Mãe de ciclista atropelada perdoa motorista e fala da lição que morte deixou
Quase 1 mês após morte de Emanuelle, mãe diz em vídeo que se fortalece no "mantra" do Pai Nosso
Num relato emocionante, a mãe e médica Andréa Aleixo fala pela primeira vez do acidente que levou a filha a desencarnar. Há quase um mês, Emanuelle Aleixo Gorski, de 21 anos, morreu ao ser atropelada por um carro, enquanto andava de bicicleta com a amiga. Sustentada por uma força que só pode vir da fé, Andréa relata em 10 minutos de vídeo desde quando recebeu a ligação falando que os bombeiros a estavam socorrendo até o momento em que ouviu do pai que a filha havia partido.
O vídeo começa com ela explicando que havia compartilhado aquele depoimento no grupo que participa todas as manhãs, chamado "Milagre das Manhãs", contando sobre o último dia da filha aqui, depois de 21 anos, dois meses e uma semana vividos com ela.
"A minha filha Emanuelle estava andando de bicicleta com uma amiga, onde todo mundo anda, quando ela foi atropelada fatalmente. A moça ligou pra mim, conseguiu meu telefone e me ligou, falando que tinha tido um acidente", lembra.
Ao perguntar para onde a filha seria levada, a amiga respondeu Santa Casa, hospital onde Andréa fez residência e por tantas vezes entrou na sala de emergência para reanimar pacientes.
A médica ligou para o pai, e avô de Emanuelle, que também é médico e combinou de levá-lo até o hospital. Os dois chegaram antes que a ambulância trouxesse a jovem. "Como médica, no local onde eu era bastante familiarizada, fiquei esperando na área vermelha, porque eu sabia que ela ia direto pra lá", diz.
Emanuelle chegou já intubada e a mãe viu colegas tentando fazer de tudo para salvar a vida da ciclista. "Acompanhei de longe, aquela era uma situação que eu estava muito acostumada, inclusive eu gostava de fazer emergência, mas eu nunca me vi numa situação de parente da pessoa que estava sendo atendida", diz a cirurgiã.
Bastante "fria" como se considera a médica, Andréa diz que entendeu aquilo como o procedimento a se fazer naquela situação: consertar o que precisava ser consertado. Foram várias intervenções e enquanto a filha era preparada para fazer ressonância e tomografia, a a médica conta que saiu de perto para deixar os profissionais mais à vontade.
"Fiquei em oração, como qualquer mãe faria". Neste momento do vídeo, Andréa pausa a fala e busca fôlego. "Eu sabia que ela tinha parado e estavam fazendo reanimação, coisa que eu era acostumada a fazer nos outros. E ali eu fiquei pensando: 'filha, você se deslumbrou com a luz'".
Como cirurgiã, Andréa se lembrou dos relatos de pacientes que já tinham quase partido, mas voltaram. Na descrição, eles contavam que viam uma luz muito linda, envolvente e confortante. E foi este o pensamento que veio à cabeça da mãe.
"Você está vendo a luz, mas volta pra mamãe, vem. A gente ainda tem tanta coisa pra viver junto ainda. E eu chorei pra Deus, eu rezava o Pai Nosso: 'que seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no céu. Que seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no céu'. Eu não pedi para Ele trazer minha filha de volta, porque não era eu quem decidia".
Para a mãe, o deslumbre de Emanuelle pela luz e a vontade de Deus fizeram com que a jovem não voltasse. "Eu entendi que minha filha desencarnou e meu pai chegou perto de mim e avisou à amiguinha dela: 'sua amiguinha não resistiu'. Foi assim que eu fiquei sabendo que minha filha tinha desencarnado".
Caminhando para o fim do relato, a mãe diz que está compartilhando isso e falando publicamente pela primeira vez porque pode ser que ajude alguém que esteja passando pela mesma situação.
"Eu penso que ela nunca foi minha, ela foi emprestada para mim, e eu não sabia quanto tempo ela iria estar comigo. Foram 21 anos, dois meses e uma semana que ela viveu livremente", declara a mãe.
Andréa diz que não tem angústia, não tem dor no coração e que fala por todas as mães: quando a partida de um filho acontece, se busca livros e outros tantos artifícios para entender a vida, mas que existe um só mantra que resume tudo. A oração do Pai Nosso.
"Não é a nossa vontade, é a dEle. Ele sabe reger a nossa vida da melhor maneira. O 'pão nosso de cada dia nos dai hoje', como fala a oração, a gente deve prover sim, mas tem que deixar um pouco essa obstinação por dinheiro e dar mais valor à vida das pessoas que estão do nosso lado", diz.
A mãe diz que não se arrepende do tempo em que passou trabalhando e não ficando ao lado da filha, porque isso faz parte e frisa que nunca deixou de dar prioridade à Emanuelle, mas usa da frase para alertar quem não está priorizando isso.
Amparada no trecho que diz "Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido", Andréa diz que perdoa o motorista e o enxerga como o instrumento do desencarne da filha e não como culpado. "Não cabe a mim julgar, eu não tenho dor no meu coração com relação a isso, quero pedir pra você, você pede pra Deus perdoar suas ofensas, mas você tem perdoado a quem te ofendeu?" questiona.
A mãe repete que perdoa publicamente também porque enxerga que o acidente foi a maneira como Deus fez para que o espírito de Emanuelle deslocasse do corpo. E ainda elenca como invejável a forma da filha morrer. "Ela não sentiu dor, nem susto, ela não teve doença, ela não foi maltratada".
No fim da oração e também do vídeo, Andréa diz que "não nos deixeis cair em tentação" significa não querer fazer a justiça com as próprias mãos. Como dito no início do vídeo, a médica tinha publicado primeiro no grupo e no dia seguinte, perguntou aos membros o que sentiram com a mensagem. Diante das respostas, a mãe decidiu publicar para que o depoimento dela pudesse chegar a outras tantas pessoas.