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Capital

Empresas que “lavaram” R$ 50 milhões da grana suja do tráfico ficam na mesma rua

A partir de apreensão de cocaína no Rio Grande do Sul, operação traçou a rota do dinheiro

Aline dos Santos | 11/08/2021 10:08



Com apenas três quadras, a Rua Serra dos Apiacás, no Bairro São Jorge da Lagoa, em Campo Grande, também é o endereço da lavagem de dinheiro do tráfico internacional. Ontem, a operação Tríade, liderada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, foi à duas empresas de fachada que movimentaram R$ 50 milhões. As duas ficam na Serra dos Apiacás, a meia quadra de distância.

A maior movimentação, R$ 35 milhões, foi de empresa em nome de servidor da prefeitura de Campo Grande. No papel, consta que atua no ramo de informática, mas na prática, é um depósito. “A empresa nunca existiu de fato, apenas usava seus dados e contas bancárias a serviço do narcotráfico”, diz o titular da Draco de Bagé (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), Cristiano Ritta.

Já outros R$ 15 milhões correspondem à movimentação financeira da empresa, que tem como proprietária, funcionária de empresa de limpeza em Mato Grosso do Sul. No local, a polícia encontrou uma casa abandonada.

A partir de apreensão de cocaína no Rio Grande do Sul, a operação Tríade traçou a rota do dinheiro.

“Durante as investigações, nós apreendemos centenas de comprovantes bancários. Os traficantes na região de Bagé compravam a droga e a organização criminosa mandava fazer depósito do dinheiro do tráfico em contas bancárias espalhada por todo Brasil. Algumas dessas contas eram de empresas do Mato Grosso do Sul, onde cumprimos os mandados de buscas. Nós obtivemos as informações da quebra do sigilo bancário dessas empresas e descobrimos que essas duas empresas no Mato Grosso do Sul movimentaram R$ 50 milhões em operações fraudulentas”, afirma o delegado.

A investigação aponta que a faxineira e o servidor recebiam pagamento para emprestar as contas bancárias e documentos para o tráfico. De acordo com o delegado, não houve pedido de prisão dos “laranjas” (pessoas que ocultam dinheiro de origem ilícita). “Nessa fase, estávamos buscando apenas o patrimônio das organizações criminosas”, salienta o titular da Draco de Bagé.

Os “rendimentos” do tráfico eram depositados nas contas de “laranjas” em Bagé e outras cidades gaúchas. Depois, eram enviados ao exterior para pagamento da droga e também retornava aos traficantes no Rio Grande do Sul. A movimentação era controlada pelos operadores da organização criminosa e as idas e vindas dos valores serviam para dificultar o rastreamento do dinheiro, que totalizou R$ 78 milhões.

A operação investiga três facções criminosas: PCC (Primeiro Comando da Capital), Tauras e Os Manos. As duas últimas com atuação predominante no Rio Grande do Sul.

A Polícia Civil cumpriu 120 ordens judiciais de busca e apreensão, bloqueio de contas bancárias e sequestro de bens e valores no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, a operação teve apoio do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado).

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