Estudantes avaliam saúde de caminhoneiros que percorrem a Rota Bioceânica
Cerca de 50 caminhoneiros passaram pelos exames e orientações dos professores e alunos
Caminhoneiros quE percorrem a Rota Bioceânica, passaram por exames de saúde em ação realizada por acadêmicos do curso de Medicina da Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), na Capital. Em pleno posto de parada dos motoristas em uma das saídas de Campo Grande, os trabalhadores foram submetidos a exame físico (peso, altura, medida da circunferência abdominal, Índice de Massa Corpórea – IMC e aferição de sinais vitais), e exame laboratorial (teste rápido de glicemia capilar e teste rápido de colesterol total/frações e triglicerídeos). Cerca de 50 caminhoneiros passaram pelos exames e orientações dos professores e alunos.
A ação faz parte do projeto de extensão “Análise do Risco Cardiovascular dos Caminhoneiros que Trafegam por Cidades que Compõe a Rota Bioceânica em Mato Grosso do Sul” e é coordenado pela professora doutora Alessandra Aparecida Vieira Machado, com a colaboração do também professor da UEMS, o médico patologista Renato Arruda.
Caminhoneiro há 43 anos, José Carlos Petrilho, admite que não faz os exames com frequência e ainda não tem os cuidados necessários com a saúde. “É importante porque a gente não vai, né. É difícil parar pra poder ir fazer o exame. É que somos sem vergonha. Não vamos por preguiça. Mas pra ir pro botequim, pro forró a gente gosta. Por isso que temos que aproveitar a oportunidade”, brincou o caminhoneiro.
Com a pressão arterial um pouco alterada, "seo" José justificou que não costuma seguir as orientações do médico. “A pressão tá um pouquinho alta, mas é porque comi uns negócio ali. Comi errado né”, disse.
A professora Alessandra explica que o atendimento contou com o uso do teste rápido ou point-of-care testing de perfil lipídico na prática clínica “beira de leito”. “Em quarenta segundos esse aparelho me dá informações sobre o colesterol total, triglicerídeos, VLDL, HDL e o LDL, que é o colesterol bom e o ruim. Então se o paciente já tiver alguma alteração na hora a gente vê. Nosso objetivo é verificar se o aparelho é efetivamente eficaz para uso na saúde pública. A gente ainda vai tabular esses dados, analisar, então a gente quer ver o custo benefício dessa nova tecnologia para aplicar em maior de escala. Verificar a acurácia desse aparelho, se ele é tão confiável quanto o exame de laboratório, se ele tá dentro da discrepância aceitável e aplicabilidade dele com as equipes de saúde”, explicou.
Conforme o professor Renato Arruda, estes trabalhadores são mais vulneráveis, uma vez que a maioria é sedentário e estão expostos a situações de estresse. “São trabalhadores que são na maioria homem sedentários, com uma carga de trabalho muito grande, sujeitos a níveis elevados de estresse, por pressão de chegar ao destino, custo do frete, entre outros fatores, que associados a outros fatores de risco como colesterol, hipertensão, diabetes, aumentam a vulnerabilidade dessa população”, explica o professor Renato Arruda.
Além do aprendizado voltado para área médica, os alunos participam de um projeto de Letramento em Saúde, que envolve o atendimento humanizado estabelecendo uma comunicação dialógica com o paciente. Uma das abordagens usa o método Tech-Back, que solicita ao paciente que declare em suas próprias palavras o que eles precisam saber ou fazer. “Quando vamos conversar com o paciente, começamos a passar as informações principais de forma mais resumida possível e mais simplificada possível. A partir do momento que percebemos que o paciente está entendendo, vamos tornando essa informação mais complexa, até o paciente entender todo o processo de adoecimento que ele pode estar tendo ou como evitar a doença.”, explica o acadêmico do curso de Medicina, Luciano Arnaldo.
“O que está acontecendo aqui hoje é uma oportunidade para o aluno do curso de Medicina se aproximar dessa população. Nós estamos trabalhando principalmente com a criação de vínculo entre o paciente e o médico. Essa criação de vínculo é muito importante e muitas vezes é usado como ferramenta somente a linguagem verbal. Então estamos inserindo a linguagem multimodal. Os alunos aprender procura usar vários outros recursos, fazer uma relação com o cotidiano do caminhoneiro, usar uma metáfora pra explicar um determinado conceito, isso aproxima muito mais da realidade desses caminhoneiros. E uma das estratégias que vem sendo trabalhada, dentro de Letramento em Saúde, para garantir que o outro esteja entendendo o que é dito. E também para testar se esses alunos estão sendo eficientes na comunicação com os caminhoneiros”, explica o professor doutor Ruberval Maciel, que coordena o projeto de Letramento em Saúde.
No projeto Letramento e saúde e a covid-19 na Rota Bioceância, o acadêmico Victor Hugo de Araújo Goncalves observou que grande parte dos caminhoneiros não tinha conhecimento básico da doença. Segundo Victor Hugo muitos tiveram os sintomas, mas nunca realizaram testes para saber se estavam com covid. “Durante as conversar que tivemos com os caminhoneiros, percebemos que muitos não sabem o que é a doença, não sabe como se transmite, nem como se previne, mesmo dois anos depois do início da pandemia. É importante levantar esses dados, porque essa população circula por todo o Brasil, então é importante que sejam informados”, disse Victor Hugo.
Além do trabalho analise do risco cardiovascular, a ação contou com o projeto Estudo Sobre a Prevalência do Tabagismo e o Risco do Tabaco pro Câncer de Boca dos Caminhoneiros que Trafegam por Cidades que Compõe a Rota Bioceânica em Mato Grosso do Sul, coordenado pelo professor Dr. Paulo de Tarso.
Segundo ele, além da pesquisa sobre o tema, existe o Estudo prevê uma ação social, com a distribuição de panfletos de orientação, caso a pessoa detecte alguma lesão alguma ferida na boca. “Nesse primeiro momento a gente tá levantando a prevalência do tabagismo e já orientado quanto ao câncer de boca. E a gente tem tido boas surpresas. Os dados ainda não foram tabulados, mas o que que a gente tá percebendo é menos pessoas fumando. Muitos estão dizendo pra gente que eram fumantes e já pararam há cinco anos, dez anos, quinze anos. Lógico que a gente tem que tabular esses dados, mas a perspectiva é boa”, comenta o professor Paulo de Tarso.
Os dados de todos os projetos desenvolvidos nessa ação serão analisados em pesquisas inseridas no eixo Saúde e Fronteira, do Projeto estratégico UEMS na Rota Bioceânica. “Essa ação é pioneira, começamos a olhar para a saúde do principal agente da Rota Bioceânica, que o público de caminhoneiros”, comentou o professor Dr. Ruberval Maciel, coordenador do Projeto estratégico UEMS na Rota Bioceânica.