Juíza diz que presídio ainda é melhor lugar para “Maníaco da Cruz”
Dyonathan Celestrino representa impasse ao estado. Sob internação compulsória, cumpre medida no Instituto Penal já que não há hospital psiquiátrico onde possa ser internado
Aos 16 anos Dyonathan Celestrino, hoje com 27, matou três pessoas em Rio Brilhante, a 163 km de Campo Grande. O modo como posicionava os corpos em sinal de cruz lhe rendeu o apelido “maníaco da cruz”. Ele já passou por internação na Unei (Unidade Educacional de Internação) em Ponta Porã, a 323 km da Capital, mas desde 2014 cumpre internação compulsória no IPCG (Instituto Penal de Campo Grande).
A internação é uma medida de segurança estabelecida pela Justiça, mas o caso representa um impasse ao estado, pela falta de hospital psiquiátrico onde Dyonathan possa ser internado. Desde 2016 o juiz Mário José Esbalqueiro Junior, da 1ª Vara de Execução Penal, acompanha o caso, por um pedido de providências.
Última movimentação do processo, no dia 8 de março a juíza Cíntia Xavier Letterielo da 2ª Vara de Família e Sucessões respondeu ao juiz que o melhor lugar para Dyonathan “ainda é a ala de saúde do estabelecimento de segurança máxima de mato grosso do sul”. O comunicado leva em conta opinião da SES (Secretaria Estadual de Saúde) e da presidência do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
A juíza destaca, ainda assim, que “por ora não há medidas a serem tomadas, senão aquelas já providenciadas por esse juízo”.
Histórico - A Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça de e Segurança Pública) e a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) enviam aos juízes relatórios trimestrais da rotina do “maníaco” no Instituto Penal. Dyonathan começou a estudar gestão ambiental, pela modalidade EAD (Ensino à Distâcia) na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) em 2014.
Um relatório de março de 2016 afirma que ele realizava contato semanal com a família por telefone e recebe visitas mensais da mãe e da tia. Em entrevista psiquiátrica em fevereiro de 2015 “apresentou-se lúcido, orientado e sem delírios ou alucinações, mas colaborou pouco com a entrevista”. O laudo reitera que Dyonathan evita o olhar e não demonstra emoções.
Em julho de 2017, a avaliação altera as conclusões. A médica afirma que ele havia apresentado, anteriormente, crises de irritabilidade. Desde então Dyonathan recebe a medicação Haldol Decanoato, que faz com que o humor fique estabilizado. À época, ele reprovou em uma disciplina do curso na UCDB.
Situação irregular – Em decisão do dia 13 de novembro de 2017, o juiz Caio Marcio de Britto, da 1ª Vara de Execução Penal, declarou que a situação de Dyonathan era irregular e ilegal. O Instituto Penal, diz, “não é apropriado para receber pessoas acometidas por deficiência mental que não tenham sobre si qualquer acusação ou condenação criminal”.
“Não há como ‘tapar o sol com a peneira’, ou seja, se o Estado não dispõe de local apropriado para recuperação de doentes mentais, não pode introduzi-los no sistema penitenciário, especificamente na ala de saúde, porque lá não é local apropriado para recebe-los”, afirma. O juiz determinou a imediata transferência do interno para outro local.
O juiz visitou o Instituto no dia 9 de fevereiro de 2018, onde foi informado que Dyonathan ameaçava os servidores, se recusava a tomar os medicamentos e promovia dificuldade de escolta para atendimentos. O juiz determinou a transferência para estabelecimento psiquiátrico.
Psicopata e serial killer - Uma consulta psiquiátrica realizada em dezembro de 2017 diagnosticou Dyonathan como portador de “transtorno de personalidade antissocial e homicida em série”. À época, ele já havia terminado o curso na UCDB. O laudo afirma que o “maníaco da cruz” concluiu o curso com bom desempenho, mas que os sintomas de irritação e agressividade retornaram.
Para a médica, ele tem “baixa tolerância a frustrações, falta de empatia e ausência de sentimentos de remorso ou culpa”. A conclusão é que a medicação não funciona nesse caso, que Dyonathan não está recuperado e representa risco a sociedade.
Assassinatos - A primeira vítima de Dyonathan, então com 16 anos, foi um pedreiro - Catalino Gardena - que era alcoólatra. O crime aconteceu no dia 2 de julho de 2008. A segunda vítima foi a frentista homossexual Letícia Neves de Oliveira, encontrada morta em um túmulo de cemitério, no dia 24 de agosto.
A terceira e última vítima foi Gleice Kelly da Silva, de 13 anos, encontrada morta seminua em uma obra, no dia 3 de outubro daquele ano. Dionathan foi apreendido em 9 de outubro, seis dias após o último assassinato e chegou a fugir da Unei de Ponta Porã no dia 03 de março de 2013, mas foi recapturado em 27 de abril 2013 pela Polícia Nacional do Paraguai, na cidade de Horqueta.