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Capital

Na Capital maior que se imagina, há quem nunca pisou em shopping ou comeu sobá

Tem gente que encontrou um canto na cidade e nunca mais saiu, apesar de sonhos de conhecer lugares que ficam a 10 km de casa

Bruna Marques | 26/08/2020 07:10
Eliana Barros Lima sorri ao contar que sonha em conhecer o shopping (Foto: Paulo Francis)
Eliana Barros Lima sorri ao contar que sonha em conhecer o shopping (Foto: Paulo Francis)

Campo Grande amanhece neste 26 de agosto com aquele ar do interior, de jeitão simples. Se alguém pergunta qual a primeira coisa que vem a cabeça ao pensar nas vantagens de viver aqui, provavelmente, uma das respostas será a tranquilidade. Depois, a rapidez em ir e vir, sem trânsito. Mas nos 121 anos da cidade, essas distâncias ainda parecem enormes para muita gente.

Eliane Barros de Lima, de 38 anos, tem um brechó na varanda de sua casa, no Residencial Celina Jallad, região sul de Campo Grande e nunca foi muito longe, nem para conhecer alguns dos pontos mais famosos da Capital. Nascida em Miranda, veio para cá ainda criança e aqui criou os nove filhos, todos campo-grandenses.

Vivendo há mais de 25 anos na cidade, a dona de casa não teve muitas oportunidades. O primeiro filho nasceu aos 15 e ali começou a luta para sobreviver. Simples, o sonho ainda é conhecer um shopping e experimentar o tradicional sobá da Feira Central.

Eliana ao lado de seis dos seus nove filhos (Foto: Paulo Francis)
Eliana ao lado de seis dos seus nove filhos (Foto: Paulo Francis)

“Eu tenho muita vontade de conhecer o shopping. Acredito que lá tenha muita coisa bonita e interessante. Se tivesse a oportunidade de ir ao shopping hoje, a primeira coisa que eu faria seria lanchar, queria muito comer a batata recheada lá e o sobá da Feira Central. Mas como são muitos filhos e o gasto é maior, eu deixo isso na vontade mesmo”, explica.

Ela conta que na região tem de tudo o que os moradores precisam, lojas, mercados, farmácia e que dificilmente é necessário sair do bairro para ir ao Centro.  E mesmo se quisesse ir, a conta para ela e os 9 filhos seria de mais de R$ 80,00, só com ônibus até o shopping mais próximo, que fica a cerca de 10 quilômetros de casa.

“Tudo que eu preciso eu compro aqui por perto, a gente nunca sai pra comprar e nem fazer nada longe, sempre perto. Nossa vida é aqui, é como se Campo Grande fosse o nosso bairro mesmo” explica.

José Damião silaniza ao dizer que ainda deseja conhecer o Parque das Nações Indígenas (Foto: Paulo Francis)
José Damião silaniza ao dizer que ainda deseja conhecer o Parque das Nações Indígenas (Foto: Paulo Francis)

Parque? Só pela TV - No Jardim Inápolis, região oeste de Campo Grande, a história do cearense José Damião da Silva, de 72 anos, também segue bem distante do Centro. O aposentado escolheu a cidade como sua casa há 55 anos, mas apesar de viver aqui por mais de cinco décadas, são muitos os lugares que ele ainda não conhece.

Quando chegou aqui, em 1965, "tudo era mato". Apaixonado pela natureza e pelo cantar dos pássaros, ele diz que já passou em frente ao Parque das Nações Indígenas, mas nunca entrou para ver de perto o que tem lá dentro.

“Eu gosto muito do verde, de árvores, do ar puro, eu já vi o parque algumas vezes pela televisão, mas nunca entrei lá, só passei pela frente. Ouço as pessoas falarem bem de lá, mas tenho muita vontade de conhecer. Não sei nem o que tem lá dentro”, afirma.

Apesar de não gostar muito de sair de casa, José diz que se for para ir ao cinema ele abre uma exceção. “Você acredita que eu nunca fui ao cinema? Depois que a televisão foi inventada eu nunca me liguei muito, mas tenho curiosidade de saber como funciona”, admite.

Teolina Borges descreve Campo Grande como uma cidade acolhedora (Foto: Kisie Ainoã)
Teolina Borges descreve Campo Grande como uma cidade acolhedora (Foto: Kisie Ainoã)

Minha pequena cidade – Baiana arretada e guerreira, dona Teolina Borges Brandão, de 78 anos chegou à capital Sul-mato-grossense nos anos 90. Vivendo há 30 anos no bairro Aero Rancho, região sul de Campo Grande, foi lá que ela ajudou a cuidar de seus dois netos, filhos do único filho que teve, mas que perdeu em um acidente de trânsito há 17 anos.

Cristã, a senhorinha revela que não conhece nada da Capital e teve sua vida dedicada à igreja. “Nunca frequentei esses lugares que o povo sempre vai, a feira central mesmo, depois que ela mudou de lugar eu ainda não conheci. Tudo o que eu preciso eu tenho aqui no bairro, não preciso sair daqui nem para comprar roupa, aqui tem muita lojinhas que é mais barato que no Centro”, declara.

Teolina mora em uma casa simples, mas que traz uma imensidão de lembrança desde que chegou a Campo Grande. Ela descreve a Capital como uma cidade que a acolheu com todo amor.

“Para mim aqui é maravilhoso, uma cidade que nem essa não precisa de melhorar.  Aqui na região todo mundo me conhece, gosto muito de morar aqui, eu sempre falo que quero morrer e ser enterrada aqui nesse bairro, na minha casinha. Para mim, foi a melhor cidade que encontrei não posso me queixar de nada”, finaliza com o coração grato.

Para Júlio César de Oliveira, Campo Grande representa qualidade de vida e amor ao próximo (Foto: Kisie Ainoã)
Para Júlio César de Oliveira, Campo Grande representa qualidade de vida e amor ao próximo (Foto: Kisie Ainoã)

Um ano no meu canto - Andando pela ‘Moreninha City’, Júlio César de Oliveira Novaes, de 67 anos, conta que ganha a vida na construção civil. Morando há 36 anos no bairro, foi ali que o paulista criou seus três filhos, viu crescer os 14 netos e os três bisnetos.

Embora conheça alguns bons lugares de Campo Grande, Júlio conta que já passou mais de um ano sem "descer até o centro da cidade". É outro que se diz feliz com o que a redondeza oferece.

“Aqui não precisa sair do bairro para resolver questões bancárias, muito menos fazer compra. Já teve vezes de ficarmos um ano sem ir para a região central da cidade. Aqui tem lotérica, banco, mercado, lojas, tudo que você imaginar”, elucida.

Apaixonado por sopa paraguaia, Júlio conta aos risos que a primeira vez que experimentou a comida típica, ficou esperando por uma refeição líquida, mas que hoje o sabor é tradição que integra a família, assim como a cidade.

“Campo Grande que me escolheu, eu vim para ter oportunidade de emprego e fiquei. No começo estranhei bastante, mas agora a minha vida e a minha casa é aqui. Não saio daqui pra nada, mais de 10 anos que não volto para a minha cidade natal”, afirma.

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