Família divulga trechos de diário para defender PM acusado de estuprar frentista
Israel Giron Arguelho de Carvalho foi encontrado morto na casa onde morava, no dia 17 de outubro
Um mês após morte, trechos do diário do policial militar Israel Giron Arguelho de Carvalho foram divulgados pela família, como forma de mostrar a versão do homem de 30 anos, que tirou a própria vida e contestava suspeita de abuso sexual que o levou para a prisão.
De acordo com o pai do militar, a família ainda está vivendo um caos por conta de divulgações precipitadas, por isso a decisão de divulgar o diário, para, mesmo após o suicídio do filho, defender a memória do policial.
“Sempre acreditamos nele. Está sendo um caos agora, mas vou provar a inocência do meu filho”, alegou Paulo Giron, 60 anos, aposentado.
Nas páginas, encaminhadas ao Campo Grande News nesta quinta-feira (16), o homem acusado de estuprar frentista de 24 anos fala desde as dificuldades que teve durante curso para integrar o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) até sobre o tempo que esteve em cela do Presídio Militar.
Segundo a família do militar, as páginas foram escritas durante a prisão. Israel reclamava de injustiça e humilhação. Na primeira parte dos textos, o homem conta que se formou no Cate (Curso de Ações Táticas Especiais) quando foi habilitado para trabalhar no Bope e relata que após as dificuldades do treinamento estava pagando por algo que não fez.
“Não foi nada fácil. Muita fome, dor, sofrimento, desgaste físico e mental intenso. Porém, a todo momento do curso sabíamos que teríamos a glória eterna e o reconhecimento de todos como heróis. Agora estou nessa situação puxando cadeia por algo que não fiz e tendo meu nome vinculado a um verme estuprador”, relata.
No diário, o militar ainda afirma saber que quando saísse ainda teria a mancha em sua carreira e estragos que nunca seriam reparados em sua dignidade. “Minha honra e minha vida estão no ralo (...) fui conduzido até minha casa, reviraram tudo atrás de provas que poderiam me condenar. Depois fui levado para a delegacia e tratado pior que cachorro de rua”, escreveu.
Israel relatou que sentia uma “solidão profunda”. Para ele, essa era a sensação de fundo do poço, danos psicológico e emocional que jamais seriam reparados em sua vida. “Tive minha honra quebrada, família na vergonha”, detalhou no texto.
Em outro trecho, o militar descreveu que depois de passar mais uma noite sem dormir por conta da situação, começou a jejuar e orar até que sua liberdade fosse concedida. Mas apesar da esperança, já falava em tirar a própria vida, ideia que, segundo o PM, o perseguia.
Por fim, Israel relata que jamais imaginou receber apoio dos colegas de corporação e que foi acompanhado por seu comandante do início ao fim. “A equipe sem exceção esteve ao meu lado. Vieram e falaram que o que precisasse eles estariam comigo”, diz o último trecho enviado à reportagem.
Relembre - Israel foi preso no dia 11 de agosto deste ano, acusado de estuprar uma frentista que saía do trabalho na região do Jardim Noroeste. O crime teria acontecido três dias antes. Investigação da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) apontou que ele teria usado a arma da corporação para a ameaçar a jovem. Além de outras evidências que comprovaram o crime. O militar acabou sendo solto aproximadamente um mês depois.
Dia 17 de outubro, o militar foi encontrado morto com tiro na cabeça na casa onde morava com a família no Bairro Coronel Antonino, em 17 de outubro. Na mesma data, o Campo Grande News apurou que laudo do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) apontou que não houve “conjunção carnal” entre a vítima e o suspeito.
No entanto, segundo a Deam, outros elementos apontavam para a veracidade dos fatos e um inquérito de mais de 300 páginas havia sido relatado, inclusive com denúncia já oferecida pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e recebida pelo Poder Judiciário.
Em entrevista ao Campo Grande News, no dia 18 de outubro, a frentista relatou que não conhecia o militar e que não teria motivos para mentir. Durante um relato de meia hora, a jovem afirmou que precisou voltar para sua cidade natal, em outro estado, porque passou a ser perseguida, atacada e teve sua dor diminuída.
Na ocasião, a vítima ainda contou que teve suas fotos divulgadas em grupos de WhatsApp de policiais que a chamavam de “vagabunda” e sentia como se estivesse sempre sendo estuprada.
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