"É o que eu tenho", diz dono de Pampa filmada por circular "caindo aos pedaços"
Após questionamento de leitor se carro poderia estar na rua, dono rebate: "arrumar ela era o que eu mais queria no mundo"
De repente um simples trajeto pela Avenida Ministro João Arinos em busca de material reciclável para venda fez Júnior Roberto Ramos, de 41 anos, ter que justificar o motivo de dirigir uma Pampa "caindo aos pedaços". As imagens gravadas por outro motorista foram enviadas ao Campo Grande News pelo Direto das Ruas nessa semana com o questionamento de um leitor se um carro nestas condições poderia rodar.
Após a publicação da reportagem, familiares reconheceram a Pampa de Júnior e o próprio dono quis se manifestar. O motorista, que também é desossador em um frigorífico, explicou que o carro é o único meio para ajudar no sustendo da família depois que o sogro morreu de covid e a esposa está afastada e sem receber pelo INSS.
"Para complementar a renda tenho que usar essa benção de Deus, essa pampinha aí que está toda quebrada", diz sem ironia. Como desossador, o salário de Júnior é em torno de R$ 1,2 mil, renda que é insuficiente para sustentar a casa onde vive com a sogra, a esposa grávida e um filho de 1 aninho.
"Minha vida é essa aí, você acha que eu quero andar com o carro daquele jeito? Jamais. Se eu tivesse condições financeiras e dinheiro, a coisa que eu mais queria nesse mundo era arrumar ela", ressalta.
O desossador conta que chega do frigorífico em torno de 16h, horário em que pega a Pampa e roda pela cidade em busca de ferro, cobre, plástico e o que mais der para ser vendido para a reciclagem.
"Meu salário não é muito, meu sogro que ajudava a gente. Moro dentro da casa da minha sogra, a covid levou ele tem dois meses, e agora quem está aguentando tudo sou eu. Minha esposa está encostada há quatro meses pelo INSS e até agora só recebeu uma parcela".
Com depressão, a mulher ainda precisa ter os remédios comprados, além de fazer todo o acompanhamento de pré-natal. "Eu não tô numa situação assim, desse jeito, porque eu quero. Se eu ganhasse bem, jamais passaria, você acha que eu chegaria do serviço em casa e já sairia correndo pra cima e pra baixo? Tenho medo agora do Detran tirar meu carro velho. As pessoas falam sem saber o que a gente passa", comenta.
A família mora em um bairro na região Sul da Capital, onde Júnior faz questão de chamar a reportagem para ir conhecer a realidade dele. A Pampa é resultado de uma troca feita com um primo depois que o Fusca do desossador teve um problema no motor. Para arrumar, era preciso gastar em torno de R$ 4 mil reais, dinheiro que Júnior não tinha.
"Vai fazer dois anos que ela está comigo. Eu trabalhava com equipamento de mexer com jardinagem, mas a concorrência está grande. Uma hora você tem, outra não tem, aí eu parti pra outra coisa, que é a reciclagem, entendeu?"
Dirigindo a Pampa, ele relata que é preciso rodar bastante para conseguir e em dias bons, chega a juntar R$ 180,00, mas isso trabalhando até 2h da manhã. "Através dela que a gente tem o pão de cada dia, esse dinheiro que eu tiro vou ajeitando pra poder pagar as contas. Eu queria encostar ela numa funilaria, se alguém pudesse me ajudar, eu ia agradecer muito", pede.
Quando o vídeo foi publicado, a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) informou que um carro nas condições como o que está a Pampa não poderia seguir circulando pela ruas. Segundo a explicação, caso fosse abordado por blitz, Júnior teria o veículo recolhido e levado para um dos pátios do Detran.
O contato do motorista para ajudar na funilaria é o: 9-9305-8395.