Na luta contra fome, igreja faz o milagre da refeição digna para 580 famílias
“Você acha que a pessoa passa 3h na fila só para pegar comida se não precisar?”, diz padre
Na última terça-feira, o padre Jesudhas Fernando, 77 anos, da Paróquia Nossa Senhora Medianeira das Graças, na Vila Popular, chorou ao se deparar com o flagelo da fome. Pela rua, avistou uma mulher que saiu pedindo de porta em porta. Ela conseguiu arrecadar apenas uma pera para alimentar os três filhos.
Na própria casa, ela abriu a porta da geladeira e mostrou ao padre o pouco de arroz e salada da última refeição digna da família. A comida era de sábado e oriunda do projeto social da paróquia, que toda semana garante alimento no prato.
Hoje, a distribuição de 580 refeições foi resultado de 50 quilos de arroz, 20 quilos de feijão, 20 quilos de macarrão, 15 quilos de farofa, 30 quilos de frango e a imensurável disposição de quem sai de casa para ser voluntário.
O casal Fidel Martinez, 45 anos, e Rosângela Quintana, 41 anos, se conheceu na igreja em 1996 e se dedica ao voluntariado. Ele explica que para buscar o alimento, distribuído todos os sábados, a partir das 11h, não é necessário fazer cadastro.
Basta levar a vasilha, informar quantas refeições quer levar e aguardar na fila. O projeto “Amor Solidário” atende moradores de bairros como Portal Caiobá, Santo Antônio, Jardim Inápolis e até mesmo do mais distante Nova Lima.
O padre conta que a iniciativa nasceu em abril de 2020, no começo da pandemia. A maior procura foi em fevereiro do ano passado, quando foram distribuídas 900 refeições por sábado.
“O projeto surgiu por causa da necessidade do povo. Aqui não tem pobre, tem necessitados. Quando o governo acordar para essa necessidade, isso pode acabar. Na primeira distribuição, 225 pessoas participaram”, diz.
Natural da Índia, o padre já passou por Bandeirantes e Ribas do Rio Pardo. Além do alcance, a ação social exige abrir mão de julgamentos. Há pessoas que se desligaram do projeto porque duvidavam da necessidade de quem surgia trajando roupas melhores, mas em busca de comida.
“Você acha que uma pessoa passa três horas na fila, debaixo de sol só para pegar comida se ela não precisar?”, questiona o padre.
Dona de casa, Adriana Araújo, 23 anos, garantiu hoje a refeição para ela, esposo e quatro filhos, com idades de 1,3, 8 e 10 anos. “Todo sábado eu venho porque essa refeição ajuda muito nas despesas. O preço do alimento está muito caro. Além desse almoço, recebo o sacolão”. O marido de Adriana trabalha num frigorífico.
O aposentado Mario Cariones, 74 anos, elogia a comida e a atenção. Agora, ele mora na Vila Popular, mas quando era morador no Portal Caiobá pegava três ônibus até à paróquia. Idoso, ele tem gratuidade no transporte coletivo. “A refeição é muito boa e sou sempre muito bem atendido”.
A paróquia fica localizada na Av. José Pereira, 372, Vila Popular, em Campo Grande.
#matéria atualizada às 15h08 do dia 28 de agosto para correção do endereço.