Gratidão é maior presente de mãe que sustenta 6 filhos com R$ 450 na favela
Moradora de um dos barracos no Loteamento José Teruel, no bairro Dom Antônio, extremo sul de Campo Grande, a desempregada Juliane Lopes, de 31 anos, quer nesse Dia das Mães um presente que não custa nada, mas que para ela tem um significado muito especial.
Dos seus seis filhos, ela diz que só espera a gratidão por tanta dedicação, mesmo com uma renda de apenas R$ 450,00 por mês para o sustento da família e diante da realidade pobre de uma favela.
“Eu hoje ainda brinquei com eles se eu não ia ganhar presente de Dia das Mães este ano. ‘Mas como, se a gente nem trabalha, mãe?', eles me responderam”, brinca a desempregada.
Seus filhos tem 3, 4, 8, 10, 12 e 14 anos, sendo quatro meninos e duas meninas. No barraco com ligação de água e energia improvisadas, ela e o marido, que é pedreiro, lutam para não deixar faltar nada ou ao menos o necessário para os filhos.
Juliane explica que a gratidão dos filhos é, na verdade, o melhor presente que poderia querer.
“De [presente] Dias das Mães só espero que eles reconheçam e sejam gratos um dia, por todo esse esforço que a gente dedica a eles, como eu também sou grata a minha mãe. São eles que me motivam a continuar lutando dia após dia, porque tudo que a gente faz é por eles. E é muito difícil a nossa situação”, comenta.
A quantia de R$ 450 mensais é a soma do que recebem dos programas Vale Renda e Bolsa Família. “Mas, meu marido sempre tem os serviços dele como pedreiro e que dão para complementar um pouco desse dinheiro”, diz.
Mas a instabilidade do trabalho como autônomo não é segurança de um retorno financeiro frequente, ela conta. “Essa semana, por exemplo, ele também esta sem emprego”, completa.
Egressa da antiga Cidade de Deus, ela, assim como outras dezenas de famílias aguardam a conclusão das moradias, na região que se tornou a versão um pouco menos precária da extinta favela.
“Sempre que ela ia sendo levantada ocorria algum problema e a obra parava. E continua assim, desse jeito. É uma revolta muito grande”, se queixa diante da casa. E Juliane não nega a dificuldade em criar bem os filhos em uma realidade que é no mínimo preocupante.
No José Teruel, os barracos de lona e madeira que antes ocupavam a Cidade de Deus só mudaram de endereço e hoje, estão “camuflados” nos fundos das edificações que não passam de paredes sem reboco e telhado.
Os arames farpados que cercam os barracos servem de varal e por conta disso, são uma espécie de indicativo onde tem mais gente morando. Os de Juliana estavam cheios durante a visita da reportagem, nesta semana.
A dona de casa havia acabado de estender as roupas dos seis filhos depois de lavar. Faziam companhia a ela os dois filhos mais novos, Carine e Gabriel.
Os outros quatros participam das atividades da ONG Filhos da Misericórdia pela manhã e a tarde, estudam na Escola Municipal Padre Tomaz Ghirardelli no bairro.
“Mas também sou voluntária na ONG. Ajudo a fazer o almoço das crianças e aproveito e levo todos eles para almoçar”, completa. Ela lembra que o Dias das Mães passou a ser ‘dela’ também ainda aos 16 anos, quando teve o primeiro filho.
E desde então sempre foi um dia especial, digno de ser comemorado, mesmo com a falta de dinheiro. Só por parte da mãe, Juliane tem sete tios e todos os anos eles dão um "jeitinho brasileiro", como ela brinca, para se reunirem no almoço de Dia das Mães. Como em qualquer outra família.
“A gente precisa ter um dia para se reunir e comemorar em família então todo ano, vai todo mundo para casa da minha mãe e a gente fica por lá. Esse ano não vai ser diferente”, comemora.
A fotografia com quatro filhos menos tímidos, só foi tirada após a promessa da reportagem de ser o presente de Dia das Mães do Campo Grande News para a família.