Enquanto epidemia avança, morador está há anos sem ver agente de saúde
Grávida de oito meses, a dona de casa Carmen Jalin Paes Vital mostra, em sua cozinha, o último registro da visita de um agente de saúde na casa onde reside há seis meses, no Bairro Estrela Dalva: abril de 2013. Enquanto isso, o último balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde revela aumento de 47% no número de notificações de casos suspeitos de dengue.
Apesar da ação do tempo, é possível verificar, nos dois papéis fixados na parede, que entre os anos de 2010 e 2013 as visitas eram frequentes. Porém, cessaram antes do fim do primeiro semestre de 2013 e não foram mais retomadas.
Mesmo a região não constando no ranking dos bairros com alto índice de infestações do mosquito Aedes aegypti, a dona de casa, que mora na Rua do Elefante com o marido e uma filha adolescente de 12 anos, se mostra preocupada com a ausência dos profissionais.
Ela explica que a família que morava no local também teria dito que nunca havia recebido a visita de qualquer agente e que a casa nunca ficou fechada nem por um mês durante esse período. "Aqui sempre teve gente morando. A menina que estava aqui ficava direto, sempre tinha alguém o dia todo", afirma.
Apreensiva por conta da proliferação e da falta de informações sobre a real gravidade do zika vírus, Carmen conta que o marido, servente de pedreiro, está há duas semanas com dengue, por isso acredita que na rua exista focos do mosquito Aedes aegypti.
"Aqui em casa está tudo coberto no quintal, mas se tiver outras casas que não estão recebendo a visita dos agentes, não tem como saber a situação", ressalta.
Além de Carmen, a aposentada Romilda Paes Vital, diz que também não vê agentes circulando pela região há pelo menos seis meses.
Moradora na Rua 9 de Maio, no Jardim Futurista, ela revela que mora nos fundos de um terreno que não recebe a visita de agentes há quase oito meses porque a dona da casa não permite a entrada deles.
Mesmo não existindo a lei que permite hoje a entrada dos profissionais com ajuda policial, ela chegou a sugerir ao último agente que acionasse a polícia, pois se preocupa com a situação do terreno onde mora. Com problemas de saúde e na cadeira de rodas, ela diz que não pode eliminar sozinha o lixo que a proprietária do terreno acumulou.
"Tenho um monte de problemas de saúde. Se eu pegar alguma dessas doenças transmitida pelo mosquito, não sei se resisto", enfatiza.
Perto dali, na Rua Cidade Jardim, no Bairro Danúbio Azul, a dona de casa Luciana Uruê, também sofre há duas semana com sintomas de dengue. Ela conta que pelo menso há um mês não recebe a visita de nenhum profissional para verificar as condições de sua casa.
Sem orientações - Em plena epidemia de dengue na cidade, ela acredita que a falta de agentes prejudica a orientação sobre os cuidados para evitar a proliferação do mosquito. "Procuro limpar meu quintal do jeito que acho certo. Meu marido trabalha com mármore e utiliza alguns pneus para colocar as placas, mas tomo cuidado para não acumular água neles", diz.
Também moradora na mesma rua, a operadora de caixa Olíria Rocha, revela que segunda-feira (1) foi o primeiro dia que recebeu uma agente de saúde depois de um ano em sua casa.
Como sempre trabalhou de manhã, ela diz que os agentes deixavam avisos que haviam passado, mas nunca alteraram o horário das visitas. "Só agora que passei a ficar em casa recebi a visita de um agente ontem", afirma.
Na sua opinião, o quadro de epidemia é preocupante, por isso considera importante coordenar as ações dos agentes para que todas as casas sejam atendidas, mesmo quando a família está trabalhando. "Se falta agente deveria contratar mais então", ressalta.
A agente de saúde Joaneci Brandão, que na manhã de terça-feira (2) visitava casas na Rua Cidade Jardim e que atua na área que compreende os bairros Arco Íris, Montevidéu, Taquaral, Estrela Dalva e Bosque do Carvalho, diz que sua região totaliza 27 agentes, mas que cinco se afastaram por problemas de saúde ou pediram exoneração. "Parece pouco, mas faz muita falta, principalmente porque nessa fase de mutirões temos que cobrir também essas áreas que estão descobertas pela falta de profissionais", destaca.
Quanto ao horário das visitas, ela diz que, de fato, várias famílias não são encontradas no momento da visita, porém ela procura voltar no dia seguinte, em um horário alternativo. "Procuro manter meu cronograma mensal, visitando entre dez e 12 casas por dia. Se uma fica sem visita, prejudica a qualidade do serviço", afirma.
Concurso - Em nota, a assessoria da prefeitura informa que os agentes são orientados a deixar um bilhete na residência quando não localizam a família. Os profissinais também devem informar a chefia sobre qualquer tipo de ocorrência que tenha dificultado a visita, para que outras ações sejam tomadas.
Quanto ao número de agentes atuando no combate à dengue, em novembro, quando lançou o dia D contra o Aedes, o prefeito Alcides Bernal (PP) ressaltou que 2,5 mil agentes atuariam em todas as regiões da cidade, porém a assessoria não confirmou se há deficit de pessoal, mas ressaltou que este ano irá realizar concurso tanto para agentes de endemias quanto para de saúde.