Hospital de Câncer mantém greve e 180 pacientes já ficaram sem atendimento
Primeira reunião entre Prefeitura e direção da unidade termina sem solução; conversa é prorrogada para segunda
O Hospital de Câncer Alfredo Abrão, de Campo Grande, continua de greve. A primeira conversa para negociar o fim da paralisação dos serviços para novos pacientes ocorreu na tarde desta sexta-feira (24) e terminou sem sucesso, na sede da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). Um novo encontro ocorrerá juntamente com a SES (Secretaria Estadual de Saúde), na próxima segunda-feira (27), sem horário definido.
Conforme o diretor administrativo da unidade, Amilton Fernandes Alvarenga, por dia cerca de 60 pacientes eram admitidos no hospital. Desde a paralisação, no dia 22 de fevereiro, aproximadamente 180 pessoas deixaram de receber os cuidados para combater a doença.
“Não temos pagamentos atrasados, mas o contrato não atende as necessidades do hospital. Essa situação foi trazida desde dezembro. Tivemos reunião com a prefeita e os secretários, quando entregamos estudos que comprovavam onde eram os gastos e explicitando todos os pagamentos”, afirma Amilton.
Ele alega que outros encontros aconteceram em janeiro, mas até o momento sem solução. “Durante uma ou duas vezes, explicitamos as dificuldades que estávamos tendo, para compra de medicamento e atendimento. Até que chegou nesta data que os médicos não se sentem seguros para continuar admitindo paciente. Os que estão internados continuarão recebendo tratamento normalmente, o que não temos condições é aumentar esse número”, justificou.
A quimioterapia e radioterapia continuam atendendo, as cirurgias marcadas também não foram canceladas. “Deixamos de atender os novos, que desde a greve são 180 pacientes. Hoje estamos com 50% de ocupação na UTI, porque os medicamentos não tem em estoque. Não podemos colocar pacientes em risco. A ideia é que o sistema de regulação realoquem eles para a Santa Casa, Regional e Universitário”.
De acordo com o diretor, o contrato para atender 70% dos pacientes da Capital e os 30% do interior é tripartite. Por mês são repassados R$ 3,25 milhões, sendo 50% do valor da União e o restante é dividido em 25% para Estado e Município. Mas os gastos mensais são de cerca de R$ 4,2 milhões, ou seja, resta um déficit de R$ 770 mil.
“Não sei quem poderia dar mais recurso. Também não podemos considerar doação como receita, porque não é um compromisso. Precisa ter uma receita que cubra os gastos. Nós sabemos que a tabela SUS (Sistema Único de Saúde) não é reajustada há 15 anos e a doação é um plus para ampliar e melhorar a qualidade de serviço. Precisa ser feita a revisão do contrato e não podemos ficar com uma promessa momentânea para daqui seis meses estar aqui de novo discutindo ajuda paliativa”, apontou o diretor.
Representando a Sesau, a assistente e assessora superior, Rosana Leite, justificou que a revisão contratual acontece todo ano. “Eles falam que o contrato é antigo, mas é feito pela lei de licitação e tem validade de cinco anos, sendo renovado a cada ano. No momento, sentei com a equipe técnica para fazer uma análise do que deve ser reajustado e me causou espanto, que em janeiro mandaram documento falando desse déficit. No mesmo mês fizemos auditorias e encontraram inconsistência. Não podemos simplesmente dar o dinheiro e pronto. Precisamos ter responsabilidade”, considerou.
Ela ainda afirmou que desconfia do número de 60 pacientes novos ao dia. “Vamos analisar se realmente continua com o contrato e se o atendimento está sendo bem feito. O hospital poderia ter avisado anteriormente, já que são atendimentos de urgência e não esperam. Os outros tem como dar conta dessa demanda provisória. E esse número de 60 pacientes ao dia não deve proceder. Asseguro que todos estão sendo encaminhados para os demais hospitais que suportam a demanda momentaneamente”.