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Capital

Morte de "Véio" encerra amizade selada por comida e cobertor nas ruas

Morador de rua foi encontrado morto na manhã desta terça; "foi cirrose", crava amigo mais recente do homem

Guilherme Henri | 31/05/2016 09:13
Cobertores e "corotinhos" de cachaça foram a herança deixada por "Véio" para os companheiros de rua (Foto: Marcos Hermínio)
Cobertores e "corotinhos" de cachaça foram a herança deixada por "Véio" para os companheiros de rua (Foto: Marcos Hermínio)

Dizendo-se ex-membro da Al Qaeda, técnico de enfermagem, hacker e também porteiro, Mohamed Abud, 51 anos, encontrou morto na manhã desta terça-feira (31) seu companheiro de rua, identificado como “Véio”. Os dois dormiam em frente a comércios na rua Santo Angelo, bairro Coronel Antonino, em Campo Grande, e se conheciam há dois dias. A amizade foi selada por um prato de comida e um cobertor, entregues por Mohamed.

Exalando forte odor etílico já nas primeiras horas do dia, Mohamed detalhou que, ao acordar, o amigo viu que sua barriga estava inchada e muito sangue escorria por sua boca. “Quando nos conhecemos, Véio estava com fome e me pediu comida, perto de onde dormíamos. De pronto, disse que ele se alimentasse primeiro. Foi o suficiente para que nos tornássemos companheiros”, relata.

Os dois dias de amizade, segundo Mohamed, foram tempo bastante para que ele notasse que Véio era extrovertido, alegre e uma boa pessoa. “Pelo seu cabelo e barba grisalhos, acredito que ele tinha mais de 60 anos”, disse o amigo, com dificuldade de lembrar a sua própria idade.

Na noite de ontem (30), devido à baixa temperatura, Véio se deitou na calçada para dormir, mas era evidente que passaria frio. “Ao ver a situação, pedi que ele pegasse um de meus cobertores para se aquecer. Ele relatou que costumava dormir em um abrigo, mas não sei o que o levou a não ir ao local naquela noite”, disse.

Antes de morrer, Véio ainda compartilhou um pouco de sua história com Mohamed. “Contou que estava na rua há muito tempo, pois saiu de casa após uma separação com a mulher.

A causa da morte para o então técnico em enfermagem foi uma só: cirrose. “Ele bebia muito”, afirma Mohamed, indicando dois “corótinhos” de cachaça próximos aos pertences de Véio.

Questionado sobre sua própria história, Mohamed disse que está nas ruas da Capital Morena há três meses e antes estava na Argentina. Contudo, nas histórias que contou do local, ele se arriscou a “arranhar” um outro idioma, o que diz ser espanhol e, ao ser perguntado novamente sobre onde estava, disse que veio de Londrina (PR), onde teria nascido. “Não culpo a ninguém por minha situação a não ser a mim. Mas, minha família está comigo, nas ruas”, finaliza.

O corpo de Véio foi levado para o IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) para passar por exames que indiquem a causa de sua morte. 

Mohamed Abud conhecia o morador de rua encontrado morto a dois dias e disse que ele era uma boa pessoa (Foto: Marcos Ermínio)
Mohamed Abud conhecia o morador de rua encontrado morto a dois dias e disse que ele era uma boa pessoa (Foto: Marcos Ermínio)
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