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Capital

Mortes assustam, derrubam vendas e já há quem troque a moto pelo carro

Flávia Lima | 27/07/2015 14:40
Abordagem na manhã desta segunda-feira orientou 241 motociclistas. (Foto:Divulgação)
Abordagem na manhã desta segunda-feira orientou 241 motociclistas. (Foto:Divulgação)

Dados da Agetran (Agência Municipal de Transportes e Trânsito) apontam que 70% dos mortos em acidentes de trânsito neste ano, em Campo Grande, são motociclistas.

Segundo levantamento do GGIT (Gabinete de Gestão Integrada de Trânsito), de janeiro deste ano até agora, foram registrados 42 óbitos, sendo 27 motociclistas.

Os dados impressionam quando comparados ao número de mortes de condutores, que neste primeiro semestre somaram apenas dois, além de dois passageiros e nove pedestres. Os números incluem os motociclistas que vão a óbito no hospital, no prazo de 30 dias.

O cenário é tão alarmante, que em março o Detran-MS (Departamento de Trânsito) divulgou relatório apontando que das 15 mortes registradas entre janeiro e março no trânsito de Campo Grande, dez vítimas estavam em motocicletas.

Apesar do número de vendas de motocicletas registrar uma queda acentuada desde o ano passado, os dados não refletem na redução de acidentes. Segundo a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas e Ciclomotores), de janeiro a junho de 2014, foram emplacadas em Campo Grande, 4.019 motocicletas e similares. Já no primeiro semestre de 2015 foram emplacadas 3.0473 motos na Capital, o que representa uma redução de 13,6%.

O cenário de redução foi observado no restante do Estado, que neste primeiro semestre emplacou 9.688 motocicletas contra 10,933 no mesmo período do ano passado, uma redução de 11,4%.

Para a chefe da Divisão de Educação da Agetran, Ivanise Rotta, a queda nas vendas não influencia na diminuição de acidentes devido ao grande número de motos em circulação nas ruas. Em Campo Grande, são 142 mil para uma frota de aproximadamente 370 mil veículos.

No Estado, a frota de veículos passa de 1,35 milhão. Desse total, cerca de 418 mil são motos. “Teria que ficar dez anos sem vender motos para sentirmos uma queda no índice de acidentes”, ressalta.

Ivanise destaca que o excesso de velocidade corresponde a 20% do total de multas, seguida pela condução sem CNH. “As pessoas querem sair do transporte público, mas não se organizam e acabam não tendo dinheiro para pagar auto escola ou afirmam que não tem tempo”, destaca.

Segundo ela, muitos condutores flagrados sem habilitação alegam que aprenderam a pilotar na prática, mas ela rebate a afirmação, dizendo que existem orientações que é possível aprender apenas nos cursos de formação. “Noção de direção defensiva, preferências na rotatória e os pontos cegos que devem ser observados no veículos só se aprende na auto escola”, destaca.

Como os motociclistas são considerados um grupo de vítimas do trânsito, a necessidade CNH se torna mais necessária. “Os motociclistas são tão frágeis quanto o pedestre. Em uma colisão, tem a mesma vulnerabilidade”, diz.
Todos esse quadro de periculosidade serviu para a Agetran organizar uma abordagem educativa, em alusão ao Dia do motociclista, comemorado nesta segunda-feira.

A ação aconteceu na manhã desta segunda-feira (27), na Avenida Gury Marques, na Capital e terá continuidade no período da tarde, no mesmo local. Pela manhã foram abordados 241 motociclistas, que receberam orientações e alertas quanto aos cuidados para uma condução segura.

Durante a abordagem não há aplicação de multas, segundo Ivanise Rotta, porém os agentes enfatizam as orientações aos condutores da faixa etária predominante de 18 a 35 anos. “Geralmente os jovens não tem muito essa consciência da velocidade”, diz.

Conforme estatísticas do Detran-MS, atualmente são gastos com acidentes de trânsito cerca de R$ 40 bilhões, por isso o intuito da abordagem é frisar a importância de respeitar as placas de limite de velocidade nas vias da Capital.

Apoio – Apesar de ser uma opção econômica, muitos motociclistas tem consciência do perigo que a moto representa quando as leis de trânsito não sejam obedecidas.

O problema, segundo eles, está em uma parcela irresponsável, que acaba causando os acidentes e desencoraja os condutores responsáveis. Alguns até vendem a moto e passam um tempo sem condução própria, economizando para comprar um veículo.

Responsável, o porteiro Cristiano Lourenço da Silva ficou surpreso com a abordagem e aprovou a iniciativa da Agetran, assim como o pedreiro Garibaldi dos Santos Lopes, que concorda com as autoridades de trânsito quando destacam o excesso de velocidade cometido pelos motociclistas. “Nosso trânsito é violento demais, precisamos de ações assim”, disse.

A violência no trânsito e a falta de respeito das leis por uma parcela dos condutores também deixava temerosa a manicure Fabiane Souza, que se preocupava com o marido Wagner, que utilizava a moto para trabalhar.

Para investir em negócios da família, Fabiane e o marido acabaram vendendo a moto este ano e agora o casal se organiza para comprar um carro. “O trânsito está muito difícil, não pretendemos mais ter motocicleta. A gente que tem filho se preocupa”, afirma Fabiane.

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