Espera por medicação é a agonia de Regina, que convive com câncer há 3 anos
Luta da mulher de 42 anos é para que SUS pague por remédios de R$ 35 mil mensais que controlam doença
Ouvir o “tique-taque” do relógio é tortura para Regina Maura Robim da Silva, de 42 anos. “Tenho crises de ansiedade todos os dias”, conta a auxiliar de produção aposentada, que há 3 anos faz tratamento para câncer e há 4 meses espera para começar nova medicação. A luta da vez é conseguir que o SUS (Sistema Único de Saúde) pague pelos remédios que farão a doença ficar controlada e garantir a qualidade de vida da paciente, provavelmente sem chance de se curar.
Mãe de três meninos e avó, Regina já passou por duas cirurgias – a primeira, em março de 2022, para a retirada de 40% de uma das mamas, após seis sessões de quimioterapia, e a segunda, em julho do ano passado, quando precisou retirar toda a mama e ainda parte da axila. Aposentada por invalidez, justamente por causa do câncer, em abril de 2023, ela descobriu que a doença havia avançado para um dos pulmões, fígado e trompa uterina (que também foi retirada em cirurgia).
Como sequela da quimioterapia, a paciente adquiriu problemas cardíacos e neurológicos. Por isso, não pode passar por mais sessões. A recomendação médica é que agora parta para a quimioterapia oral e bloqueio hormonal, para evitar o avanço do câncer metastático, mas Regina ainda não conseguiu iniciar o tratamento – que custa pelo menos R$ 35 mil por mês.
Desde que recebeu a receita das medicações – 60 doses mensais de Abemaciclibe e aplicações de Fulvestranto 250 mg –, em setembro de 2023, foi atrás dos orçamentos para a compra em clínicas particulares e conta com a ajuda da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, que propôs ação na Justiça para obrigar o Governo do Estado a pagar pelos remédios.
No primeiro pedido judicial, feito no dia 17 de outubro de 2023, o defensor Nilton Marcelo de Camargo ressalta a urgência para o início do tratamento. “O médico asseverou que a requerente corre sérios riscos como perda irreversível de órgãos ou funções orgânicas e óbito, caso não faça uso do fármaco prescrito o mais breve possível”.
No dia 30 do mesmo mês, a juíza Cíntia Xavier Letteriello determinou que em 15 dias a administração estadual começasse a fornecer a medicação, mas a decisão judicial não foi cumprida. Por isso, em 11 de dezembro, o defensor Hiram Nascimento Cabrita de Santana voltou à Justiça para requerer que R$ 271.466,64 – suficientes para 6 meses de tratamento – fossem sequestrados dos cofres estaduais, garantindo seis meses de tratamento para Regina.
O Estado alega que o governo federal é quem tem de fornecer a medicação e até agora, não houve nova decisão judicial.
Nesta terça-feira (22), o defensor Fabrício Cedro Dias de Aquino reiterou o pedido de bloqueio e sequestro de valores. “Cumpre informar que o requerido [Governo de MS] persiste no descumprimento da ordem judicial, uma vez que o tratamento não foi disponibilizado, resultando no agravamento da patologia que acomete a exequente, inclusive a morte”, alertou.
Enquanto espera, a aposentada diz que se apega à fé, além de ter a ajuda de associação e grupo de apoio para se manter firme. “Faço acompanhamento nutricional, terapia, falo sobre o câncer com um grupo de mulheres que se chama ‘As vencedoras’ e tenho esperança que vou conseguir o que preciso, porque para Deus nada é impossível”.
Regina lembra, contudo, que tem pressa. “Já tem quase 4 meses, um tempo que um paciente oncológico não pode esperar. É um tempo crucial”.
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