Grupo limpa casa onde homem morreu em meio ao lixo e fala que dona tem depressão
Amigos e familiares fizeram mutirão para retirar animais mortos, entulho e disseram que não sabiam da situação
Amigos e familiares da protetora de animais Marlene Batista Gonçalves, de 55 anos, presa por deixar mais de 100 cães e gatos em ambiente insalubre, no bairro Universitário, em Campo Grande, na última sexta-feira (8), alegam que ela sofre de depressão grave. A condição psicológica teria causado o episódio de descaso sanitário encontrado na casa. O imóvel onde os animais estavam é o mesmo em que o irmão, Neilton Soares Cabral, de 49 anos, foi encontrado morto pela polícia.
O corpo dele e de alguns gatos mortos dividiam o mesmo espaço, junto a inúmeros outros animais vivos e uma infestação de baratas e fezes. O homem sofria de doença renal crônica em estado terminal. O cenário crítico foi motivo para a prisão de Marlene, que passou por audiência de custódia neste domingo (10) e foi solta. Ela está impedida de receber ou tratar de animais por três meses.
À reportagem, uma das amigas, Daniela Reis, de 48 anos, explica que Marlene não é uma má pessoa e que a situação se agravou nos últimos dois meses. Segundo ela, a situação com o irmão teria contribuído com o quadro depressivo.
“O irmão que morreu era uma pessoa saudável, trabalhava como açougueiro, forte e saudável. Em fevereiro teve falha na perna e ficou mal, depois descobriu que ele tinha neoplasia na medula espinhal. Era paciente renal crônico em estágio final. Foi muito de repente. Ficou no hospital e dois meses atrás recebeu alta. Ela trouxe ele para essa casa.”
Daniela ressalta que há uma força-tarefa para que Marlene retorne a um ambiente mais apropriado, tanto para ela quanto para os bichos que ainda estão na residência. Alguns foram distribuídos entre protetores e ONGs de maneira temporária. Amigos e familiares estão limpando a propriedade, trocando e pintando os móveis para que a casa volte a ficar habitável.
“Ela está muito abalada e está passando por uma depressão fortíssima, fazendo acompanhamento psicológico. Essa coisa com os gatos começou há dois meses. Antes só tinha oito gatos e três cães, saudáveis.”
O resto dos animais teriam sido abandonados no portão da casa da protetora, que não recusava, mesmo sem ter condições, psicológica e financeira, para cuidá-los.
“Eu conheço a Marlene há muito tempo e foi por causa da depressão e do irmão dela. Ele era o braço direito dela. Foi tudo muito rápido. Antes ela sempre levava os animais para as feiras de adoção. Ela estava em estágio de depressão gravíssimo e não pedia ajuda, eu vinha no portão trazer alimento e coisas pra ela."
A amiga ainda destaca que não sabia da situação da casa pois Marlene não permitia que ela entrasse.
O filho, Júlio César Gonçalves Escobar, de 31 anos, falou brevemente com a reportagem. Ele afirmou que a mãe estava com alguns problemas e que tem dois irmãos especiais, um deles com paralisia cerebral, de 33 anos. Júlio acrescenta que no mesmo dia da prisão da mãe deixaram no portão uma caixa com mais seis felinos e que a situação é insustentável.
Soltura - Ao pedir a soltura, o advogado de Marlene, Caio Moura, sustentou que ela cuidava do irmão e dois filhos especiais sozinha. O advogado e vereador Professor André, vice-presidente da Comissão de Saúde, também participou da audiência. Ao defender a soltura de Marlene, citou que o recolhimento de animais por parte de protetores é um problema recorrente na saúde pública.
"Vivem nessa condição por causa de uma ausência absoluta do poder público, porque não existe um centro de acolhimento de animais em Campo Grande. A Marlene é uma heroína dentro dessa causa, uma pessoa de bom coração", pontuou.
A juíza entendeu que a situação degradante também era vivida por Marlene e, ao conceder liberdade provisória, pediu assistência do município a ela. Também vedou o acolhimento de animais por três meses. "O cuidado não está sendo efetivo, não está tendo controle", ponderou a juíza.
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