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Capital

Na ala dos queimados, cuidado com as crianças tem que ser redobrado

Três dos dezesseis leitos da área são destinados às crianças. Coordenadora da ala afirma que crianças são mais sensíveis

Izabela Sanchez | 15/07/2018 10:45
Alan e Daniel, internados após acidentes que causaram queimaduras (Izabela Sanchez)
Alan e Daniel, internados após acidentes que causaram queimaduras (Izabela Sanchez)

“É horrível, não sei quando vou sair daqui”, conta a diarista Lucimara Arruda, que acompanha o bebê de 9 meses, internado na CTQ (Centro de Tratamento de Queimaduras) desde terça-feira (10). O bebê está internado após incêndio na casa onde a mãe vive com os 8 filhos. Na área destinada aos queimados mais duas crianças recebem os cuidados.

E os cuidados devem ser redobrados. Mais sensíveis e menos comunicativas, as crianças representam desafio para os profissionais de saúde que atendem os pequenos vítimas de queimaduras.

Este ano, entre janeiro e junho, já foram realizados 142 atendimentos no CTQ. Desse total, 47 foram crianças. O número de acidentes mais representativo é o causado por líquidos quentes, e é o que mais acomete crianças. O número na metade do ano já se aproxima ao do registrado durante todo o ano de 2017: 171.

Glacy Cardozo Silva é enfermeira e responsável pelo CTQ. Ela explica que os cuidados com pessoas queimadas são mais específicos, e se diferenciam de outros cuidados desde a entrada no pronto-socorro. Com as crianças, no entanto, os cuidados específicos são “redobrados”.

Além da soroterapia e banhos específicos, os pacientes recebem apoio psicológico. “O paciente com queimaduras tem tempo de internação maior, o paciente tem uma média de internação normal de 3 a 10 dias, o queimado pode chegar a 90 dias. Ele passa por uma avaliação psicológicas muito importante porque ele fica com aquele medo de como ele vai retornar pra sociedade”, comenta.

Lucimara e o bebê de 9 meses, internado na Santa Casa (Izabela Sanchez)
Lucimara e o bebê de 9 meses, internado na Santa Casa (Izabela Sanchez)

“A criança chora mais, tem maior sensibilidade, a criança precisa estar do lado da mãe. O adulto você conversa, mesmo ele estando com dificuldade, com dor, ele vai entender, a criança não, principalmente uma criança de dez meses”, relata a enfermeira, e explica que a aplicação de analgésicos pode ser maior em crianças.

Luciana da Silva, 36, é repositora e tia de Alan Dias, 11 anos. A família vive em Terenos, mas está em Campo Grande desde sábado (7). Alan brincava próximo a uma área de reciclagem quando o acidente ocorreu.

A tia denuncia a destinação incorreta dos resíduos. Isso porque os resíduos queimados foram soterrados, e Alan afundou as duas pernas no local. A criança acabou com os dois pés queimados.

“Esses dias eles queimaram lá, tinha muito fogo, muita fumaça, aí teve reclamação. Aí eu não sei quem foi lá e 'sobre terrou' as coisas que estavam sendo queimadas com terra, e ele foi brincar lá, pisou, afundou e queimou os dois pés”, contou.

Para a enfermeira, a diferença está na prevenção. “É um cuidado redobrado. O que a gente bate na tecla, principalmente com a família, que tenham cuidado. A prevenção. Vai fazer comida, não deixa cabo da panela virado para fora porque a criança põe a mãozinha e puxa, vai tomar líquido quente? Não fica com a criança no colo”, relata.

Foi justamente a falta de prevenção dos pais que causou queimaduras nas pernas de Daniel Diniz, 12. Ele estava com um colega e “queimava carrapatos” com álcool e fósforos quando o vento levou o fogo até o menino. Para o pai Ederson Lopes Camilo, 41, mecânico, a vinda de Bela Vista, onde a família vive, até o hospital – uma internação de 15 dias -, é lição aprendida.

“A gente estava em casa final de semana, e tinha os colegas e a gente estava conversando no fundo, e as mulheres dentro de casa. Estava ele e um colega. A gente tem que ter a consciência que criança é olho 24h”, afirmou.

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