Com ferro valorizado, tampa de bueiro vira a nova febre dos furtos na rua
O crime inclui do andarilho ao dono de ferro-velho que jura desconhecer origem do material
Nova febre dos furtos em Campo Grande, a corrida pelas tampas dos bueiros se explica pela alta do quilo do ferro, que ultrapassou o velho conhecido cobre, e revela uma engrenagem que vai da miséria dos moradores de rua à ganância de comerciantes.
De acordo com o titular da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos), Reginaldo Salomão, a cotação do quilo do ferro a R$ 0,90 resultou no crescimento dos furtos. “O valor é mais alto e você consegue 15 quilos só numa tampa”, afirma.
Em geral, o crime começa com dependentes químicos que vagam pelas ruas da cidade e buscam recursos para comprar drogas. Mas, o material também chega a empresas de reciclagem, onde os proprietários são enquadrados em receptação qualificada.
“Para o dependente químico, é questão de sobrevivência e não há nada de tão ruim que a droga já não tenha feito por eles. Mas o comerciante não está em situação de vulnerabilidade. Os empresários alegam que não sabiam a procedência. Mas é impossível não saber. Tem tampa que está escrito Águas Guariroba. Há ganância e má-fe”, diz Salomão.
O titular da Derf lembra que a retirada dos materiais provocam acidentes pela rua, vitimando, principalmente, motociclistas. Os furtos também impactam nos cofres da prefeitura, que repõem as peças.
Ferro e vício - No último dia 6, a Guarda Civil Metropolitana prendeu Maxwel Bras Serem, 21 anos, após furto de tampa de bueiro no Centro de Campo Grande.
Na delegacia, Maxwel relatou que vive em situação de rua desde os 14 anos, que é usuário de drogas e se uniu a um colega para praticar o furto. A intenção era trocar a grade de ferro “por qualquer valor”, só para ter dinheiro para comprar drogas. O objeto, no entanto, foi avaliado em R$ 650.
Ele passou por audiência de custódia e o juiz Olivar Augusto Roberti Coneglian converteu o flagrante em prisão preventiva. O caso foi remetido para a 1ª Vara Criminal, onde o juiz Roberto Ferreira Filho entendeu que a prisão era desproporcional e concedeu liberdade provisória a Maxwel.
Também em junho a operação “Ferro Velho” prendeu dois empresários por receptação. Eles são monitorados com tornozeleira eletrônica e respondem por receptação qualificada, que é praticada no exercício de atividade comercial e contra a ordem pública.
Rei da Sucata – O Fantástico, da TV Globo, exibiu reportagem na noite de ontem (dia 13) sobre Rodrigo Leonardo Alcântara, chamado de Rei da Sucata.
Com base em Minas Gerais e a reboque do furto de toneladas de cobre, ele é acusado de erguer um império intermediando a venda entre ferros-velhos e grandes indústrias. A reportagem do programa dominical cita que uma das empresas de fachada é sediada em Mato Grosso do Sul.
Rodrigo pagou fiança de R$ 1 milhão e está em liberdade. A Polícia Civil de Minas Gerais informou que as empresas envolvidas estão localizadas em Tocantins, São Paulo e Minas Gerais.