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Capital

Em crise financeira, clínica atrasa salários e sofre até falta de medicamentos

Ex-funcionários afirmam que a situação precisa ser divulgada porque o problema se arrasta há anos

Lucia Morel | 20/12/2022 06:28
Sede da Clínica Carandá na saída para São Paulo, em Campo Grande. (Foto: Alex Machado)
Sede da Clínica Carandá na saída para São Paulo, em Campo Grande. (Foto: Alex Machado)

Com 94 processos na Justiça do Trabalho em trâmite e atrasos constantes no pagamento de salários e até de rescisões, a Clínica Carandá, localizada na Avenida Gury Marques, na altura do Jardim Santa Felicidade, enfrenta crise financeira, segundo o advogado da instituição, David Frizzo.

Ex-funcionários, alguns demitidos de lá recentemente, falaram com o Campo Grande News e afirmam que a situação precisa ser divulgada porque o problema se arrasta há anos sem uma solução. Francisca* é técnica de enfermagem e saiu da empresa em setembro deste ano.

Da rescisão de R$ 7 mil, ela recebeu apenas R$ 900,00 até agora e aceitou que o pagamento fosse parcelado. “Eles só pagaram uma parcela e mais nada”, lamentou. Quando ela entrou na clínica, em abril de 2022, ela não acreditava que teria esse tipo de problema. “Por fora é lindo”, fala.

Ela emenda que apesar dos atrasos, nunca houve casos de assédio moral. “Todos se tratavam bem e nunca houve problemas com pacientes também, todos se tratavam com respeito, mas não pagam salário, né?”, lamenta, avaliando que deverá acionar a Justiça contra a empresa. “Até hoje não me deixaram levar meu exame demissional, sempre arrumam uma desculpa”, conta.

Quase na mesma situação está Aline*, que nem chegou a completar os três meses de experiência na função de técnica de enfermagem para sair de lá. Ela pediu demissão porque em todo esse período recebeu apenas um Pix de R$ 300,00. “Quando encerraram os três meses eu saí, não tem condições”, exclama.

Para além do atraso nos pagamentos, ela reclamou da falta de medicamentos para os pacientes também. “Uma paciente que tinha tentado suicídio estava internada e o marido veio falar comigo perguntando sobre a medicação da esposa. Não tinha remédio pra ela na farmácia. Ele reclamou que não tinha convênio e pagava R$ 1 mil na internação e que mesmo assim não tinha remédio. Mandaram um cara de mototáxi comprar a medicação”, lembra.

A ex-funcionária reclama ainda do que julga como “total descaso” da empresa, já que houve dias em que faltou inclusive comida para os pacientes e fita medidora de glicose. “Tinham pacientes com diabetes, mas ou não tinha o que comer para eles, ou a cozinheira não foi, porque o paciente começou a passar mal e não tinha como medir a glicose dele”, disse.

Aline* comenta, por fim, que os profissionais da clínica se sentem desprotegidos, já que eles não tem segurança. “São pacientes psiquiátricos e muitos usuários de droga, então assim, eles podem sair do controle e quem tem que controlar somos nós”, lamenta, reforçando que “não tem mais ninguém pra contê-los”.

Sindicato – Em nota, o Siems (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem do Mato Grosso do Sul), através do presidente Sebastian Rojas, lembra que está na Justiça contra a Clínica Carandá.

“Lamentavelmente o Siems se depara com um grande desrespeito do empregador, no caso Clínica Carandá, para com os trabalhadores. Atrasos salariais, falta de pagamento de rescisão contratual, quebra de acordo judicial, tanto com a Enfermagem quanto com outras categorias”, lamentou.

O sindicato ajuizou ações judiciais na Justiça do Trabalho “para cumprimento dos direitos trabalhistas, inclusive, o sindicato fez denúncia ao Ministério Público do Trabalho. No entanto, a empresa volta a cometer os mesmos descumprimentos”, cita o sindicalista.

Sobre os atrasos nos pagamentos de quem ainda trabalha no local, o sindicato acredita que “devido às irregularidades, a Clínica sofre várias execuções na seara trabalhista, referente a profissionais de diversas áreas de trabalho, assim, a Clínica Carandá está tendo bloqueios dos convênios na fonte por conta das demandas judiciais que possui em andamento”.

Ao final da nota, o Siems cita que “já foi feito o pleito na Ação Coletiva impetrada pelo Siems, mas ainda não há nada concreto sobre o bloqueio ser direcionado para categoria da Enfermagem. Ainda não há conhecimento de quais processos bloquearam os convênios visto as demasiadas execuções que possuem de todas as categorias”.

Clínica – O advogado da Clínica Carandá, David Frizzo, diz que a empresa está passando por crise financeira desde o ano passado, quando também houve pedido de demissão em massa. “Fizemos praticamente 40% dos acordos e estamos cumprindo e os que não chegaram a acordo estão com ação em trâmite”, comentou.

Ele afirma que não é má-fé da empresa, mas a onda de demissões agravou uma crise financeira que já vinha se estabelecendo e com os bloqueios na Justiça, “há também bloqueio do faturamento e não conseguimos pagar quem está trabalhando”, reforçou, ponderando que “os salários atuais estão em dia, mas alguns atrasos são inevitáveis para manter os acordos em dia”.

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