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Capital

Dona de R$ 753 milhões, UFMS tem obras paradas e marcas da greve

Num dos blocos, a única melhoria em cinco meses foi um novo bebedouro

Aline dos Santos | 04/05/2017 12:07
O campus, cujo símbolo é o Paliteiro, foi cercado por segurança. (Foto: Marcos Ermínio)
O campus, cujo símbolo é o Paliteiro, foi cercado por segurança. (Foto: Marcos Ermínio)

Cercada com grades por segurança, a cidade da UFMS (Universidade Federal de Mato Groso do Sul) em Campo Grande tem obra parada, alunos que cursam dois semestres e meio num único ano, restaurante sem jantar e bloco em que a única melhoria em cinco meses foi um novo bebedouro.

No ano passado, a UFMS teve R$ 753 milhões para atender todo o Estado. O montante é acima, por exemplo, do orçamento de Três Lagoas, que prevê R$ 450 milhões para a gestão neste ano.

Mas o valor milionário não se reflete na infraestrutura. No bloco 6, conhecido como 'shopping', um cemitério de carteiras veda uma porta que deveria dar acesso a um estacionamento. Segundo alunos, a obra já dura três meses. Ao lado de outra porta, ares-condicionados velhos fazem parte do cenário desde novembro do ano passado, quando assumiu o novo reitor Marcelo Turine.

A acadêmica Juliana Pereira, 18 anos, conta que a única melhoria foi um bebedouro maior. Com a última greve, o calendário de aulas segue um roteiro improvável. Juliana começou o curso de Psicologia em novembro. “Vão ser dois semestres e meio em um ano. Não vai ter férias”, afirma.

Dezoito meses em um ano também é realidade para a universitária Ana Flávia Gonçalves, 19 anos, que cursa Engenharia Civil. O plano é terminar em 2021, num cronograma que não inclui novas greves.

A poucos passos do bloco 6, placas anunciam que o prédio do curso de Nutrição seria concluído em setembro do ano passado. A realidade é o imóvel envolto em tapumes, em parte já caído. Pelo chão, se espalham vergalhões de ferro e entulhos. O prédio teve custo de R$ 4,1 milhões.

A universitária Victória Ricartes, 19 anos, que cursa o primeiro semestre de Nutrição, conta que os alunos de outros semestres fazem aula em laboratório de cozinha numa universidade particular. A UFMS oferece o ônibus de ida e volta.

Infiltração no teto do corredor central. (Foto: Marcos Ermínio)
Infiltração no teto do corredor central. (Foto: Marcos Ermínio)
Carteiras entulhadas fecham porta que dá acesso à obra no estacionamento. (Foto: Marcos Ermínio)
Carteiras entulhadas fecham porta que dá acesso à obra no estacionamento. (Foto: Marcos Ermínio)

Comida, aliás, é questão séria para os acadêmicos. Muitos precisam escolher entre o almoço ou aula devido à fila gigantesca do RU (Restaurante Universitário).

Por volta das 9h, os acadêmicos já se aglomeram no entorno para comprar a ficha do almoço. “A gente fica uma hora na fila e não tem jantar”, reclama Lucas Cordeiro, 19 anos, que cursa Nutrição.

O almoço custa R$ 2,50 e uma longa espera. “O preço é bacana e a comida boa”, afirma Lucas. Também é servido café da manhã e os acadêmicos esperam a promessa de campanha para que o restaurante abra no jantar, principalmente para atender alunos de curso integral.

Sem RU noturno, a atual estrutura passa por reforma desde o mês passado. A ampliação custa R$ 762.768,60 e deve ficar pronta em 11 de setembro.

Atrás do atual restaurante, foi erguido mais um refeitório, mas, segundo os alunos, ainda não foi aberto para o publico.

Infiltrações e estações – Pelos corredores, há problemas do chão ao teto. Infiltrações gotejam do teto e o piso sofre com o desgaste. Em busca de um espaço mais convidativo, alunos de Arquitetura criam espaço de convivência no bloco da Faeng, que reúne cursos de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo e Geografia.

Delimitados pela cor amarelo, o espaço terá mesas e cadeiras para descanso. “Não tem espaço para descansar entre as aulas, as salas ficam fechadas”, afirma Anna Lopes, 21 anos.

A ação do tempo só não chegou à fachada da livraria. Localizada no corredor central, ela tem paisagismo e “cara nova”.

Previsto para ser entregue em 2016, bloco da Nutrição é obra parada na UFMS. (Foto: Marcos Ermínio)
Previsto para ser entregue em 2016, bloco da Nutrição é obra parada na UFMS. (Foto: Marcos Ermínio)
Lucas conta que fila é longa para comer no Restaurante Universitário. (Foto: Marcos Ermínio)
Lucas conta que fila é longa para comer no Restaurante Universitário. (Foto: Marcos Ermínio)
Anna cursa Arquitetura e participa de grupo que cria espaço para alunos nos corredores. (Foto: Marcos Ermínio)
Anna cursa Arquitetura e participa de grupo que cria espaço para alunos nos corredores. (Foto: Marcos Ermínio)

Sem plano – Pela cidade universitária, o ruído de obras é constante e revela ocupação desordenada do espaço. Defensor da criação de outro câmpus da UFMS na Capital, o arquiteto e urbanista Ângelo Arruda afirma que o plano-diretor foi engavetado.

“Passou a não ser mais cumprido, respeitado. Construíram quadras de esporte, prédio de Ciência na faixa margeando o córrego, o que não era mais adequado do ponto de vista da legislação ambiental”, afirma Ângelo, coordenador do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS.

Segundo ele, a partir da construção do bloco 6, erguido fora do padrão arquitetônico, todos os reitores fizeram obra como queriam. “São galpões com salas e banheiros. Não dá para pensar em um prédio sem pensar em educação. Se não é um prédio burocrático”, enfatiza.

Outra sugestão que surtiria efeito é a liberação do estacionamento do estádio Morenão, que contaria com um micro-ônibus para levar as pessoas até os demais pontos da cidade universitária. No ano passado, a instituição não cumpriu a meta de instituir um plano-diretor.

Potencial – O relatório de metas da universidade aponta que divulgação das próprias potencialidades é um ponto frágil. De acordo com o documento, em 2016 houve uma redução de 138 acadêmicos beneficiados com ações culturais e desportivas.

Se não mobiliza a comunidade acadêmica, a instituição precisou de uma recomendação do MPF (Ministério Público Federal) no ano passado para divulgar os cursos do Projele (Projeto de Língua Estrangeira) para toda a população.

Os cursos de idiomas a preços acessíveis, eram divulgadas apenas por meio de panfletos afixados na própria UFMS. Contudo, conforme o site do Projele, quem não é acadêmico paga mais caro.

Milhões – Em todo o Estado, a universidade tem 18.457 alunos matriculados. O Relatório de Gestão de 2016 aponta orçamento de R$ 753.763.620,00 para funcionamento e manutenção das atividades ensino, pesquisa, extensão, gestão e a manutenção da infraestrutura física e laboratorial das unidades.

Do total, 77,51% são destinado a pessoal e encargos social; 18,67% ao quesito outras despesas correntes e somente 3,82% a investimentos. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da UFMS e não recebeu resposta até a publicação da matéria.

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