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Capital

Empresário é condenado a 15 anos por matar por racismo, mas fica livre

Angela Kempfer e Nadyenka Souza | 25/02/2011 15:31

Réu conta com habeas corpus preventivo

Geraldo no Tribunal do Júri na manhã de hoje. (Foto: JOão Garrigó)
Geraldo no Tribunal do Júri na manhã de hoje. (Foto: JOão Garrigó)

A maioria dos 7 jurados considerou culpado e condenou a 15 anos em regime fechado Geraldo Francisco Lessa, pela morte de Anderson da Silva Faria, de 20 anos,em 2007. A diferença foi bem pequena na votação, com placar de 4 a 3.

Mas o réu saiu do Tribunal do Júri na tarde de hoje livre. Como já tinha habeas corpus preventivo, poderá recorrer em liberdade. Caso a sentença seja mantida em todas as instâncias, ele só deve ser preso depois que acabarem todas as possibilidades de recurso.

O julgamento começou às 8h em Campo Grande e terminou há pouco. Os jurados votaram pela culpa pelo assassinato, por motivo torpe e avaliaram que não houve provocação da vitima, como a defesa alegou . O crime aconteceu em 29 de dezembro de 2007, no bairro Parque do Sol, em Campo Grande.

Pouco antes de ser proferida a sentença, a namorada de Anderson na época do assassinato, disse ter certeza de que o tio matou o rapaz por racismo. “Disso eu não tenho dúvidas, pelo que conheço dele e pelo que ele demonstrava”.

Eunice Zeli Lessa, de 20 anos, garante que durante o tempo em que trabalhou na padaria de Geraldo, por várias ouviu o tio fazer comentários pejorativos sobre pessoas negras. “Esse preconceito eu já conheço, Sempre que algum negro entrava, ele fazia comentários sobre o cheiro ou a cor”, relatou.

A jovem namorou por 7 meses com Anderson, até a morte do rapaz. No hospital, onde o jovem ficou internado por 14 dias, a namorada ouviu a versão dele sobre o que ocorreu.

Anderson contou, segundo Eunice, que passava em frente a padaria, quando foi ofendido por Geraldo. Ao voltar para tirar satisfações, foi agredido, a briga começou e de repente foi ouvido o disparo de arma de fogo.

A garota afirma que o namorado não estava armado, ao contrário do tio. “Ele (Geraldo) sempre levava a arma aos fins de semana para a padaria”. Após o crime, a arma nunca foi encontrada.

Depois do que aconteceu, ela diz que se afastou do tio e também do resto da família e hoje só tem contato com os pais e irmãos. “Um dia, ele falou para a minha irmã que não aprovava o namoro porque o Anderson era negro e pobre”, lembra.

Julgamento teve plenário lotado. (Foto: João Garrigó)
Julgamento teve plenário lotado. (Foto: João Garrigó)

A mãe do rapaz, Cleonice Rocha da Silva, depois de ouvir a treplica da defesa - na última fase do julgamento, saiu do Tribunal de Júri chorando. “Fico revoltada com a versão deles, porque sei o filho que tinha, sei como eu eduquei”.

A revolta ocorreu diante da versão da defesa de que Anderson chegou armado á padaria de Geraldo, e provocou a briga., tese que não convenceu os jurados que decidiram pela condenação de Geraldo.

Depois da sentença, a mãe resumiu: "A justiça esta começando a ser feita, depois de 3 anos de luta, porque ainda há muita guerra pela frente"

Cleonice considera esse o primeiro passo para provar que Anderson foi mais uma vítima de racismo.

Eunice, a ex-namorada, diz que o resultado "dá um pouco de alívio, porque a Justiça não vai trazer o Anderson de volta e nem reconstruir tudo o que eu tinha sonhado".

O advogado, José Roberto Rodrigues da Rosa, disse que vai entrar com recurso para anular o resultado do julgamento, alegando não haver provas para a condenação.

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