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Capital

Motoristas alegam armadilhas de GPS que causam acidentes

Dispositivo de geolocalização indica conversões em locais proibidos em Campo Grande

Natália Olliver | 30/06/2023 09:17
Conversão apontada no GPS, na Rua Ceará com a Rua da Paz, é irregular (Foto: Paulo Francis)
Conversão apontada no GPS, na Rua Ceará com a Rua da Paz, é irregular (Foto: Paulo Francis)

Colisões ou infrações de trânsito causadas por erros nos aplicativos de geolocalização (GPS) têm sido comuns em Campo Grande. Entre os motoristas de aplicativos o assunto é sempre levantado com indignação, principalmente por aqueles que são novos na cidade.

Um dos pontos destacados pelos entrevistados é a extensão da Rua Ceará, no cruzamento com a Rua da Paz, onde recentemente, no dia 4 de julho, a técnica de enfermagem Gilmara da Silva Canhete Baldo Bernardo, de 46 anos, morreu em um acidente. Outro ponto é no cruzamento com a Rua Euclides da Cunha.

No caso de Gilmara, a colisão não aconteceu devido a erros de GPS, mas sim por conta da conversão inadequada. Já no segundo caso, que ocorreu dias depois, na sexta-feira (16), sim.

Uma mulher, que não quis ser identificada, deixou o motociclista, Wesley Paul Franco Torres, 36 anos, ferido ao tentar fazer uma conversão proibida no cruzamento da Avenida Ceará com Rua Euclides da Cunha. A motorista alegou que não sabia que a rua seria somente para seguir em frente. A confusão teria sido causada pelo GPS, que indicou a rua como uma possível rota para chegar ao destino desejado. Ele pediu que ela virase à esquerda.

De acordo com o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPMTran), em 2023, a Capital teve 631 acidentes causados por desobediência à sinalização, o que inclui as conversões erradas. 

Paulo Pinheiro, presidente da APPLIC-MS (Associação dos Parceiros de Aplicativos de Transporte de Passageiros e Motoristas Autônomos do Mato Grosso do Sul), disse que recomenda aos motoristas que, se possível, não sigam o GPS.

“Aos motoristas novos é interessante conhecer um pouco da cidade e só fazer conversões em locais permitidos. É importante que ele conheça o trânsito, ande pelos bairros, para que na hora de transportar um passageiro possa fazer isso em segurança. Queremos paz no trânsito”, disse.

A associação tem conhecimento de 17 acidentes nos últimos 18 meses, causados por conversões erradas, feitas por motoristas de aplicativo. “Na maioria deles, o motorista estava seguindo pela preferencial”, acrescenta.

Ele também questiona a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) pela falta de sinalização específica. “Eles não colocam extremamente proibido, tem que ter canteiro, tem que ter câmeras para pessoas que fazem isso receber multas. Isso vai virar roleta-russa. Não acontece de motorista matar ninguém. Pelo contrário, eles acabam com carros danificados por motoristas imprudentes”, finaliza.

Sinalização no cruzamento da Rua Ceará com Rua da Paz (Foto: Paulo Francis)
Sinalização no cruzamento da Rua Ceará com Rua da Paz (Foto: Paulo Francis)

Locais problemáticos - Luiz Henrique, de 59 anos, é motorista de aplicativo há três anos. Ele revela que o GPS manda fazer conversões impróprias frequentemente. “Várias vezes já deu em lugar errado. Inclusive fazer a conversão em local proibido”, alerta.

Ele informou que o aparelho pede que o condutor suba a Rua Ceará e faça a conversão à esquerda na Euclides da Cunha. Já na Rua Ceará, ele indica conversão, também à esquerda, na Rua da Paz, o que é proibido. Outro exemplo, na Rua Sebastião Lima, fazer a conversão na Avenida Eduardo Elias Zahran.

“Eu não faço pela experiência de rodagem. Mas se pega um motorista de fora, tá feito a coisa. Para não falar outra palavra. E a falta de experiência de alguns motoristas que não são da cidade", conta.

Frederico Lopes, de 42 anos, também é motorista de aplicativo, ao Campo Grande News ele também comenta sobre a toda extensão da Rua Ceará e Fábio Zahran.

“Em em alguns lugares que já não pode ser feito retorno e no GPS fala que pode. O mesmo acontece com as ruas que antes eram mão dupla e agora são mão única. Como na Amazonas”, diz.

Sinalização - O Campo Grande News questionou a Agetran sobre o problema nas vias. Em resposta, a pasta disse que na Rua Ceará, por exemplo, há sinalização horizontal e vertical por toda sua extensão, bem como redutor de velocidade no viaduto com a Afonso Pena. "As placas que sinalizam a conversão proibida estão posicionadas nos semáforos", destacou.

Problemas de conversões erradas são percebidos por motoristas em Campo Grande (Fotos: Paulo Francis)
Problemas de conversões erradas são percebidos por motoristas em Campo Grande (Fotos: Paulo Francis)

Outra opinião - Kátia Francielle dos Santos, de 35 anos, é motorista de aplicativo há 8 meses. Ela ressalta que nunca teve nenhum problema com o GPS e acrescenta que só acontece o defeito se o motorista não atualiza o aplicativo.

“Quando está pra atualizar, geralmente faz armadilhas. Ele faz a gente dar voltas, manobrar, fazer contorno, mas nunca caí nessas conversões erradas”.

GPS - O que poucos sabem é que, mesmo que o motorista atualize o aplicativo, se o mapa disponibilizado pela empresa que fornece o serviço não estiver atualizado também, haverá erros. Diante do cenário, alguns motoristas questionam: se o problema causar um acidente, quem paga pelo prejuízo?

O professor e advogado especialista em Direito e Novas Tecnologias, Raphael Rios Chaia Jacob, de 42 anos, explica que a situação é complexa. ”O grande problema é que não basta atualizar, porque a base de dados que é usada no aplicativo de GPS depende da empresa. Posso estar com a última versão do aplicativo, mas se a empresa não atualizar os mapas não adianta nada”.

Ele acrescenta que há poucos casos de acidentes causados, e comprovados, por erros de GPS no país. Segundo o especialista, há uma normativa que estabelece que ninguém pode alegar ignorância das regras de trânsito e as indicações de um GPS não estão acima das regras de trânsito.

“Mesmo que indicasse uma direção errada e ele causasse um acidente, o motorista ainda continua sendo responsável. Porém, a gente não pode ignorar o fato de que o GPS pode ter sido o que influenciou a causar o acidente”, explica o advogado.

Cabe processo? Mas afinal, se um GPS for o motivo de um acidente de trânsito, cabe processar o fabricante? De acordo com Raphael, sim. Entretanto, é necessário que o condutor junte provas suficientes para sustentar o pedido. Ele destaca três pontos importantes.

“Em tese, se consegue responsabilizar a Google, por exemplo. Mas precisaria reunir razões sólidas, que convençam o juiz de que você não conhecia o local. Segundo: teria que demonstrar que a rua carecia de sinalização clara, ou não tinha; terceiro: demonstrar o erro no GPS. Se conseguir reunir, juridicamente falando, nada impede de entrar com ação contra a empresa”.

Acidente técnica de enfermagem - Na noite de quatro de junho deste ano, a motorista Tânia Barbosa Franco de Araújo Nogueira, de 48 anos, atropelou a técnica de enfermagem Gilmara da Silva Canhete Baldo Bernardo, de 46. Gilmara morreu.

A vítima trafegava na Rua Ceará quando tentou virar à esquerda para acessar a Rua da Paz, o que é proibido. Logo após realizar a curva, foi atingida pelo carro de Tânia Barbosa Franco de Araújo Nogueira, 48 anos, que vinha no sentido oposto da via.

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