Do presídio, réu ligou para filho de vítima de feminicídio para justificar crime
No Fórum, João Vitor relembra morte da mãe e diz que hoje, no júri, é dia de pedir pelo "mínimo de Justiça"
Na porta do Fórum de Campo Grande, o acadêmico de jornalismo João Vitor Mendes Moraes, 20 anos, prepara-se para reencontrar o homem que agrediu sua mãe, a dançarina Venuzina de Fátima Mendes Leite a socos e garrafadas. Venuz, como era conhecida, passou três meses em coma até morrer, no dia 20 de março de 2021.
Hoje, Nilson Castro Siqueira, 36 anos, será julgado pela morte de Venuz. Ele foi denunciado por homicídio qualificado por motivação torpe, sem chance de defesa da vítima e feminicídio. No plenário da 1ª Vara do Tribunal do Júri, estão presentes, além dele, a tia, amigas e sobrinhos da vítima.
Siqueira está preso desde 19 de dezembro de 2020, mesma data do crime, ocorrido no meio da Rua Etelvina do Nascimento, no bairro Mata do Jacinto. Segundo apurado pela polícia, os dois já estavam separados há pelo menos sete meses quando ele passou a perseguir a dançarina. Venuz já havia registrado três boletins de ocorrência e tinha medida protetiva contra ele.
Na denúncia enviada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Venuz caminhava com a amiga quando foi abordada e espancada a garrafadas, socos e chutes.
João conta que o autor, Nilson Castro Siqueira, 36 anos, chegou a ligar do presídio se justificando, dizendo que tinha sido traído por Venuz, com quem namorou em 2019. “Eu não respondi e pedi para não me ligar mais”. Hoje, a família da vítima foi ao julgamento para pedir “o mínimo de Justiça”, segundo o acadêmico. “Estamos aqui pela pressão, para ele pegar a pena máxima; o que nos resta é a revolta”.
Em entrevista antes de entrar no Fórum, o rapaz relembrou o dia do crime. “Foi de madrugada, minha madrinha apareceu na minha casa, umas 4h. Estava assustada quando chegou, já imaginava que tinha acontecido alguma coisa”. Quando chegou, a mãe já estava inconsciente e sendo socorrida por equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Dali, foi levada para a Santa Casa de Campo Grande.
“Não tínhamos muita esperança. A médica já não tinha direcionamento positivo, tentava pisar em ovos. Na melhor das hipóteses, ela teria sequelas para vida toda”, contou o acadêmico.
João Vítor conta que o réu já tinha tentado agredir Venuz outra vezes. “Ele já tinha invadido lá em casa, armado, quebrado a porta da casa”, conta. Naquela noite, saiu detido pela polícia. Em outra ocasião, em dezembro de 2019, passou a noite apedrejando a casa. Novamente, foi preso e liberado. “Nessa época ela pediu medida protetiva”, lembra o rapaz.
Logo depois do crime, a família afastou a filha, então com 8 anos, de Campo Grande. A menina passou a morar com a tia em Cuiabá e voltou na última semana.
Da mãe, João Vitor diz que guarda na memória a educação prezando pela liberdade. “Ela me ensinou a ser uma pessoa livre, tudo que hoje foi pelo que ela me ensinou”.
O julgamento está sendo realizado pela 1ª Vara do Tribunal do Júri, sob responsabilidade do juiz Carlos Alberto Garcete. O magisrado não permitiu imagens do réu, que está presente na sessão.