Moradores se desesperam com despejo de obra invadida e condenada pelos Bombeiros
"Se estamos aqui é porque não temos para onde ir”, dizem moradores de condomínio Nova Alvorada
A ordem de despejo para moradores do condomínio Nova Alvorada, no bairro São Jorge da Lagoa, em Campo Grande, desesperou quem mora no imóvel invadido há anos. Com lugar sem saneamento básico, água ou luz, quem vive na base da gambiarra, entre as paredes sem cobertura, se questiona para onde ir. Eles têm 60 dias para deixar o local por decisão judicial e a construção já foi condenada pelos Bombeiros, por risco de desabamento.
Com medo, algumas famílias tentaram invadir uma área pública no Jardim Tijuca. A Guarda Civil Metropolitana precisou ser acionada. Moradores saíram em caravana para o local. São cerca de 80 pessoas, dentre elas 20 crianças.
Conhecido como "Carandiru do São Jorge da Lagoa", por fora, os 16 apartamentos do condomínio Nova Alvorada, estão ainda nos tijolos, mas por dentro, alguns possuem revestimento, feito pelos próprios residentes ao longo do tempo.
Marlene Garcia, de 62 anos, mora no lugar há 10. Ela conta que desde quando chegou tem investido aos poucos na casa, que possui dois quartos, sala, cozinha e banheiro. O chão é coberto por um tapete e um balcão separa a cozinha da sala. Ela estudava colocar um box no banheiro. Além disso, os cômodos estão pintados. Quando a reportagem chegou ela arrumava as roupas. Uma exceção em meio a simplicidade dos outros apartamentos.
“Já que tem que sair estava me preparando, já esperava que algum dia isso ia acontecer, mas para onde ir? Desde a pandemia estou desempregada e meu filho trabalha fora em fazenda. Eu trabalhava como chefe de cozinha, mas por problema de saúde não consigo trabalhar mais, estou tentando me aposentar por invalidez, por enquanto minha renda é só bolsa família”.
Márcia de Souza, de 40 anos, mora no lugar há 11. Quando chegou os térreos já estavam ocupados. Na época ela estava desempregada e a filha tinha sofrido acidente. Segundo ela, não havia possibilidade de trabalhar e abandonar a filha sozinha.
“Sempre soube que iríamos sair daqui a alguns dias mas mesmo assim não estava preparada. O desespero maior é para onde eu vou? Se nós estamos aqui é porque não temos para onde ir”.
Ela alega que soube da invasão por um vizinho, foi até o imóvel e nunca mais saiu. Como ela, o pai de 78 anos, que mora ao lado. Ela acrescenta que possui inúmeros problemas de saúde, o que também dificulta a permanência em um trabalho. “Se hoje estou em pé é porque eu não me dobro, mas mal estou conseguindo andar hoje”.
Cibele da Silva, de 37 anos, é diarista, mora com os três filhos, de 18, 11 e 9 anos, no último andar do condomínio. “Nos já fomos na prefeitura e eles falam que não tem o que fazer, moramos aqui há mais de 10 anos e não temos para onde ir. E está complicado. Eu não tenho condições porque se pagar aluguel, passo fome com os meus filhos. O sentimento é de desespero”.
Aparecido de Freitas tem 40 anos e mora no condomínio com a esposa, Eloisa da Costa, de 26 anos, e com os três filhos, de 10, 8 e 3 anos. Ele é pedreiro, tem emprego fixo, mas parte do dinheiro que ganha é usado para pagar a pensão de outros filhos, o que segundo a esposa, compromete a renda da casa, já que ela não tem trabalho fixo.
“Não temos condições financeiras, o que queremos é um lar, não tem como sair daqui e ir para a rua. Eu gosto daqui, o meu guri cresceu aqui, ele ficou muito triste. ontem ele chorou e perguntou pra onde nós vamos. Estamos aqui resistindo e sobrevivendo”.
O marido comenta que o laudo de que o lugar poderia cair não é válido, visto pelo tempo que o prédio ainda está em pé. “Se não caiu até agora não cai mais, sou pedreiro e vejo que o prédio está em boas condições, não concordo com a condenação, a estrutura dele não tem nenhuma rachadura. Vamos para onde?para baixo do viaduto? Se tivesse condições sairia de cabeça erguida. Temos medo que isso possa pegar fogo ou desabe, mas não temos para onde ir”.
Os inquilinos irregulares contam que antes o local era uma ‘boca de fumo’, que limparam o terreno e plantaram mudas. Nos fundos do imóvel existe plantação de maracujá, banana, abacaxi e flores.
Lucas de souza, 24 anos é o mais novo dos entrevistados, ele mora há 5 anos no condomínio. Com ele a mãe e o padrasto. Ele comenta que o lugar virou familiar, pois no andar de cima, moram a irmã, no andar de baixo, o irmão com a cunhada e dois sobrinhos.
“O sentimento é de tristeza. A gente limpa e está cuidando e agora vai ter que deixar. Ele trabalha como operador de cartão e padrasto auxiliar de limpeza. OS três registrados, mas mesmo assim não tem condições de pagar aluguel”.
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