De dentro do presídio, homem fez 82 vítimas de estelionato
Polícia alerta para que vítimas que se identifiquem com o relato compareçam à Delegacia para serem ouvidas
A Devir (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Virtuais) identificou um detento, de 33 anos, que praticava estelionato de dentro do Instituto Penal de Campo Grande. Ele gerenciava a ação de comparsas para garantir o produto. O homem é suspeito de praticar ao menos 41 estelionatos resultando em 82 vítimas.
Os crimes, segundo a polícia tiveram um aumento significativo durante o segundo semestre de 2020, todos com o mesmo modo de agir. Após essa observação a Devir em apoio do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado iniciou uma investigação após suspeitar do envolvimento de uma organização criminosa.
Como funcionava- O estelionatário pesquisava os anúncios no site OLX e ao identificar uma nova proposta de venda, entrava em contato com o vendedor para simular uma negociação de preço e manifestar a intenção de compra. Ao fechar negócio, o golpista pedia pra vítima retirar o anuncio do site e dizia que estava em vigem, porém mandaria um freteiro para retirar a mercadoria e realizaria o pagamento através de transferência bancária.
Em seguida surgia a segunda vítima. O suspeito procurava no mesmo site anúncios de profissionais de transporte de mercadorias e negociava o valor do frete. Informava o endereço da primeira vítima, dizendo que pagaria pelo frete no recebimento do produto.
No horário marcado, o golpista ligava para o freteiro (2ª vítima) e pedia uma fotografia do produto dentro do carro e solicitava que avisasse assim que chegasse em frente à casa da vítima. Ao tomar conhecimento de que o freteiro já se encontrava na frente da casa do vendedor, o golpista enviava um comprovante de depósito falso e rapidamente ligava para a vítima para desviar sua atenção e evitar que perceba. Afirmava ainda que o valor seria creditado em conta no dia seguinte.
Dessa forma, várias pessoas entregavam os produtos.
Em seguida o golpista alterava o endereço de entrega para um local onde estavam os comparas. Eles retinham o produto e não pagavam pelo frete.
As imagens pedidas pelo golpista eram usadas para ameaçar as vítimas e constrange-las a pagarem valores para que cessassem as ameaças ou para que elas recebessem produtos de outros crimes de estelionatos onde seriam retirados posteriormente pelos comparsas.
O detento pesquisava ainda nas redes sociais fotografias da família das vítimas e enviava a elas juntamente com fotos de armas prometendo mata-los caso não obedecessem.
Para algumas vítimas, o preso revelava que estava dentro do presidio, falava o nome, pedia para que pesquisassem na internet os crimes já praticados por ele, inclusive fazia chamada de vídeo de dentro da cela para comprovar. Em outros casos, dizia que havia sido baleado e exibia foto da sua barriga cheia de cicatrizes para intimidar a vítima.
A foto com cicatriz, foi reconhecida por uma das vítimas.
Ao ser questionado hoje (29), ele negou as acusações, mas confirmou ter acesso a celulares no presídio.
Contou que chegou a intermediar a venda de uma máquina de assar frango e de uma cama elástica, mas negou ter praticado estelionatos em ambos os casos.
Dois celulares foram apreendidos com o homem, que negou ser dele.
O interno, responsável pelos estelionatos, participou de um ataque com explosivos contra a base da Polícia Militar no Bairro Moreninhas em 2012, além de crimes como tráficos de drogas, ameaças, estelionatos e um homicídio em 2007.
A polícia ainda alerta para que as vítimas que se identifiquem com o relato compareçam à Delegacia Virtual para serem ouvidas.