Jamil Name é citado como patrão de ex-guarda preso com arsenal de guerra
Aos 80 anos e patriarca de família tradicional, empresário foi preso em operação do Gaeco
Octogenário, o empresário Jamil Name, alvo nesta sexta-feira (dia 27) de operação contra milícia e organização criminosa atuante em homicídios, é citado em depoimentos como patrão do então guarda municipal preso com arsenal de guerra em Campo Grande.
Marcelo Rios, que após a prisão acabou demitido da Guarda Municipal, foi flagrado em 19 de maio com grande quantidade de armas e munições, incluindo fuzis, o que trouxe a suspeita de ligação com grupo de extermínio. Em Campo Grande, foram três execuções com uso do fuzil de modelo similar ao apreendido.
No mesmo dia do flagrante, o depoimento da convivente de Rios detalha que ele trabalhava como segurança particular para complementar a renda, mas que ela preferia não saber da natureza desse trabalho extra. A mulher relata que ele era segurança particular na casa de Jamil Name, localizada na Rua Rodolfo José Pinho, em Campo Grande.
“Contudo, a depoente esclarece que somente esteve neste local em algumas poucas oportunidades, somente para falar com Marcelo. Que Marcelo comentava que realizava diversos serviços, entre eles levar e buscar pessoas ligadas à família onde ele trabalhava. Que Marcelo comentava que havia outros companheiros, inclusive que alguns seriam policiais civis e também havia militares que fazia o mesmo serviço”.
Ainda segundo a depoente, Marcelo Rios contou que recebeu oferta para ganhar uma casa do filho de Jamil Name. “Relata que Marcelo há alguns meses atrás disse para a depoente que o filho de Jamil Name havia indagado se ele gostaria de ganhar um imóvel, oportunidade em que a depoente disse para ele não aceitar a oferta”.
O então guarda municipal chegou a mostrar o imóvel, mas depois disse que estava adquirindo outra casa na mesma região. Na sequência, comentou que fechou negociação de uma casa com piscina, onde a mulher esteve neste ano. No imóvel, na Rua José Luiz Pereira, no Jardim Monte Líbano, foi apreendido o arsenal.
Durante os últimos seis meses, o mesmo imóvel foi frequentado por Marcelo, a mulher, a ex-mulher e os filhos, em algumas ocasiões, como churrascos e banhos de piscina.
No dia do flagrante, a residência estava desocupada e a caixa metálica com o arsenal foi localizada no banheiro contíguo a um dos quartos. Foram apreendidos armamento, munições, arreador, luneta (aumenta precisão em tiro de longa distância), dois bloqueadores de sinais (podem ser empregados na obstrução de envio de sinais de tornozeleira eletrônica), pen drive, celular, boné com perfuração compatível com equipamento de gravação ambiental, sabonete, um pedaço de papel e 17 folhas com logomarca da Polícia Federal.
Rios está preso na penitenciária federal de Campo Grande e já está autorizado seu ingresso no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Colegas – Após a prisão de Marcelo, outros dois guardas municipais foram parar atrás das grades. Robert Vitor Kopetski e Rafael Antunes Vieira foram denunciados pelo Gaeco por obstruir investigação e integrar organização criminosa. No caso, um grupo de extermínio responsável por três execuções em Campo Grande.
Eles são acusados de coagir a ex-esposa do guarda Marcelo Rios. A mulher recebeu R$ 1.750, divididos em R$ 1.250 e R$ 500, para ajuda nas despesas, foi orientada a trocar de casa, telefone e alertada de que estava com a “cabeça a prêmio”. Os valores seriam adiantamento enviado pelos patrões.
Em depoimento prestado no dia 22 de maio, a ex-esposa de Marcelo disse que se surpreendeu com a rapidez com que um advogado chegou ao Garras e disse que foi “enviado lá de cima”. Outro aviso foi de que ela deveria “confiar no guri”, uma referência ao filho do empresário que Marcelo trabalhava diretamente.
No entanto, numa reviravolta, a mesma testemunha passou a defender os acusados. Também foi denunciado Flávio Narciso Morais da Silva.
Voto de silêncio – Deflagrada nesta sexta-feira (dia 27), a operação Ormetà apura crimes de organização criminosa atuante na prática dos crimes de homicídio, milícia armada, corrupção ativa e passiva.
A operação é realizada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestros), força-tarefa da Polícia Civil que investiga execuções na Capital, Batalhão de Choque e Bope.
Ao todo, são 23 ordens de prisões: sendo 13 mandados de prisão preventiva e 10 mandados de prisão temporária em Campo Grande. A lista de presos inclui um policial federal e quatro policiais civis. Jamil Name e Jamil Name Filho foram presos no residencial Bela Vista, na Rodolfo José Pinho, Jardim São Bento.
A operação foi autorizada pelo juiz da 7ª Vara Criminal de Campo Grande, Marcelo Ivo de Oliveira. Nome da operação, Ormetà é um código de honra da máfia italiana, que faz voto de silêncio. A defesa do empresário Jamil Name ainda busca cópia da decisão.