“Covengue”, que atingiu Delcídio, é novo desafio em meio a crise na saúde
Conforme especialistas, protocolos de ambas as doenças devem ser seguidos; impactados serão estudados
Velha conhecida dos campo-grandenses, a dengue, que só este ano contabiliza 11.005 casos confirmados, na Capital, continua sendo temida em tempos de pandemia do novo coronavírus. Isso porque, além das complicações que a doença traz, recentemente, o diagnóstico duplo de paciente com as duas doenças pegou especialistas de surpresa e trouxe uma série de incertezas.
Além de acompanhamento diferenciado, o desafio de tentar entender o impacto que as doenças podem trazer para o paciente tem sido mais um desafio na vida de profissionais da saúde.
“Sabemos pouco sobre a covid-19, a associação com a dengue é algo ainda mais inusitado. Estamos acompanhando casos e vamos avaliar o impacto das duas, que pode ser grande já que são duas doenças virais”, avalia a médica infectologista Priscila Alexandrino.
Casos como o do ex-senador Delcídio do Amaral. Internado na última terça-feira (28), pela segunda vez em menos de 14 dias, Delcídio apresentou sintomas das duas doenças e, por meio de seu perfil em uma rede social, fez questão de ressaltar as dificuldades que as duas juntas oferecem ao paciente.
"Não subestimem a covid-19 nem a dengue. A ação de qualquer uma no organismo é horrível, mas as duas juntas nos tornam um farrapo humano", diz o relato do ex-senador publicado no Facebook.
E justamente devido às incertezas que o diagnóstico duplo provoca que os especialistas estão em alerta. Priscila ressalta ainda a necessidade de protocolos de tratamento das duas doenças serem seguidos.
E, por mais que ambas as doença possam apresentar sintomas parecidos, como febre, cada uma tem sua particularidade. “As duas podem ter febre, mas uma resulta em dor do corpo, enquanto a outra abrange a parte respiratória, principalmente falta de ar”, lista Priscila, ao diferenciar a dengue de convid-19.
Para o organismo do paciente, as complicações da doença transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti podem afetar, em casos mais preocupantes, o fígado, cérebro e o coração. A covid pode atingir, além do pulmão, rins e também cérebro e coração.
Devido a todas as complicações listadas, a especialista alerta: os protocolos das duas doenças precisam ser levados a sério. “É preciso muito repouso, hidratação, avaliação do pulmão, seguindo os dois protocolos”, complementa Priscila.
Para o também infectologista Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), em casos assim, é preciso avaliar bem as técnicas de diagnóstico.
“Isso daria segurança para opinar se foram infecções concomitantes ou sequenciais, ou seja, se é dengue e covid-19 ao mesmo tempo, ou primeiro uma (possivelmente a dengue), e depois a outra”, afirmou.
Números - Em 2020, conforme último boletim epidemiológico divulgado pela SES (Secretaria Estadual de Saúde), a dengue resultou em 66.230 notificações em todo o Estado. Trinta e nove pessoas perderam a vida devido a complicações da doença, sete delas em Campo Grande.
Já em relação ao novo coronavírus, o número de casos confirmados da doença no Estado chega a 23.411. Só na Capital são 9.291. Até o momento, foram registradas 342 mortes, 112 em Campo Grande.