Consórcio já fez 50 demissões e diz que se houver lockdown será ainda pior
Fluxo de passageiros caiu 70% em Campo Grande com menos linhas circulando em razão das medidas restritivas
Nos últimos dias, foram dispensados 50 funcionários do transporte coletivo em Campo Grande. Na lista, foram cortados os que já estavam afastados por fazer parte de grupo de risco ou responsáveis por linhas desativadas em razão da pandemia de novo coronavírus.
E pode piorar, se nada for feito para ajudar o setor ou, ainda, se medidas mais restritivas à circulação de pessoas forem adotadas, segundo o consórcio responsável pelo serviço, que emprega 1,5 mil pessoas, 900 delas motoristas.
“Havendo lockdown, a situação vai se agravar e as consequências virão, desde o atraso de fornecedores até novas demissões”. A frase em tom de alerta é do empresário João Rezende, diretor do Consórcio Guaicurus, concessionária do serviço.
Depois de dizer que nunca as empresas recorreram tanto aos bancos, para se mantar, ele cobra mais atenção não apenas do poder público mas também da sociedade em relação ao serviço essencial, diante da situação de crise.
“Precisamos salvar o transporte coletivo”, apelou em entrevista ao Campo Grande News, quando comentou as dificuldades enfrentadas pelas empresas. Desde o início da pandemia de covid-19, movimento diário caiu de 230 mil passageiros em média para menos de 70 mil.
É uma queda de 70%, que reflete diretamente no caixa das empresas.
Não teve jeito - Rezende afirma que as demissões foram evitadas ao máximo. “Agora, foram inevitáveis”.
Segundo o executivo, as quatro empresas do consórcio, Cidade Morena, São Francisco, Jaguar Transporte Urbano Viação Campo Grande, demitiram pelo menos 50 pessoas nos últimos dias, como reflexo direto da redução na prestação de serviços.
As demissões, justificou, foram necessárias para “equacionar o atendimento”, diante do fim da possibilidade de ajuda federal para o pagamento dos funcionários. Os demitidos, em geral, foram motoristas.
Ele se refere ao instrumento de ajuda ao empresariado, bancando parte dos salários, por causa da pandemia. Explica que no caso das empresas do transporte, essa possibilidade já se esgotou, pois foi usada para “quase todos” os funcionários.
Rezende lembrou que a regra estabelecida é de que o prazo para utilização do reforço de caixa federal é de 120 dias por trabalhador, ou seja, mesmo que tenha sido prorrogada pelo governo federal, não por ora como resolver o problema das empresas.
Medidas – Rezende defende que cuidar do transporte é, também, prevenção, ao garantir que as pessoas tenham mobilidade para trabalhar e para buscar o atendimento do poder público com segurança. Por isso, diz, estão sendo debatidas inclusive novas ajudas federais.
Há uma discussão no Congresso de um aporte de R$ 4 bilhões, lembrou, que seria dividido entre todas as modalidades de transporte. Isso não impede, argumenta o executivo, que medidas locais sejam tomadas, considerando ser essa uma atribuição municipal, segundo a Constituição Federal.
Nesse ponto, Rezende diz que não houve ainda aceno efetivo nem da Câmara de Vereadores nem da prefeitura. Para ele, foi feito o “mínimo”, com a determinação de redução nas linhas, até para não haver desperdício colocando para rodar ônibus vazios.
Hoje, citou o empresário, estão rodando em Campo Grande 340 veículos, de uma frota de 500 que normalmente está nas ruas. Isso significa operação com 70% da frota. O número de passageiros, porém, é bem menor que o habitual, como já foi descrito acima.
Além de defender ajuda mesmo do Poder Público, João Rezende afirma que é possível adotar mudanças na forma como se está circulando. Na visão dele, permitir mais passageiros em pé seria uma forma de reduzir as perdas do setor.
Ele usa a comparação com aviões. Diz que os voos têm saído lotados, com pessoas lado a lado nas poltronas, e nem por isso existe uma explosão de contaminação no transporte aéreo. “Porque não circular com mais pessoas em pé”, questiona.