Moradores denunciam descaso com residência terapêutica na Capital
Local recebe dinheiro do município, mas pacientes em surto transitam livremente pelas ruas da região
O que deveria ser um espaço para que pacientes psiquiátricos recebam atendimento médico necessário e tentem a ressocialização, tem se causado transtornos para moradores que vivem na Vila Planalto, em Campo Grande, e precisam conviver com as pessoas em surto transitando pela região. O lugar recebe quem não dispõe de assistência familiar.
Ao Campo Grande News, moradores que preferem não se identificar contaram que o espaço é uma residência terapêutica, mantida pela Prefeitura de Campo Grande, mas que não possui suporte necessário para atender os pacientes psiquiátricos.
“Antigamente, no local, funcionava um Caps (Centro de Atenção Psicossocial), mas há quatro anos se tornou uma residência terapêutica, por conta da lei antimanicomial. Só que não dão assistência nenhuma para quem vive ali. Os pacientes em surto tem acesso à rua ao longo de todo o dia, e os funcionários que trabalham lá não são suficientes para dar conta deles, uma vez que a maioria é homem, muitas vezes em surto”, contou uma moradora.
Ela relatou, ainda, que um dos pacientes, que possui problema psiquiátrico gravíssimo, costumava sair pelado na rua assediando as mulheres que encontrava pela frente, e que nada era feito por quem trabalha no local.
“Eu precisei sair com uma vassoura na mão e pedir que ele entrasse na casa novamente. Hoje em dia, ele fica trancado dentro da casa e não tem mais acesso à rua, mas isso mostra que os trabalhos ali são totalmente errados”, disse.

Para os moradores, a residência terapêutica deveria fornecer atividades para que as pessoas ali pudessem ocupar o tempo e não deixá-los livres para entrar e sair da casa quando bem entendem, principalmente quando estão em surto. Alguns acreditam que um espaço com esse propósito deveria estar mais afastado das áreas residenciais.
“Muitos deles batem nas casas para pedir comida e quando o morador recusa, eles ameaçam de morte, dizem que vão mandar alguém meter bala. Eu não sou contra o espaço, mas sim com a falta de cuidado em relação a eles”, contou.
Em vídeos enviados ao Campo Grande News, os moradores mostram algumas das dificuldades enfrentadas. Em um deles, que teria sido gravado há alguns meses, um homem está nú em orelhão e depois começa a andar pela rua. Em outros dois vídeos, há cantoria alta até tarde da noite e gritos emitidos pelos assistidos.

No dia 23 de junho, a Prefeitura de Campo Grande renovou o Termo de Colaboração com a Fesmact (Federação Sul-mato-grossense das Comunidades Terapêuticas), mantendo as 300 vagas existentes na Capital, divididas em 11 comunidades terapêuticas.
Ainda conforme o órgão, o programa tem como objetivo inserir as pessoas residentes nas casas na sociedade, através da efetivação de políticas públicas como educação, qualificação profissional e empregabilidade.
Por nota, a Sesau (Secretária Municipal de Saúde) informou que o local em questão se trata de uma residência terapêutica, onde moram pacientes com transtornos mentais moderados a graves e que não têm família ou apoio familiar para realizar o tratamento. Desta forma, eles residem no local e são acompanhados pela equipe do Caps Vila Almeida. Na residência, todos os pacientes possuem tratamento individualizado de acordo com suas necessidades.
Ainda segundo o texto, assim como qualquer outro morador da região, os pacientes passeiam pelo bairro, realizando suas atividades habituais e caminhadas. "Destes, todos residentes do local, um possui um quadro mais agravado que os demais, sendo que, quando está em surto, apresenta episódios de gritos e choros, contudo ele, assim como os demais, são constantemente acompanhados pela equipe do local, que é constituída por pelo menos dois cuidadores 24h por dia".
Matéria editada às 18h12 de 29 de junho para correção de informação.