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Capital

Gaeco denuncia 12 por organização criminosa e obstrução da justiça

Denúncia foi protocolada em ação que já corria contra três réus por intimidar testemunha do caso

Marta Ferreira e Adriano Fernandes | 09/10/2019 21:27
Cena flagrada por câmeras em cobertura de empresário evidencia, segundo Gaeco, retirada de provas do local (Foto: Reprodução do processo)
Cena flagrada por câmeras em cobertura de empresário evidencia, segundo Gaeco, retirada de provas do local (Foto: Reprodução do processo)

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) protocolou nesta quarta-feira (9) a segunda denúncia criminal derivada da Operação Omertá, deflagrada no dia 27 de maio, quando 23 pessoas foram alvos de ações para desmascarar organização criminosa apontada como responsável por pelo menos oito mortes em uma década. Aproveitando processo que já corria na 3ª Vara Criminal de Campo Grande desde maio deste ano, contra três investigados na operação, quatro promotores acusam mais nove pessoas, entre elas os empresários Jamil Name, 80 anos, e Jamil Name Filho, 42 anos, de participação no grupo de extermínio e, ainda, de tentar obstruir as investigações.

Jamil Name havia sido denunciado, na terça-feira (8) em ação separada sobre as armas encontradas de posse dele e de funcionários. Agora, ele e o filho, presos desde o dia da Omertà, são acusados de integrar organização criminosa e de agir para embaraçar as investigações por duas vezes. Primeiro, segundo o Gaeco, ordenaram que integrantes da orcrim (apelido para organização criminosa no jargão jurídico) intimidassem a esposa do guarda civil municipal Marcelo Rios, preso há quase cinco meses, com arsenal destinado à quadrilha, situação considerada o pontapé da descoberta de provas.

O segundo episódio criminoso, conforme as apurações, foi a determinação de "limpa" na cobertura de edifício no bairro Santa Fé onde “Jamilzinho” morava. Prova disso, conforme o texto do Gaeco apresentado à 3ª Vara Criminal, é o fato de o imóvel, bastante amplo, ter sido encontrado praticamente vazio no dia da busca e apreensão determinada pela justiça. O relato dos responsáveis dos trabalhos é de que foi encontrado apenas um papel e a evidência de existência de suporte para armas longas, semelhante ao utilizado por forças policiais.

Neste processo, já eram réus desde agosto deste ano o segurança Flávio Narciso da Silva e os guardas civis municipais Rafael Antunes Vieira e Robert Vitor Kopetski. Eles são apontados como as pessoas responsáveis por intimidar a esposa do guarda Marcelo Rios, inclusive levando dinheiro até a casa dela, em torno de R$ 1,2 mil, e obrigando-a a viver em imóvel da quadrilha.

Agora, a partir do trabalho investigativo, baseado em mais de 800 arquivos de escutas e também em transcrições de conversas por aplicativos de mensagens e “campanas”, ou seja, observação de movimentação dos investigados, também estão sendo denunciados Jamil Name, Jamil Name Filho, os guardas Alcinei Arantes da Silva e Rafael Carmo Peixoto Ribeiro, o militar reformado Andrison Correia, os policiais civis Marcio Cavalcanti da Silva e Vladenilson Daniel Olmedo, o funcionário da família Name Elton Pedro de Almeida e, ainda, o advogado Alexandre Franzoloso.

Todos são indicados como integrantes de grupo criminoso altamente esquematizado e perigoso, com funções estabelecidas em quatro núcleos.

O advogado Alexandre Franzoloso, no dia do depoimento ao Gaeco, já depois da operação. (Foto: Liniker Ribeiro)
O advogado Alexandre Franzoloso, no dia do depoimento ao Gaeco, já depois da operação. (Foto: Liniker Ribeiro)

“Integrante” – Alexandre Franzoloso, que chegou a ter prisão temporária decretada pela Justiça no dia da operação e conseguiu ficar em liberdade graças a liminar do Tribunal de Justiça conseguida a pedido da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), é citado em uma parte razoável da denúncia como responsável por impedir que o guarda Marcelo Rios colaborasse com as investigações. Há, no texto dos promotores Tiago Di Giulio Freire, Gerson Eduardo de Araujo,  Marcos Roberto Dietz e Thalys Franklyn, a informação de que, ouvido no dia 3 de outubro, após a ação, ele admitiu ter estado na casa de Jamil Name por três vezes em meio às apurações. Conforme o Gaeco, isso prova relação com a quadrilha.

De acordo com a denúncia, a atuação do profissional na organização ficou mais clara ainda quando a esposa do servidor municipal procurou as autoridades no dia 7 de agosto, informando que ele tinha interesse em ser delator, mas o defensor não permitia. No mesmo dia, o guarda também pediu apoio da Defensoria Pública da União, anotado que destituiria sua defesa.

Segundo declaração atribuída à mulher de Rios, hoje sobre proteção do Estado junto com os filhos, o advogado fazia isso porque, na verdade, trabalhava para a organização criminosa. Franzoloso, em suas manifestações a respeito, disse que apenas agia como defensor, fazendo seu trabalho de profissional do Direito.

Apagar rastros - Ainda de acordo com a denúncia, na casa do denunciado Elton Pedro de Almeida, durante as buscas foram encontradas caixas com diversos materiais pertencentes à família Name, e que, segundo relato feito por ele, foram deixados pelos seguranças, algo apontado como mais um indício de tentativa de apagar rastros.

A denúncia, protocolada no fim desta tarde, tem 71 páginas. Agora, aguarda a análise da juíza responsável pela vara, Eucélia Moreira Cassal, que já havia iniciado a fase de instrução processual quando da primeira denúncia. Como os denunciados estão presos, o caso deve ter prioridade.

O Gaeco adotou o silêncio sobre a investigação, mas ainda deve apresentar nova denúncia contra os outros envolvidos na organização criminosa identificada. Das 23 pessoas enumeradas, 12 estão na ação que recebeu aditamento hoje. Pelo que foi apurado, isso pode ser feito também aproveitando ação anterior, dessa vez a que corre contra Marcelo Rios, preso na penitenciária federa de segurança máxima, em Campo Grande. Nesta ação, por crimes contra o Estatuto Nacional do Desarmamento, está previsto depoimento dele para dezembro deste ano.

Na peça de acusação, além da condenação por formação de organização criminosa e obstrução da justiça, crimes com pena de até 8 anos de reclusão, os promotores querem, também, a perda dos cargos dos servidores públicos envolvidos.

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