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Capital

“Estou juntando os cacos”, diz mulher que perdeu 400 mil em estelionato afetivo

Vítima perdeu casa, carro e até processo contra o criminoso

Mirian Machado e Viviane Oliveira | 22/06/2022 14:26
Mão da vítima durante relato nesta manhã. (Foto: Marcos Maluf)
Mão da vítima durante relato nesta manhã. (Foto: Marcos Maluf)

Ainda abalada com tudo o que viveu depois de ter sido vítima do estelionatário Teodoro Cassiano Cardoso, 52 anos, funcionária pública, de 59 anos, avalia que o bandido se aproveitou de um momento de carência. O resultado foi prejuízo sem precedentes na vida dela. A mulher perdeu casa, carro e hoje acumula divida de R$ 400 mil, além de muitos problemas psicológicos.

A vítima contou ao Campo Grande News que conheceu o homem conhecido agora como "Fazendeiro do Amor" em 2013, em um bar da Capital. Na ocasião, ele se apresentou como “Edu”. O estelionatário mentiu que tinha fazendas e trabalhava com compra e venda de propriedades rurais.

Ainda segundo relato dela, ele era bem relacionado, falava muito bem, tinha amigos advogados e por várias vezes conversava com pessoas sobre negociação de fazendas. Mas o que "pegava" era a gentileza.

“Ele me tratava como ninguém jamais tinha me tratado na vida. Era carinhoso, levava água e café na cama. Sempre me tratou muito bem”, lembra.

A situação começou a desandar quando, segundo ela, “Edu” a escutou falar ao telefone que queria vender uma casa que ficava na Vila Giocondo Orsi, para ir para outro imóvel menor, já que vivia apenas com o filho, de 14 anos, na época. A casa valia R$ 300 mil, porém estava penhorada. Apesar do entrave, “Edu” a convenceu sobre a venda do imóvel, inclusive, arrumou um casal de supostos interessados. Conforme pesquisas posteriores, a vítima descobriu que o tal "comparsa" já tem passagens pela polícia, inclusive estava com mandado de prisão em aberto.

Teodoro quando foi preso na Capital em 2012 por estelionato. (Foto: Arquivo)
Teodoro quando foi preso na Capital em 2012 por estelionato. (Foto: Arquivo)

Naquela época, o namorado chegou a apresentar uma casa a ela "muito bonita no Bairro Antônio Vendas, afirmando que era dele e que a levaria para morar com ele", conta.

Convencida, ambos fizeram acordo de vender o imóvel do Giocondo Orsi por R$ 150 mil, com a condição de que o casal pagaria a penhora. Com tudo acertado, a vítima foi até o cartório sozinha e lá questionou sobre o valor que receberia no ato, que era de R$ 55 mil e um carro. A resposta do falso comprador foi de que, como o valor era alto, precisava pegar no banco, "mas garantiu que eu podia confiar, por isso assinei todos os recibo", justifica.

O tempo passou, o dinheiro não veio e a mulher questionou “Edu” sobre o dinheiro, já que havia iniciado a mudança e tirado os móveis da casa, sem ter para onde ir. O estelionatário então colocou a mulher em outra casa mobiliada.

A única parte do pagamento efetivada foi um carro Peugeot. Mas por problemas mecânicos, não saiu da oficina e a mulher nunca mais viu o automóvel. Preocupada, ela diz que questionava o namorado sobre o carro e o dinheiro, porém, ele a dizia para fica calma, que tudo se ajeitaria. "Levou até outro carro velho, mas eu recusei".

Até que um certo dia, uma sobrinha da mulher ligou para ela avisando que tinha visto “Edu” com uma mulher loira, que se passava por delegada e disse para a mesma sair daquela residência. Foi aí que "abri os olhos e sai da casa. Ele sumiu", lembra.

Desde então, em quase 10 anos, a servidora garante que acumulou um prejuízo de R$ 400 mil referentes a casa que perdeu e de contratar 6 advogados durante esse tempo que não conseguiram ajudá-la, além de custos com processos e terapia para ela e para o filho.

“Desenvolvi distúrbio emocional. Não consegui mais me relacionar com ninguém, adquiri uma doença autoimune. Isso não é mais vida. Não quero mais a casa eu quero é paz, que a justiça seja feita”, lamentou chorando.

Ela chegou a abrir três processos, um deles na área criminal, porém perdeu o primeiro, na área cível, pois não conseguiu provar que foi vítima do estelionatário, mesmo após ao menos três prisões de Teodoro.

“Hoje estou só o caco por dentro. Vivendo com a ajuda de empréstimos consignados, morando de aluguel, cartões bloqueados. Eu só quero formar um filho agora”, concluiu.

Teodoro Cassiano Cardoso, o "Fazendeiro do Amor", preso no começo do mês. (Foto: Divulgação | Polícia Civil de Rondônia)
Teodoro Cassiano Cardoso, o "Fazendeiro do Amor", preso no começo do mês. (Foto: Divulgação | Polícia Civil de Rondônia)

Teodoro foi preso no inicio deste mês na cidade de Presidente Médici, em Rondônia com mandado de prisão em aberto Ele morava na cidade desde final do ano passado. O homem estava com documentos falsos e chegou a tentar subornar os policiais, oferecendo R$ 50 mil. Apelidado de “Fazendeiro do Amor” pelos investigadores, Teodoro foi preso após uma das mulheres lesadas por ele ter perdido a única casa que tinha após se envolver com o criminoso.

“Fazendeiro do Amor” - Em outubro 2012, Teodoro foi preso em uma padaria na Avenida Mato Grosso, em Campo Grande, suspeito de ter praticado mais de 30 estelionatos no Estado. Na época, o suspeito tinha 43 anos e já havia sido preso em flagrante, em uma tentativa de estelionato no início de janeiro daquele ano. Em maio, conseguiu na justiça cumprir pena em regime semiaberto.

Dia 9 de junho ele fugiu, mas acabou sendo pego em dezembro daquele ano, mas acabou fugindo no mesmo mês. No ano seguinte, dia 14 de maio, Teodoro foi preso novamente em uma outra tentativa de golpe. Ele foi localizado enquanto tentava vender o imóvel onde morava por R$ 150 mil.

Em outubro de 2017, um boletim de ocorrências foi feito contra Teodoro. Na ocasião, ele se passou por fazendeiro e consumiu R$ 1,1 mil em um bar na Rua Antônio Maria Coelho, em Campo Grande e saiu sem pagar.

Conforme boletim de ocorrência, o comerciante de 33 anos, contou que há dias o autor junto com grupo de amigas foi até o seu estabelecimento e consumiu R$ 850. Na hora de pagar, o homem se apresentou como Eduardo, disse que era fazendeiro e acertaria a conta depois.

Cerca de um ano depois, em novembro de 2018, Teodoro foi preso novamente em um bar próximo a Orla Morena, na Capital. Na época, ele acumulava 14 processos por estelionato e estava com dois mandados de prisão em aberto.

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