Juiz manda soltar, mas rapaz preso com ladrões de Reinaldo faz 1 mês na cadeia
“Voltei com o alvará e sem ele”, narra irmã de rapaz pego com dupla que confessou crime sobre ida ao presídio
A terça-feira (9) seria de alívio para a família de Antônio Matheus de Souza Silva, de 23 anos, preso com dupla de ladrões confessos ao apartamento do ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), mas foi mais um dia de sofrimento. A microempresária, Kelly de Souza, de 30 anos, que há um mês tenta provar a inocência do irmão, foi até a Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira I, conhecida como “Supermáxima”, com o alvará de soltura de Matheus nas mãos, mas deixou o local sem vê-lo sair pela porta da frente.
Kelly afirma que Matheus é vítima de mais um erro da burocracia do Judiciário. Ao consultar o nome do interno em banco de dados da segurança pública, administração do presídio encontrou ordem de mantê-lo detido. “Não foi cumprido o alvará de soltura porque o mandado de prisão de São Paulo, que já deveria ter saído do sistema quando houve a transferência para Mato Grosso do Sul, não saiu”, explica.
Para completar, nada pôde ser feito pelo advogado contratado pela família, Paulo Tarso Campos de Oliveira. O dia 9 de julho, dia da Revolução Constitucionalista de 1932, é feriado em São Paulo e não houve expediente forense. “No processo principal foi revogada a preventiva pelo juiz da vara onde tramita o inquérito. Foi expedido alvará de soltura, só que não foi possível a liberdade por impedimento decorrente do processo que iniciou em São Paulo quando houve a prisão. Processo esse que já foi remetido pra Campo Grande”, explica.
Antônio Matheus completa 30 dias na cadeia nesta quarta-feira (10). “São 30 dias de sofrimento”, afirma a irmã.
Prisão revogada – Na segunda-feira, dia 8, o juiz Robson Celeste Candeloro decidiu revogar a prisão do jovem.
Ele fez breve resumo antes de partir para a justificativa para determinar a soltura. “Verifica-se que o acusado foi preso em situação de flagrância, no Estado de São Paulo por, supostamente, fazer parte de uma organização criminosa que atua furtando apartamentos de alto padrão. Paralelamente, neste Estado e Comarca de Campo Grande, estava em andamento inquérito policial que apura a ocorrência de um furto qualificado, sendo que em razão das investigações a autoridade policial representou pela prisão preventiva do acusado, o que foi deferido pelo Juízo Plantonista, para a garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal”.
O magistrado analisou os argumentos do advogado de Antônio Matheus que apresentou imagens da câmera de portaria do prédio onde o investigado mora na capital paulista mostrando que o rapaz nunca deixou a cidade. “Sem adentrar no mérito da causa, até porque não se pode fazer um juízo definitivo sobre os fatos neste momento, verifica-se, em princípio, que não mais se justifica a manutenção da prisão do acusado Antônio Matheus, porquanto, além dos vídeos apresentados pela defesa, os quais devem passar por perícia para análise de sua integridade, é certo que os depoimentos dos outros dois acusados, Davi Morais Saldana e Italo Alexandre Franca Silvestre, dão conta de que além dos dois, participou como motorista do veículo locado, pessoa de alcunha ‘Bigode’, e não Antônio Matheus cujo prosônimo é ‘Visão’, sendo que este apenas acompanhou Davi aos locais onde este receberia valores pelas res furtivae vendidas, sem saber qual era a razão, apenas por ser conhecido de Davi e de Ítalo e tê-los encontrado no caminho”.
Para Candeloro, não há motivo para manter o irmão de Kelly na cadeia. Ele terá de provas a inocência, mas pode fazê-lo em liberdade. “Até o momento, nada indica que, se ficar solto, impedirá a produção das provas necessárias à instrução criminal e ao deslinde da questão. Deste modo, verifico que não mais estão presentes os fundamentos para manutenção da prisão preventiva. Diante do exposto, contra o parecer ministerial, com fundamento no art. 316 do Código de Processo Penal, revogo a prisão preventiva decretada em desfavor de Antônio Matheus de Souza Silva. Expeça-se ‘alvará de soltura’”.
Compasso de espera – Enquanto isso, Kelly, que veio de São Paulo (SP) para Campo Grande no dia 19 de junho, busca mais elementos para demonstrar que o irmão não tem envolvimento com o crime pelo qual foi indiciado. “Não aguento mais saber que meu irmão está num lugar horroroso [presídio] sem ter furtado nada de ninguém”, disse em entrevista no dia 2 de julho, quando soube que Matheus havia sido transferido para a “Supermáxima”.
De acordo com a investigação da Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), o crime aconteceu no dia 8 de junho, dia em que o apartamento de Reinaldo Azambuja estava vazio, mas só foi descoberto no dia seguinte, um domingo, quando o ex-governador voltou de viagem a Maracaju, cidade que comemorou 100 anos naquele fim de semana.
Antônio Matheus foi preso na tarde do dia 10 em São Paulo (SP), junto com Davi Saldana, de 24 anos, e Ítalo Silvestre, 22, que confessam o crime.
Kelly garante que o irmão “só estava no lugar errado, na hora errada” para acabar preso. A prisão, segundo a irmã, aconteceu perto do local onde moram, próximo também da “Rua do Ouro”, na região central da capital paulista.
A Garras conseguiu imagens que mostram Davi e Ítalo na rua conhecida pelo comércio de joias e de prédio onde a investigação acredita que a dupla vendeu os itens levados da casa de Reinaldo. Matheus não aparece junto, embora estivesse, um pouco mais tarde, no carro com os dois.
Conforme relatório policial, ao qual o Campo Grande News teve acesso, o trio estava no carro alugado por Ítalo para a empreitada criminosa na Capital sul-mato-grossense. No veículo, havia sacola contendo R$ 67 mil em espécie, relógios, colar e pulseira, objetos que Reinaldo e a ex-primeira-dama, Fátima Azambuja, reconheceram.
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