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Capital

Ex-viciada, mulher ‘perdeu’ filho para Nando e agora chora dia e noite

Luana Rodrigues | 23/11/2016 18:53
Buscas por corpos em 'cemitério' de quadrilha, na manhã desta quarta-feira (23). (Foto: Marina Pacheco)
Buscas por corpos em 'cemitério' de quadrilha, na manhã desta quarta-feira (23). (Foto: Marina Pacheco)

Já vai fazer um ano que Maria* não tem sossego. Desde que o filho de 15 anos desapareceu, em dezembro do ano passado, a saudade aperta, o medo preocupa e ela passa dia e noite chorando pelo garoto. Há duas semanas, a angústia passou a incomodar mais o coração da mãe, conforme relato dado com exclusividade ao Campo Grande News na tarde desta quarta-feira (23).

Investigação policial descobriu que ali, no bairro Danúbio Azul, onde ela vive há anos, um grupo matou pelo menos doze pessoas. Seis ossadas que seriam de vítimas da quadrilha já foram encontradas em uma espécie de 'cemitério particular’, todas enterradas de cabeça para baixo.

A mãe agora teme ter pedido o filho para um homem que conhece bem: Luiz Alves Martins, de 49 anos, o 'Nando'. Ela mesma diz já ter sido uma vítima dele.

Com menos de 40 anos, ela tem outros filhos e já foi usuária de drogas. “Comprei muita droga do Nando. Vivia para baixo e para cima na rua atrás dele, atrás de droga. Até que um dia cansei, mas meus filhos acabaram caindo nessa”, conta.

Apesar de deixar de ser cliente, Maria conta, ao lembrar de uma história que já lhe rendeu muita preocupação, que Nando manteve o "respeito" por ela. “Um dia meu filho roubou a casa dele e ele descobriu. Pegou o menino e quase o matou enforcado, fez ele desmaiar, depois veio aqui e me disse que só não tinha matado por minha causa”.

Antes de se meter com Nando naquela ocasião, o filho de Maria, em uma tarde qualquer, pediu R$ 5 para ela. Era dinheiro para comprar droga.

Ela costumava dar, mas naquela ocasião disse que não tinha. Gabriel saiu "vestindo bermuda verde e camiseta regata, tão lindo", relembra a mãe. Foi a última vez que Maria viu o filho.

“Passei a sexta, o sábado, o fim de semana inteiro atrás desse menino. Eu acho que até perguntei lá no Nando se tinham visto ele. Ninguém viu nada, ninguém sabia de nada”, relembra a mulher.

Depois de quase um ano de procura e saudade, tem duas semanas que Maria não sabe ao certo o que sente. “Tem horas que me sufoca a garganta. Não consigo respirar. Parece que estou esperando alguma coisa, mas não sei o que é”, diz.

O relato também é carregado de pavor. Ela tem medo de ser perseguida, porque acredita que “ainda há gente do grupo que está solta, gente muito ruim”.

A quadrilha de Nando já é conhecida como grupo de extermínio. A ele é dada a pecha de "matador".

Gente que, segundo a polícia, aliciava adolescentes e jovens dependentes químicos para vender droga e se prostituir a troco de pasta base de cocaína. “Eles exploravam a miséria, pessoas com baixa escolaridade e renda, com nível de dependência alto. Que fazem qualquer coisa para conseguir o entorpecente”, conforme relato da delegada Aline Sinotti, responsável pela investigação.

A mãe acompanha o caso e já foi procurada pela polícia. Desde que a quadrilha foi presa e as ossadas vêm sendo encontradas, ela aguarda uma ligação.

“Não tem um dia que eu não chore, não tem um dia que eu não espero que ele volte, mas agora, não tem um dia que eu não ore para que meu filho não seja encontrado ali, porque ai vou saber que nunca mais vou olhar pra ele”.

* os nomes usados nesta reportagem são fictícios; detalhes da história também foram preservados por questões de segurança.

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