Escolas públicas tradicionais da Capital “caçam” alunos para ensino médio
Ao fim do primeiro prazo para matrículas na rede estadual de ensino, algumas das escolas públicas mais tradicionais de Campo Grande anunciam: temos vagas. A procura por alunos é principalmente para as séries do ensino médio, onde faltam estudantes principalmente para o período noturno.
Na escola Maria Constança de Barros Machado, no bairro Amambaí, uma faixa informa que existem vagas. O antigo "Estadual", como já foi conhecida a escola famosa por ser projetada por Oscar Niemeyer, já foi uma das mais difícieis de conseguir vaga e hoje tem disponíveis cerca de 260 vagas para o 9º ano do ensino fundamental e a 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio. A escola tem capacidade para 1.138 alunos, entre o 9º ano e ensino médio.
Na Escola Hércules Maymone, com capacidade para cerca de 3 mil alunos entre o 9º ano e o ensino médio regular e técnico, existem pelo menos 1,9 mil vagas em aberto.
No Joaquim Murtinho, na Afonso Pena, historicamente a mais disputada, até com sorteios em praça pública diante da disputa por matrículas, ainda há 10% das vagas do ensino médio regular, de um total de 2 mil.
Na Riachuelo, no bairro Cabreúva, são 80 vagas em aberto para as séries do ensino médio no período matutino e 80 vagas para o ensino fundamental vespertino. A capacidade total é de 700 alunos.
A SED (Secretaria Estadual de Educação) informou que 35% das cerca de 3 mil vagas da rede estadual estão ainda em aberto na Capital. A secretaria não soube informar qual o percentual de vagas somente no ensino médio.
Essas vagas serão disponibilizadas a partir de amanhã, no último período de pré-matrícula, que vai até o dia 27. Nesta fase acontece a “repescagem” das vagas, quando os candidatos que perderam o primeiro prazo concorrem às vagas remanescentes.
O diretor da Maria Constança observa que até o início das aulas a previsão é de que boa parte das vagas em aberto na escola sejam preenchidas, mas afirma que ainda assim é visível a diminuição na procura por matrículas no ensino médio nos últimos 4 anos, principalmente para as séries do 2º e 3º ano, e no do período noturno.
“Alguns alunos até começam a fazer, mas depois desistem ou preferem pegar o diploma de conclusão pela EJA ou pela nota do Enem”, diz.
Noturno-A procura menor é sentida principalmente no ensino médio regular do período noturno, de acordo com os diretores. A escola Riachuelo resolveu fechar as salas que funcionavam à noite em 2010 por falta de interessados.
O diretor da Maria Constança afirma que 60% das vagas ainda em aberto na escola são para o ensino médio do período noturno. “Se as nossas vagas fossem todas para o matutino seria mais fácil conseguir aluno”, diz.
Ele atribui a perda de interesse pelo período noturno, principalmente, às novas alternativas para concluir o ensino médio. Segundo ele, os alunos que antes optavam pela matrícula no período noturno são boa parte dos que agora preferem concluir o ensino médio de forma mais rápida, com a EJA (Educação de Jovens e Adultos) ou usando nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
A diretora do Riachuelo, Enonides Rezende, frisa que a diminuição de alunos no ensino médio regular, principalmente do noturno, que era procurado por alunos que trabalham o dia todo mas precisavam terminar os estudos, é algo preocupante e que pode prejudicar o estudante no futuro.
“O aluno não quer mais ficar 3 anos estudando, sabendo que tem outro meios para conseguir o diploma de forma mais rápido. Só interessa o diploma, mas e a aprendizagem? Vai sair um estudante sem qualificação para fazer uma faculdade, por exemplo”, chama a atenção.
O aluno com mais de 18 anos pode obter o diploma de ensino médio pela nota do Enem. Ele precisa fazer a inscrição e obter, no mínimo, 400 pontos na prova e 500 na redação.
A reportagem apurou que alunos que já estavam reprovados por falta conseguiram o certificado fazendo o Enem.
A EJA é oferecida pela rede pública estadual, também para alunos com mais de 18 anos. As escolas públicas também oferecem a opção do ensino médio em tempo integral e a educação profissional técnica de nível médio, onde o aluno faz cursos técnicos no mesmo período em que cursa as aulas.
A secretaria não informou a quantidade de escolas que oferecem as novas modalidades de ensino médio, como também a quantidade total de vagas.
Dados - Apesar dos índicios das escolas já citadas, a Secretaria não confirma que a procura por matrículas no ensino médio tem diminuído. Segundo dados estaduais do Censo Escolar, fornecidos pela SED, foram registradas mais de 78 mil matrículas em 2009 e a média de 86 mil em 2010 e 2011.
O dado não especifica o número de concluintes do ensino médio regular, nem as matrículas feitas somente em Campo Grande.
Sobre a diminuição da procura por vagas no período noturno, a secretaria considera que são reflexo do bom resultado das políticas de educação, “pois a escola está mais acessível e o aluno está concluindo o ensino médio antes de entrar no mercado de trabalho, isto é, antes de completar a maior idade, frequentando o ensino médio diurno”.
Já a migração para o EJA e a nota do Enem não apresenta aumento, na avaliação da Secretaria. Conforme observação do órgão, além da opção de cada aluno, diversas questões sociais levam o estudante a não cursar o ensino médio regular.
A necessidade de completar a renda familiar e buscar colocação no mercado de trabalho, a gravidez e vício nas drogas são alguns dos fatores apontados como responsáveis pela interrupção do estudo regular.