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Capital

Milhões em obras de "fachada" eram usados para comprar imóveis ao ex-prefeito

A operação Cascalho de Areia investiga peculato, corrupção, fraude à licitação e lavagem de dinheiro

Lucia Morel e Anahi Zurutuza | 16/06/2023 18:21
Policial do Gaeco ontem na sede da Secretaria de Obras. (Foto: Henrique Kawaminami)
Policial do Gaeco ontem na sede da Secretaria de Obras. (Foto: Henrique Kawaminami)

Contrato de 2018 no valor de R$ 4.150.988,28 para cascalhar ruas da região do Prosa em Campo Grande – Jardim Noroeste e Chácara dos Poderes, principalmente – iniciou investigação que levou à Operação Cascalhos de Areia, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), deflagrada ontem. Atualmente, o serviço já está em R$ 24.705.391,35.

A denúncia que originou a operação relata que a contratação é de fachada, os serviços não são executados e os valores previstos são usados para a compra de imóveis para o ex-prefeito Marquinhos Trad e sua família. O denunciante diz ainda que os imóveis foram comprados em nome de laranja, dono da empresa AL dos Santos LTDA, que também seria do ex-prefeito.

Ainda em 2018, ano do contrato, diz o denunciante que foi contratada apenas uma pá carregadeira por uma semana para que o fiscal do contrato tirasse fotos, mas que o valor do serviço foi usado para compra de imóveis.

O caso foi relatado às 29ª e 31ª Promotorias de Justiça, dos promotores Adriano Lobo Rezende e Humberto Lapa Ferri, respectivamente, que identificaram a falta de serviços de cascalhamento na região do contrato, e assim, forte indício de corrupção. Para as buscas e apreensões de ontem, pedido foi feito à 5ª Vara Criminal, que negou.

O caso então foi levado à 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça e o desembargador Zaloar Murat Martins de Souza acatou a pretensão ministerial em 1º de junho, liberando a operação. Além da AL dos Santos LTDA, também venceu licitação para outras regiões que não receberam cascalhamento, a empresa Engenex Construções, que também foi alvo da Cascalhos de Areia.

Na mesma licitação, a Engenex ganhou dois lotes, mas nas regiões  do Imbirussu e Lagoa. Na primeira, o contrato de R$ 2.331.229,37 já está em R$ 14.542.150,59 e na segunda, de R$ 3.448.107,58 saltou para R$ 22.631.181,87. A ação de busca e apreensão não detalha em qual dos contratos haveria suspeita de desvio.

Rua Indianapolis, no Jardim Noroeste, bastante danificada e sem serviço de cascalho. (Foto: Juliano Almeida)
Rua Indianapolis, no Jardim Noroeste, bastante danificada e sem serviço de cascalho. (Foto: Juliano Almeida)

Alvos – Na lista de empreiteiros investigados e que tiveram casas e empresas vistoriadas, bem como celulares apreendidos, estão André dos Santos, proprietário das empresas AL dos Santos e Cia e ALS Transportes; Mamed Dib Rahim, que representa a Engenex, assim como Edcarlos Jesus da Silva (sócio dele na MS Brasil Comércio e Serviços), Paulo Henrique Silva Maciel e Ariel Dittmar Raghiant. Pela mesma empreiteira foi ainda alvo de busca e apreensão a funcionária Patrícia da Silva Leite. Outro empreiteiro investigado é Adir Paulino Fernandes, dono da empresa JR Comércio e Serviços.

Servidores - Ainda são investigados o engenheiro civil Mehdi Talayeh, que foi admitido pelo município com cargo de chefia na Sisep em janeiro de 2021. Ele recebe salário de R$ 9.651,64, conforme consta no Portal da Transparência da Prefeitura de Campo Grande. Outro alvo é Edivaldo Aquino Pereira, que trabalha como gestor de projetos, foi contratado também também em janeiro de 2021, com salário de R$ 8.984,59.

Outros dois servidores da área técnica estão na lista: Erik Antônio Valadão Ferreira de Paula, que tem salário de R$ 3.380,00 desde fevereiro de 2021, e Fernando de Souza Oliveira, que trabalhava como assistente administrativo, com remuneração de R$ 6.387,03, ao menos até dezembro do ano passado.

Fernando é funcionário público municipal há mais tempo, desde 2012, mas o último holerite dele divulgado no Portal da Transparência é referente ao pagamento feito em janeiro deste ano. Depois disso, ele recebeu valores bem baixos – R$ 462,96 e R$ 39,70, em março e abril, respectivamente. No mês 3, o saldo dele com a prefeitura, após os descontos obrigatórios, ficou até negativo em R$ 6.542,17.

Por fim, foi alvo o ex-secretário da pasta na época de Marquinhos, Rudi Fiorese, cujo salário era de R$ 11.619,70.

A apuração é sobre crimes de peculato, corrupção, fraude à licitação e lavagem de dinheiro, relativos a contratos para manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinário de veículos.

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