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Capital

Ele veio buscar maconha na fronteira e nunca mais voltou para a Bahia

Mariana Lopes | 18/09/2012 16:21
 Ele veio buscar maconha na fronteira e nunca mais voltou para a Bahia
Preso no presídio agroindustrial da Gameleira, ele trabalha na cozinha do semiaberto (Foto: Simão Nogueira)
Preso no presídio agroindustrial da Gameleira, ele trabalha na cozinha do semiaberto (Foto: Simão Nogueira)

Aventura e ambição. Duas palavras fortes que, por muito tempo, mandaram na vida de um jovem que deu de cara com as drogas ainda criança. Ele começou aos 12 anos como usuário, de ecstasy e LSD. Aos 15, descobriu que vender era muito mais vantajoso e deu o primeiro passo no tráfico.

É um jovem bonito, muito bem educado, de classe média alta, detento do presídio semiaberto do agroindustrial da Gameleira, em Campo Grande. A história de hoje da série do Campo Grande News não é de alguém que perdeu a juventude para o vício, mas sim para o tráfico de drogas.

Tudo começou em Porto Seguro, na Bahia, onde a família dele tinha uma pousada. No carnaval de 2004, o encontro com um grupo de turistas de Mato Grosso do Sul despertou o interesse de buscar maconha no Paraguai. “No Nordeste, a gente compra LSD, ecstay, lança-perfume, tudo em Campinas, e a maconha só vem daqui, então é vendida na Bahia a preço de ouro”, conta.

Estava tomada a decisão. Na semana pós-carnaval, ele arrumou as malas, entrou no carro com a namorada e pegou estrada rumo a Campo Grande. Na Capital Morena, passou uma semana para fazer os contatos necessários e seguir viagem ao Paraguai.

No país vizinho, ele trocou o próprio carro, um Saveiro, por 400 quilos de maconha. Colocou tudo dentro das malas e entrou em um ônibus para voltar a Porto Seguro. Mas a viagem do casal acabou em Dourados, onde foram presos em flagrante por tráfico de drogas.

Eles pegaram pena de 2 anos e 8 meses. Ele no Presídio de Segurança Máxima e ela no Presídio Feminino de Campo Grande. “Como fiz contatos bons, continuei fazendo negócios de dentro do presídio”, conta o rapaz, hoje com 26 anos.

Depois de pagar a pena e não dever mais nada à Justiça, como ele mesmo diz, o mundo “aqui fora” o chamou atrativamente de volta ao crime. Ele não desistiu de tentar levar maconha para a Bahia e continuou no tráfico de drogas.

Em 2009, ele voltou para a cadeia, mas desta vez por roubo. (Foto: Simão Nogueira)
Em 2009, ele voltou para a cadeia, mas desta vez por roubo. (Foto: Simão Nogueira)

“Não me considero um traficante de alto escalão, mas conheço gente grande, caras do PCC, braços direito do Beira-Mar”, diz o jovem, em um misto de orgulho, receio e um pouco de vergonha.

Em 2009, ele voltou para a cadeia, mas desta vez pelo artigo 157 do Código Penal. Roubo. Por causa desse crime, ele fica no Agroindustrial até 2014, quando pega condicional. Neste tempo, ele trabalha na cozinha do presídio do semiaberto e vai para casa nos finais de semana, quando passa o tempo com a família, que veio de Porto Seguro na primeira vez que ele foi preso.

“Me arrependo de ter jogado fora a minha juventude. Quero pagar tudo o que ainda devo e poder andar de cabeça erguida pela rua. O tráfico engrandece o olho, mas aprendi a ter medo. Hoje quero fazer uma nova história”, conta o rapaz.

Dos oito anos que viveu em Campo Grande, quatro ele passou atrás das grades. O mais longe que conseguiu ir com a droga foi em Goiás. A Bahia? Ele ainda sonha em um dia morar lá de novo, mas desde que veio para a fronteira, com a ambição de se tornar um grande traficante, ele nunca mais voltou para Porto Seguro.

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