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Capital

Guarda suspeito de espancar ex foi “treinado” para atender violência doméstica

Homem aparece em vídeo chutando ex-namorada, que registrou 4 denúncias contra ele e pediu medida protetiva

Anahi Zurutuza e Maristela Brunetto | 29/06/2023 15:42

Servidor da Prefeitura de Campo Grande desde 1996, guarda municipal acusado de ameaçar e espancar a ex-namorada já foi “capacitado” para atender ocorrências de violência doméstica. Ou ao menos deveria ter recebido o treinamento, já que está entre os convocados, em abril deste ano, para participar de curso na Casa da Mulher Brasileira do chamado “Projeto Patrulha”. Ele está afastado da função.

Apesar de a presença na capacitação, ministrada no dia 26 de abril, ser obrigatória, conforme publicado no Diário Oficial do Município, o Campo Grande News ainda não conseguiu confirmar se o funcionário público municipal, de 51 anos, esteve ou faltou ao treinamento. Ainda conforme apurado, o “Projeto Patrulha” é aplicado para todos os guardas e o servidor alvo da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), que funciona justamente na Casa da Mulher, não faz parte da “Patrulha Maria da Penha”, equipe especializada em socorrer mulheres vítimas de violência.

Parece irônico, mas o investigado também já fez aulas para treinar a “inteligência emocional”. Também de frequência obrigatória, a aula on-line ministrada em 2021 tinha como objetivo “proporcionar aos servidores conhecimento e técnicas para despertar o potencial máximo no ambiente de trabalho”, mas também para “melhorar as relações interpessoais” e falar de “autorresponsabilidade por meio da inteligência emocional”.

Afastado – As capacitações aconteceram antes do episódio que culminou na suspensão do guarda civil. Conforme divulgado pelo Diogrande desta quinta-feira (29), o servidor também responderá a PAD (Processo Administrativo Disciplinar). O “afastamento preventivo”, por 60 dias, foi determinado pelo secretário especial de Segurança e Defesa Social, Anderson Gonzaga da Silva Assis, “diante da gravidade dos fatos”.

Vítima mostra lesões no rosto após ser agredida pelo ex. (Foto: Direto das Ruas)
Vítima mostra lesões no rosto após ser agredida pelo ex. (Foto: Direto das Ruas)

A investigação – O guarda é investigado pela Deam por espancar a ex-namorada, em Campo Grande. Ele não teria aceitado o fim do relacionamento. Há, inclusive, um vídeo que mostra a vítima sendo agredida no meio da rua.

Segundo a vítima, que teve o nome preservado, em matéria que foi ao ar nesta quarta-feira (28), o relacionamento do casal durou apenas três meses. Eles trabalhavam no mesmo local - uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Capital – há cerca de dois anos, onde se conheceram.

Durante as crises de ciúmes que levaram ao término, relata a mulher, o guarda “quebrava toda a casa” e até as roupas íntimas dela ele cheirava. “Três meses de namoro. Então, vi que era muito ciumento. Eu não aguentava mais ele falar que eu traía ele, que eu não ia trabalhar e eu também não podia cumprimentar ninguém. Foi então que decidi terminar, mas ele não me deixou ir e começou as agressões”, contou.

A reportagem teve acesso a três boletins de ocorrência envolvendo o casal. No primeiro, registrado no dia 17 de maio deste ano, foi o próprio guarda que chamou a Polícia Militar. Quando a PM chegou, encontrou ambos feridos. O guarda relatou que havia se desentendido com a namorada e que ela teria puxado uma faca para ele.

Já ela contou que foi agredida dentro do carro pelo guarda, que também puxou os cabelos dela. Questionado, o suspeito alegou que teria feito isso no intuito de que ela praticasse sexo oral nele. A mulher negou, na ocasião, ter puxado qualquer faca para o guarda.

Já no dia 10 de junho, há registro de outro boletim de ocorrência. Dessa vez, a mulher procurou a polícia dizendo que se sentiu ameaçada.

Em outro registro, ela procurou a polícia mais uma vez com várias lesões no corpo e contou que foi abordada por dois homens e agredida, no dia 24 de junho. Enquanto um ficou na moto, o outro a empurrou. Ela caiu de rosto no chão e ouviu que era “só um aviso”, porque se prejudicasse o ex-namorado “era para se considerar morta”. Na sequência, um dos homens a chutou nas costas e cabeça.

Ao Campo Grande News, a delegada da Deam, Fernanda Piovano, explicou que a mulher registrou quatro boletins de ocorrência contra o acusado. Nos dois primeiros, ela nem aguardou o término do registro e por isso, não foi ouvida. Apenas na terceira vez, optou pela medida protetiva. A decisão judicial já havia saído ontem, mas por ser muito recente, os envolvidos ainda não haviam sido intimados.

O suspeito também foi procurado ontem e, por meio de advogado do Sindicato dos Guardas, Márcio Almeida respondeu que "buscaria ciência sobre o processo" para se posicionar sobre o caso.

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