje. A gente vendia de tudo, gêneros alimentícios, ferramentas e aos poucos fomos mudando", relata.
Há 50 anos a loja deixou de lado os alimentos para investir em utilidade doméstica e presentes. "Foi a percepção da exigência do público, ninguém vendia parte de presentes", conta. O comércio expandiu e é visto como tradição em Campo Grande.
O dono argumenta que apesar de tradicional, a loja não se encaixa nos padrões da 14 por ter um público com uma condição financeira um pouco melhor. Do outro lado da história, o exemplo da comerciante autônoma Maria Helena Alves Pereira, 53 anos, reforça, a 1 é para tudo e todos. Sozinha ela criou os quatro filhos com a venda de cachorro quente, em média 40 por tarde. "Nossa a 14 é o canal para a gente. Tem cliente de tudo quanto é tipo, foi assim que sustentei a família", declara.
A diversidade de lojas atrai também diferentes clientelas que lotam a rua de sacolas, carros e até barulho. "É tão agitada que formou vários sons", completa Alisolete Weingartner. É a movimentação da 14 que virou trilha sonora do comércio campo-grandense.