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Capital

Juiz ouvirá testemunhas sobre 15 anos de violência que levaram Leonida à morte

Dona da casa morreu no dia 17 de março, em circunstâncias de tragédia anunciada, segundo a família

Anahi Zurutuza | 24/08/2021 14:48
Leonida Freitas, de 48 anos, saiu na calçada para pedir socorro e caiu morta (Foto: Direto das Ruas)
Leonida Freitas, de 48 anos, saiu na calçada para pedir socorro e caiu morta (Foto: Direto das Ruas)

A Justiça começa a ouvir em outubro, testemunhas escolhidas pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) para sustentar tese de feminicídio contra Sebastião Rodrigues de Freitas, de 71 anos. Ele é acusado de matar a mulher Leonida Freitas, de 48 anos, no Jardim Los Angeles – região sul de Campo Grande.

A dona da casa morreu no dia 17 de março deste ano, em circunstâncias de uma tragédia anunciada, admitiram as irmãs da vítima à reportagem na ocasião. Leonida viveu, pelo menos, 15 anos em relacionamento conturbado, em que era constantemente agredida pelo marido. Em 2017, chegou a pedir medida protetiva contra ele, após ser esfaqueada.

A última sessão de espancamento foi em 14 de março, três dias antes da morte. Narra a denúncia, a qual o Campo Grande News teve acesso, que naquele sábado, Sebastião chegou em casa acompanhado de outras pessoas para usar drogas. A vítima reclamou e, por isso, levou socos, chutes e golpes com cabo de vassoura.

O corpo de Leonida ficou coberto de hematomas e outros ferimentos, inclusive, na cabeça. Vizinhos testemunharam as agressões, mas só relataram o que viram, na segunda-feira, quando a vítima apareceu em calçada em frente à sua residência passando mal e pedindo socorro. Ela tinha dificuldade para respirar.

Antes que o resgate fosse chamado, ela caiu morta. Equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi ao local, mas nada pôde fazer a não ser constatar o óbito.

Ramona de Souza, 53 anos, chora ao lembrar do horror vivido pela irmã (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Ramona de Souza, 53 anos, chora ao lembrar do horror vivido pela irmã (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Ciclo da violência – Naquela manhã, Catarina de Souza, 59 anos, e Ramona de Souza, 53, lembraram do horror vivido pela vítima durante anos. A dona de casa já chegou a ter a orelha decepada durante uma briga com Sebastião e o cunhado já colocou a irmã “em um buraco”, ameaçando atear fogo contra a esposa.

“Já havíamos tentado tirar ela de casa, mais de uma vez. Mas, não tinha jeito”, lamentou Ramona, em entrevista ao Campo Grande News.

De fato, na tarde do dia 21 de fevereiro de 2017, Leonida foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros à Santa Casa com ferimento na região lombar, causado por faca. O suspeito havia fugido e levado a arma do crime.

Na época, a filha da vítima contou que a mãe era sempre agredida verbal e fisicamente pelo padrasto. Sebastião chegou a responder processo por violência doméstica, mas acabou absolvido por insuficiência de provas e, por desinteresse da vítima em dar andamento no caso.

Dois anos antes dessa ocorrência, a PM (Polícia Militar) foi acionada, depois que a vítima foi agredida pelo suspeito com uma máquina de cortar grama. O caso nem chegou a ser registrado em delegacia.

Reviravolta - Lá em março, a morte de Leonida foi registrada numa Depac (Delegacia Especializada de Pronto Atendimento Comunitário), porque as primeiras análises periciais indicavam que as agressões sofridas pela vítima não teriam sido a causa da morte. A suspeita era de embolia pulmonar.

A Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) entrou no caso, contudo, para investigar Sebastião por lesão corporal. Foi a reviravolta no caso.

Para o MP, que faz o papel da acusação, Sebastião praticou feminicídio (em razão da vítima ser do sexo feminino e em contexto de violência doméstica) agravado por motivo torpe e meio cruel. "O denunciado desferiu vários golpes, com o instrumento contundente, além de desferir socos e chutes, provocando excessivo sofrimento físico, o que qualifica o delito pelo emprego do meio cruel em sua execução", defende a promotoria na denúncia contra o agressor, aceita na Justiça.

As primeiras audiências foram marcadas pelo juiz Carlos Alberto Garcete, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, onde tramita a ação penal em sigilo. Depois de ouvidas as testemunhas de acusação, será a vez das pessoas escolhidas pela defesa falarem. O réu também será interrogado antes que o magistrado marque o julgamento.

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